Não se deixe confundir pela denominação Scénic do mais recente modelo da Renault, uma vez que o novo SUV da marca francesa recuperou a designação do monovolume que conhecemos de 1996 a 2022. O nome é já conhecido na Renault, mas o mesmo não acontece com a filosofia, uma vez que o Scénic evolui de monovolume (tipo de carroçaria hoje em desuso) para a solução da moda, os SUV. Porém, as opções da marca francesa não ficaram por aqui.



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Para avançar com o Scénic em versão SUV — apesar de se poder catalogar como crossover, uma vez que o construtor optou por conceber o modelo mais baixo, para optimizar a aerodinâmica e melhorar a eficiência —, a Renault não só reduziu a distância ao solo, como diminuiu a altura total. Com isto, baixou também o peso, que nos veículos eléctricos é o maior inimigo do consumo e da autonomia, chegando praticamente a bater a Tesla, uma vez que o Model Y com um só motor e bateria de 60 kWh pesa 1984 kg, contra 1822 kg do Scénic com bateria de 60 kWh, valor que sobe para 1917 kg se equipado com o acumulador de 87 kWh, apesar do SUV francês ser mais curto.

Viva a dieta. Combate ao peso é determinante

Para conter o peso do SUV Scénic, a Renault optou por uma plataforma específica para modelos eléctricos a bateria, sem possibilidade de instalar motores a combustão. Com isto, os técnicos franceses pretenderam optimizar as vantagens das plataformas dedicadas a modelos a bateria, ao desenhá-lo com uma frente mais curta, dado que não necessita de prever a instalação de conjuntos (mais volumosos) de motores a combustão e caixas de velocidades, o que permite dotá-lo com uma maior distância entre eixos (2,785 m), apesar do comprimento total ser inferior (4,47 m), com vantagem para o peso.

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A plataforma utilizada é a CMF-EV da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi — agora rebaptizada AmpR Medium, tendo sido alvo de uma evolução, de acordo com a marca —, a mesma que já foi a utilizada pela Nissan no Ariya, SUV que é 12 cm mais comprido, mas 1 cm mais curto entre eixos, sendo simultaneamente 1 cm mais estreito e 9 cm mais alto, o que transmite um ar mais encorpado, mas é menos bom para a aerodinâmica. Este maior comprimento do Nissan, sem que o espaço habitável e a bagageira usufruam positivamente, explica as opções da Renault, que assim conseguiu um peso de apenas 1822 kg na versão com a bateria mais pequena (60 kWh de capacidade) e 1917 kg com a maior (87 kWh), com o Ariya a acusar sobre a balança mais 202 kg com as mesmas especificações de motor e acumulador. Isto, associado a um S.Cx mais favorável, explica que o Scénic com a bateria de 87 kWh anuncie uma autonomia superior em 87 km, o que equivale a um ganho de 16%. E esta vantagem do Scénic face ao Nissan Ariya repete-se contra outros rivais.

As linhas exteriores do Scénic revelam a nova imagem da Renault, que já foi adaptada ao renovado Captur, com o Clio a seguir em breve a mesma receita. Atraente e com personalidade, o novo estilo caracteriza-se por uma nova grelha “tapada” e decorada com pequenos losangos, que faz conjunto com grupos ópticos LED e uma assinatura luminosa que parece herdada do Clio. A lateral é mais baixa do que o habitual nos SUV, daí que o Scénic quase possa ser catalogado como crossover, com uma traseira curta e descendente, para lhe reforçar um certo ar dinâmico.

Grande por dentro, mas pequeno por fora

Depois de conceber o Scénic mais leve do que seria de esperar, a Renault concentrou-se em dotá-lo de bons níveis de habitabilidade e espaço para bagagens. A vantagem de não poder montar motores de combustão permitiu desenhar uma frente mais curta e privilegiar o espaço interior, com o Scénic a exibir uma distância entre eixos (2,785 m) superior à do Austral (2,667 m) e até do Espace (2,738 m), sendo que esta medida tem uma correspondência directa com o espaço para as pernas de quem se senta atrás.

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Quanto à bagageira e apesar da reduzida distância entre a roda posterior e a extremidade do para-choques, o Scénic disponibiliza 545 litros para malas, valor que pode evoluir até 1670 litros com o rebatimento do assento posterior. Isto coloca o novo SUV eléctrico ao nível do Austral (555 litros), apesar da presença das baterias e da suspensão mutilink traseira no Scénic, em vez do mais simples e menos volumoso eixo semi-rígido do Austral.

Dois motores e duas capacidades de bateria

No que toca aos motores e baterias a instalar no Scénic, a Renault voltou a ter decisões estratégicas. É certo que alguns condutores, sobretudo os de marcas premium, procuram modelos eléctricos com dois motores para elevar a potência e usufruírem, com um investimento relativamente pequeno, de 400 ou mais cavalos e a correspondente (e emocionante) capacidade de aceleração. Mas a realidade é que, para a maioria, 200 cv são mais que suficiente, tanto mais que os veículos eléctricos são particularmente sensíveis à pressão no acelerador. Ainda no capítulo das opções, a Renault decidiu que o Scénic não irá oferecer versão 4×4, não estando prevista uma versão equipada com um segundo motor no eixo traseiro, de modo a garantir tracção integral. Afirma a marca que não só isto permite reduzir o peso e o custo do SUV, como a esmagadora maioria dos clientes não necessita de uma transmissão 4×4.

