A UNITA, principal partido da oposição em Angola, reforçou a exigência de um inquérito independente à “matança” no Cafunfo, província da Lunda Norte, pela qual responsabiliza as forças de segurança e o partido no poder, MPLA.

Em comunicado, o Comité Permanente da Comissão Política da UNITA, afirma ter analisado em reunião extraordinária, alargada aos membros do Conselho Presidencial, os desenvolvimentos no Cafunfo, onde terão morrido mais de uma dezena de pessoas, numa manifestação a 30 de janeiro, segundo partidos políticos da oposição e sociedade civil local.

No comunicado, a UNITA afirma que o seu líder Adalberto Costa Júnior renunciou à nacionalidade portuguesa, rejeitando a qualificação de “estrangeiro” usada pelo Bureau Político do MPLA.

A UNITA não pode aceitar os ataques de xenofobia e racismo vindos do Bureau Político do partido no poder. (…) O actual Presidente da UNITA, filho de angolanos, nascido em Angola, havia como muitos, senão, a maioria dos dirigentes que governam este país, desde 1975, adquirido a nacionalidade portuguesa, mas da qual renunciou, como já é de domínio público”, refere o comunicado.

“O comunicado do Bureau Político do partido que governa não fez senão destilar ódio, semear discórdias, desviando as atenções da opinião pública nacional e internacional (e) reflecte algum nervosismo resultante da extrema exposição causada pela incapacidade de atender às aspirações dos cidadãos e pelo massacre de Cafunfo levado a cabo pelas forças de defesa e segurança, cujas ordens partiram de membros com assento nesse Bureau Político”, adianta a UNITA.

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Na versão da polícia angolana dos acontecimentos de 30 de janeiro, cerca de 300 pessoas ligadas ao Movimento do Protetorado Português Lunda Tchokwe (MPPLT), que há anos defende a autonomia daquela região rica em recursos minerais, tentaram invadir uma esquadra policial e em defesa as forças de ordem e segurança atingiram mortalmente seis pessoas.

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Nos últimos dias, cinco deputados da UNITA tentaram chegar ao Cafunfo, mas afirmam terem sido travados pelas autoridades e retrocederam para a vila do Cuango. No comunicado divulgado, a UNITA afirma que “a proibição da entrada da missão dos deputados e da activista cívica (Laura Macedo) na vila de Cafunfo e toda a humilhação e privações a que foram submetidos são a mais inequívoca e definitiva confirmação do massacre perpetrado pelas forças de defesa e segurança contra manifestantes”.

A UNITA reitera a exigência de um inquérito independente aos incidentes do final de janeiro e deplora ainda a “falta de solidariedade” demonstrada pelo Presidente da Assembleia Nacional que “abandonou os cinco deputados da UNITA à sua sorte, retidos, detidos e impedidos de se alimentar, matar a sede e até da sua higiene pessoal por vários dias”.

A postura do Presidente da Assembleia Nacional, mais uma vez, prova a condição de subalternização e falta de dignidade da Assembleia Nacional, agravada com a perda da sua autonomia administrativa e financeira, o que remete os órgãos da casa das leis numa condição de mera instrumentalidade” do presidente, adianta.

Manifesta ainda preocupação com “a utilização abusiva dos órgãos de comunicação social sob controlo do Executivo, que assumiram invariavelmente o papel de juízes, condenando os manifestantes de Cafunfo, com base única nas declarações parciais do Ministro do Interior e do Comandante Geral da Polícia, bem como a propaganda baixa e os ataques despropositados e mentirosos que são levados a cabo contra a UNITA e a sua Direcção, muito particularmente o seu Presidente, Adalberto Costa Júnior, esquecendo o princípio do contraditório”.

“A UNITA não aceita ser transformada em bode expiatório dos problemas de desgovernação do regime, nem da incapacidade congregadora do Presidente da República João Lourenço”, refere.

No comunicado, a UNITA saúda a “mobilização da Igreja de Angola e da Sociedade Civil que, assumindo uma postura de elevação moral e ética, sem quaisquer reservas, condenaram a barbaridade ocorrida em Cafunfo” e pede que continuem a exercer junto dos Órgãos de Defesa e Segurança do país, “uma acção pedagógica e de apelo, com vista a promoção e protecção da dignidade da pessoa humana, em todas as circunstâncias”.