Sob a liderança de Luca de Meo, o novo CEO da Renault, a marca francesa está apostada em reforçar o investimento em veículos eléctricos, o que implica um esforço considerável, especialmente num momento que as vendas colapsaram devido à pandemia. Daí a necessidade de reduzir custos, o que passa por despedir trabalhadores e fechar fábricas, ou dar-lhes outros destinos, mais adaptados aos modelos e tecnologias que é necessário produzir.

Flins, a apenas 45 km de Paris, é uma fábrica emblemática para o construtor francês, onde nos últimos tempos se produziu o Renault Zoe e a actual versão do Nissan Micra. De Meo vai transferir a produção do Zoe para a fábrica de Douai e o Micra para as fábricas que já produzem o Clio, enquanto a produção do próximo eléctrico, o Mégane eVision, deverá ser deslocada para fora de França.

O mais curioso é o destino que a Renault pretende dar a Flins que, em vez de fabricar carros novos, passará a concentrar-se em recuperar o que é velho, mas altamente valioso. Redenominada Re-Factory, Flins vai ficar dedicada à mobilidade, com quatro áreas de especialidade. A Re-Trofit vai responsabilizar-se por recondicionar veículos antigos e converter os antigos motores de combustão em soluções menos poluentes, enquanto a Re-Energy se concentrará em desenvolver o potencial das baterias. Suportando igualmente o projecto estará a Re-Cycle, cujo objectivo principal é reciclar e reutilizar materiais, bem como a Re-Start, a quem cabe fazer evoluir a tecnologia industrial e acelerar a pesquisa e inovação ao serviço da economia circular.

Luca de Meo espera que esta sua Re-Factory venha a permitir ao grupo francês reduzir as emissões e atingir um valor global negativo em 2030, com as modificações nas instalações a começarem em 2021, estando previstas serem concluídas em 2024. Muitos dos actuais 2600 trabalhadores de Flins não deverão ter lugar no novo projecto – a fábrica chegou a ter quase 20 mil funcionários nos anos 70 –, mas o gestor espera chegar a 2030 com 3000 trabalhadores no activo.

Nada disto entusiasma os sindicatos, a começar pelo poderoso CFDT, que acusa a Renault de “não poder destruir capacidade produtiva e, simultaneamente, receber ajudas do Estado”. Contudo, para uma fábrica que que passou de 20 mil empregados para apenas 2600 e que há 50 anos fabricava 20 modelos e agora apenas dois, o mais provável é que esta reconversão em Re-Factory seja a sua salvação, bem como dos postos de trabalho, durante mais umas décadas.

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