A rede social Twitter bloqueou temporariamente na segunda-feira mais de duas centenas de contas de utilizadores na Índia, a pedido do governo indiano, incluindo de sindicalistas e agricultores que protestam contra a liberalização do setor, bem como de alguns órgãos de comunicação social.

Segundo a Agência Lusa, Fonte do Ministério das Tecnologias de Informação disse à agência de notícias France-Presse (AFP) que o governo pediu ao gigante tecnológico para tomar medidas contra cerca de 250 contas no Twitter, com o argumento de que representam uma “séria ameaça à ordem pública”.

Algumas contas foram bloqueadas durante várias horas na segunda-feira, antes de ficarem novamente acessíveis.

Entre os utilizadores que viram as suas contas bloqueadas contam-se ativistas, representantes sindicais de agricultores, líderes da oposição, jornalistas, um ator e um especialista económico.

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Desde 26 de novembro, dezenas de milhares de agricultores, na sua maioria do estado do Punjab, têm vindo a manifestar-se na periferia de Nova Deli, em protesto contra reformas governamentais que liberalizam o setor. Uma manifestação em Deli, na semana passada, degenerou em confrontos violentos entre agricultores e a polícia. Desde então, as forças de segurança detiveram dezenas de agricultores e um jornalista da revista Caravan.

Um porta-voz dos agricultores disse que “nada de repreensível” pode ser atribuído às contas bloqueadas, a não ser o apoio aos protestos, que decorrem há meses.

O chefe de redação da revista Caravan, Vinod K. Jose, disse que este é “o mais recente de uma longa lista de ataques” pelas autoridades contra as reportagens da publicação.

A organização não-governamental (ONG) Repórteres sem Fronteiras condenou o bloqueio, considerando-o “um caso chocante de censura flagrante”. “Ao ordenar estes bloqueios, o Ministério do Interior está a comportar-se como um Ministério da Verdade orwelliano, que quer impor o seu próprio relato dos protestos dos agricultores”, acrescentou.

Por seu lado, uma porta-voz do Twitter argumentou que “pode ser necessário recusar de tempos a tempos o acesso a alguns conteúdos num determinado país”, se for feito um pedido “devidamente delimitado”, em declarações à AFP.

Segundo a organização não-governamental Human Rights Watch, pelo menos oito jornalistas que cobriam os protestos foram acusados de vários crimes, incluindo sedição e conspiração. “A resposta das autoridades indianas aos protestos tem-se focado em desacreditar manifestantes pacíficos, assediar críticos do governo e perseguir quem noticia os eventos”, acusou esta terça-feira a ONG, em comunicado.

A Índia recorre regularmente ao bloqueio do acesso à Internet, para limitar a partilha de informação, tal como aconteceu na semana passada nos locais de protestos dos agricultores. O país ocupa o 142.º lugar no índice da liberdade de imprensa dos Repórteres Sem Fronteiras de 2020, num total de 180 países.

Os agricultores reclamam que o governo revogue leis que liberalizam tanto os preços de venda como a quantidade de algumas colheitas vendidas. A situação obriga os agricultores a negociarem os preços com grandes empresas da cadeia de distribuição.

O governo indiano, que chegou a propor uma moratória de 18 meses na aplicação das leis rejeitada pelos sindicatos, defendeu a reforma, afirmando que permitirá aos agricultores negociar nos seus próprios termos. Os agricultores dizem, no entanto, que os diplomas os deixam indefesos e nas mãos das grandes empresas.