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São propostas apenas duas motorizações (ambas produzidas pelos franceses), uma com 170 cv e 280 Nm e outra mais potente com 218 cv e 300 Nm, sendo que a primeira está associada à bateria mais pequena, com 60 kWh de capacidade, ficando o acumulador maior, com 87 kWh (que é apenas 104 kg mais pesado, atingindo 515 kg), exclusivo do motor mais potente. Os 48 cv adicionais do Scénic mais potente, além de uma questão de imagem e da necessidade de distanciar as duas versões, destinam-se a compensar o peso adicional dos 27 kWh na bateria, ainda assim incrementando a rapidez na aceleração da versão mais potente e, por tabela, dispendiosa.

Ambos os motores são fabricados pela Renault em França e sem ímanes permanentes para não necessitar de terras raras, matéria-prima controladas pela China. Simultaneamente, os packs de baterias são montados em França com as células a serem produzidas pela LG na Polónia, com uma química NMC evoluída em relação às até aqui utilizadas pelo Mégane E-Tech, tanto mais que trabalham a uma temperatura 15ºC inferior, tendo baixado de 35ºC para 20ºC, optimizando a longevidade.

Em breve, a Renault vai arrancar em França com a produção das suas próprias células, que os responsáveis pela marca garantem que serão mais eficientes e a recarregar com potências superiores (a bateria de 60 kWh recarrega a 130 kW em DC e de 7 a 22 kW em AC, com o acumulador de 87 kW a ir até aos 150 kW, mantendo o desempenho em AC).

Como é por dentro?

A menor altura do Scénic não belisca a facilidade de entrar a bordo, à frente ou atrás, com o espaço, uma vez lá dentro a ser bom, especialmente atrás. Os bancos anteriores são envolventes e exibem um design desportivo nas versões mais sofisticadas, as Esprit Alpine e a Iconic, com o revestimento dos assentos e do restante habitáculo a ficar a cargo de materiais recicláveis (90%), para 24% serem recuperados através da economia circular.

Para tornar o habitáculo mais agradável e oferecer uma maior distância ao tejadilho, o Scénic recorre ao SolarBay, um tejadilho em vidro panorâmico que se estende ao longo de todo o habitáculo e que pode escurecer electricamente por acção de um botão, funcional para aqueles dias mais quentes. Ainda no capítulo do conforto, de realçar que o favorecer dos materiais recicláveis não impediu a marca de continuar a utilizar aplicações em madeira verdadeira nas versões mais luxuosas.

O design interior é clean, sem ser minimalista, ajudando à sensação de espaço interior mas sem transmitir a sensação de ser “baratinho”. O volante cai bem na mão, com a direcção a dar apenas 2,34 voltas entre extremos, um valor muito baixo e que facilita as manobras, para o condutor ter à sua frente um painel de instrumentos digital horizontal e um ecrã central vertical de grandes dimensões, através do qual é possível controlar 30 sistemas de ajuda à condução (ADAS), dependendo das versões. Este ecrã central com o sistema OpenR Link mantém-se fiel ao Android Automotive da Google, o melhor do mercado juntamente com o da Tesla, que no Scénic recorre ainda à inteligência artificial para o tornar mais eficiente e rápido. O construtor explica contudo que, ao contrário do que aconteceu no R5, o Scénic não vai recorrer a um avatar, por a marca não acreditar que este seja um argumento interessante neste segmento.

Como é ao volante?

Conduzimos o novo Renault Scénic nos arredores de Málaga, cujas estradas de montanha nos permitiram constatar as vantagens anunciadas em termos de comportamento. O facto de ser o mais baixo dos SUV e ter apenas uma altura ao solo de 145 mm, explica a agilidade e o comportamento eficaz. Este é ainda consequência da marca ter decidido montar uma suspensão traseira independente do tipo multilink, também ela a potenciar a eficácia.

Apesar de na região não abundarem pisos degradados, esforçámo-nos para encontrar estradas em estado de conservação menos bom, tudo para confirmar que não só o ruído de rolamento é mínimo — os vidros a toda a volta com película insonorizante ajudam —, como o conforto é acima da média, sem que o modelo tenha que recorrer a suspensões muito duras.

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Em cidade, o Scénic na versão com 218 cv e bateria de 87 kWh atingiu 16,2 kWh/100 km de média, depois de em estrada (a 90 km/h) ver a média descer para 15,1 kWh/100 km, o que deixa antever uma autonomia de 580 km nestas condições, numa utilização real. De recordar que o Scénic promete 430 km de autonomia para a bateria de 60 kWh e 625 km para a bateria de 87 kWh, tendo o SUV a capacidade de rebocar até 1100 kg (c/travões) em ambas as versões.

O preço é determinante, mas não só

Com as encomendas já abertas, as primeiras unidades do Scénic chegarão ao nosso país em Junho, com os preços a arrancarem nos 40.690€ para a versão com 170 cv e bateria de 60 kWh e 46.500€ para a versão com 220 cv e acumulador com 87 kWh de capacidade. Além desta versão mais acessível, denominada Evolution, o Scénic é ainda oferecido na versão Techno (43.490€ para o Scénic 170 cv e 60 kWh e 49.300€ para o 220 cv e 87 kWh), sendo que a bateria mais pequena é apenas comercializada nestas duas versões. As versões mais bem equipadas são as Esprit Alpine e a Iconic, por esta ordem e ambas disponíveis com o motor mais possante e a bateria maior. A primeira é proposta por 51.250€ e a segunda por 52.650€.

A Renault chama a atenção para o facto de o Scénic oferecer uma das melhores relações preço/autonomia do mercado, ao prometer 625 km entre carregamentos por valores a partir de 46.500€.