Apenas dois dias depois de ter feito 19 anos, Rafael Nadal, até aí um jovem promissor espanhol que estava talhado para entrar no espaço dos melhores entre os melhores, ganhou o seu primeiro Grand Slam, em Roland Garros. A terra batida era o seu piso preferido mas poucos poderiam imaginar que se tornaria uma autêntica terra sagrada. Em 2020, com 34 anos, chegava à terceira final frente a Novak Djokovic que não tinha perdido nenhum jogo neste ano civil (apesar da desqualificação na quarta ronda do US Open), lutava pelo 13.º título e procurava aquela que poderia ser a 100.ª vitória no Major francês tendo realizado ao longo da carreira… 102 encontros.

Ao longo de década e meia, o espanhol conseguiu uma caminhada épica sem igual na história do ténis. Ganhou em 2005 (Mariano Puerta), em 2006 (Roger Federer), em 2007 (Roger Federer), em 2008 (Roger Federer), em 2010 (Robin Söderling), em 2011 (Roger Federer), em 2012 (Novak Djokovic), em 2013 (David Ferrer), em 2014 (Novak Djokovic), em 2017 (Stanislas Wawrinka), em 2018 (Dominic Thiem), em 2019 (Dominic Thiem). 12 edições, sete jogos em cada, 84 vitórias no total só nessas edições. Perdeu apenas na quarta ronda de 2009 frente ao sueco Robin Söderling e nos quartos de 2016 diante de Novak Djokovic, sendo que em 2017 foi obrigado a desistir na terceira ronda por motivos físicos sem ter entrado em campo. Agora, pelo adversário, pelo momento que estava a atravessar e até pela derrota nos quartos do Open de Roma com Diego Schwartzman, enfrentava aquele que seria um duelo mais disputado do que todos os outros. No final, acabou por ser das finais mais desequilibradas.

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Com um triunfo arrasador frente a um Djokovic a cometer muito mais erros diretor e não forçados do que é normal, e às vezes a dar sinais de que não estaria nas melhores condições, Rafa Nadal igualou o número de Grand Slams de Roger Federer (20), somando aos 13 triunfos em Roland Garros (o máximo até ao espanhol tinham sido oito de Max Decugis na era amadora e seis de Björn Borg na era Open) mais quatro no US Open, dois em Wimbledon e um no Open da Austrália, onde poderá em 2021 ultrapassar o suíço que recupera de lesão.

O início dificilmente poderia ser mais forte por parte de Rafa Nadal, num encontro que confirmou estarem no court os dois melhores da atualidade (e dois dos melhores de sempre) mas que terminou com um resultado surpresa no primeiro set: o espanhol começou por quebrar o serviço ao sérvio, segurou depois o seu serviço nas vantagens (em dois jogos que demoraram 15 minutos…), conseguiu novo break num terceiro jogo que arrancou com um ponto com 15 pancadas, salvou três breaks do número um mundial para fazer o 4-0, aproveitou a quebra do adversário para ganhar pela terceira vez no serviço do adversário e fechou a inesperada “bicicleta” em 6-0.

Durante 45 minutos, Nadal nem teve uma diferença tão grande a nível de winners mas Djokovic foi somando erros não forçados em catadupa que a consistência do espanhol não perdoou. E demorou até ao sérvio ganhar o seu primeiro jogo de serviço, tendo de ir às vantagens para alcançar aquilo que se chegou a pensar ser um momento de viragem na final. Não foi. Pelo contrário: o espanhol chegou ao 3-1 com mais um break e voltou a pressionar o adversário num jogo que seria determinante para o desfecho do segundo set, levando a partida para vantagens antes de somar o quinto break no serviço do número um mundial e aumentar para 4-1. Djokovic segurou depois o seu serviço mas Nadal fechou em 6-2 com uma curiosidade estatística: acabou com menor percentagem de primeiro serviço, menos winners (14-11) e menos pontos na rede mas muito menos erros forçados (17-4).

Se Nadal era cada vez mais um jogador confiante, Djokovic mostrava o seu desalento por ter melhorado de forma ligeira (ainda abaixo do normal) sem qualquer resultado prático. E isso era particularmente visível na maneira como tentava resolver os pontos o mais cedo possível, algumas vezes a forçar e a dar pontos quase “de borla” ao adversário. No entanto, a margem era cada vez menor e, entre jogos em vantagens, o sérvio conseguiu segurar os dois primeiros encontros de serviço do terceiro set, algo até aí nunca visto. De pouco serviu: apesar da pressão no espanhol com um 0-30 no quarto jogo, Nadal mostrou que não abrandara aquela mentalidade competitiva que o coloca acima de todos os outros, fazendo o 2-2 e arrancando para a vitória por 7-5 apesar de ter sofrido pela primeira vez um contra break do sérvio que igualou então a partida a três e deu mais luta.