“Testei negativo para a Covid ontem e positivo hoje. Não tenho sintomas nenhuns. A Covid teve a coragem de me desafiar. Má ideia”. Foi assim, completamente à sua imagem, que Zlatan Ibrahimovic anunciou no final de setembro que tinha testado positivo. O avançado sueco falhou os jogos da Serie A com o Crotone e o Spezia, falhou os jogos da Liga Europa com o Bodø/Glimt e o Rio Ave que garantiram a passagem do AC Milan à fase de grupos da competição e aproveitou a pausa para as seleções para recuperar definitivamente. Esta sexta-feira, Stefano Pioli confirmou que Ibrahimovic estava de regresso.

“Ele teve esse problema mas encontrei-o agora como sempre. A sorrir, determinado e generoso. Está bem, mas só teve uma semana de treinos. Agora, está pronto para jogar”, disse o treinador do AC Milan na antevisão do primeiro dérbi de Milão da época, este sábado, contra o Inter. Menos de um mês depois, o avançado estava de volta aos relvados e já trazia nas costas mais um ano de experiência, já que completou 39 anos no início do mês.

O jogo de regresso não podia ser melhor. Num Giuseppe Meazza com cerca de mil adeptos nas bancadas, o Inter apresentava-se como anfitrião de um AC Milan que não ganhou nenhum dos últimos cinco dérbis da cidade — que tiveram, em oposição, quatro vitórias dos nerazzurri. Apesar desse historial e de nos últimos anos o Inter ter estado muitos furos acima do AC Milan, a verdade é que a equipa de Stefano Pioli surgia este sábado com o seu quê de favoritismo graças ao que tem vindo a fazer desde o início da época. Se a equipa de Antonio Conte leva duas vitórias e um empate na Serie A, o AC Milan leva três convincentes vitórias consecutivas e pelo meio ainda carimbou o tal passaporte para a fase de grupos da Liga Europa.

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Com Rafael Leão no onze inicial ao lado de Ibrahimovic e Diogo Dalot, reforço dos rossoneri no mercado de verão, no banco de suplentes, o ACMilan enfrentava um Inter com a habitual dupla ofensiva, Lautaro e Lukaku, e novamente com Eriksen longe da titularidade —o dinamarquês que, nesta pausa para as seleções, deixou algumas farpas a Conte sobre o facto de jogar pouco e ser pouco utilizado depois de todo o esforço que o clube fez para o contratar ao Tottenham na época passada.

O jogo dificilmente poderia ter começado melhor para o AC Milan. Em três minutos e ainda antes de estarem cumpridos os 20 minutos iniciais, Ibrahimovic mostrou que está realmente de regresso e marcou dois golos. Primeiro, bateu Handanovic na recarga de uma grande penalidade que começou por falhar e que ele próprio havia conquistado (13′); depois, marcou de primeira, ao segundo poste, na sequência de um passe absolutamente brilhante de Rafael Leão a partir da esquerda (16′). E com estes dois golos, igualou Silvio Piola, avançado nas décadas de 30 e 40, como o jogador que mais vezes marcou mais de dois golos num jogo da Serie A depois dos 38 anos (quatro).

Depois do segundo golo do avançado sueco, o Inter reagiu e encostou o AC Milan ao próprio meio-campo. A resposta mais efetiva acabou por surgir já perto da meia-hora, com Lukaku a reduzir a desvantagem com um desvio simples depois de uma grande jogada de Perisic na esquerda (39′). O avançado belga, que marcou mais dois golos pela seleção na última semana, ainda teve outras duas oportunidades para empatar e responder diretamente a Ibrahimovic mas o resultado acabou mesmo por ir para o intervalo com a vantagem do AC Milan.

FC Internazionale v AC Milan - Serie A

Rafael Leão foi titular no AC Milan e assistiu Ibrahimovic para o segundo golo do sueco

Na segunda parte, a equipa de Pioli conseguiu recuperar algum do ímpeto e da presença ofensiva que tinha perdido na última fase do primeiro tempo e causou muitos problemas ao setor mais recuado do Inter. Çalhanoglu, principalmente, estava a assinar uma boa exibição e era o grande desequilibrador do meio-campo do AC Milan, a atuar nas costas de Ibrahimovic e a descobrir linhas de passe nos corredores tanto para Leão como para Saelemakers. Os rossoneri não estavam a imprimir grande velocidade no jogo, até porque não lhes interessava, e só aplicavam mais intensidade na hora da transição rápida e do contra-ataque. Do outro lado, o Inter mostrava mais dificuldades para entrar no último terço adversário mas estava claramente mais pressionante, a reagir mais rápido à perda da bola e a subir as linhas para não permitir grandes espaços.

Rafael Leão foi substituído por volta da hora de jogo, já depois de ter rematado ao lado e ter ficado muito perto de aumentar a vantagem do AC Milan, e o Inter foi empurrando o adversário para trás, passando a atuar praticamente por inteiro no meio-campo da equipa de Pioli. O conjunto de Conte pressionava alto, anulava eventuais contra-ataques com faltas inteligentes e procurava o empate, ainda que com pouca capacidade para criar oportunidades reais e entrar com perigo dentro da grande área.

Eriksen entrou para o lugar de Brozovic a pouco mais de 20 minutos do fim, Krunic ficou muito perto de fazer o terceiro do AC Milan mas atirou por cima (72′) e ainda foi assinalada uma grande penalidade de Donnarumma sobre Lukaku, numa decisão que acabou revertida depois de o VAR concluir que o contacto foi promovido pelo avançado e não pelo guarda-redes. O resultado não voltou a alterar-se e o AC Milan venceu o Inter depois de cinco dérbis sem conseguir ganhar, chegando às quatro vitórias em quatro jornadas na Serie A e assumindo a liderança da liga italiana. Com base em Ibrahimovic e a gasolina de jogadores como Leão e Çalhanoglu, esta equipa de Stefano Pioli está cada vez mais a tornar-se o AC Milan que todos conhecíamos e que há anos desapareceu do radar do futebol europeu.