Quase 30 anos depois de lançado o “sonho”, com a aquisição do terreno no centro da Praia, o Banco de Cabo Verde (BCV) inaugurou a sua sede, desenhada por Siza Vieira e considerado o mais moderno edifício do país.

“A sede do BCV será, sem lugar para dúvidas, a obra arquitetónica de referência em Cabo Verde, e no mesmo passo estará à altura dos desafios que o sistema financeiro enfrenta”, afirmou o governador do banco central, Óscar Santos, na cerimónia de inauguração da nova sede, que espera que represente também “uma nova etapa” nos 45 anos de vida da instituição.

“Um sonho de há quase 30 anos e que hoje se torna realidade“, reconheceu o governador do BCV, afirmando que o edifício, construído por mais de 20 milhões de euros na Achada de Santo António, centro da Praia, junto à Assembleia Nacional e a várias representações diplomáticas, “contribuirá decisivamente para o reforço institucional” do banco central.

Pelas suas características e dimensão valorizará, com certeza, não só o Banco de Cabo Verde, mas também a cidade da Praia e porque não Cabo Verde”, afirmou Óscar Santos, presidente da Câmara da capital até às eleições de outubro – em que falhou a reeleição – e que assumiu o cargo de governador do banco central em janeiro.

As obras do novo edifício sede do BCV arrancaram em agosto de 2017, mas a primeira pedra foi simbolicamente colocada em 2000 pelo entretanto falecido Presidente da República António Mascarenhas Monteiro. Contudo, a ideia foi lançada em 1992, com a aquisição do terreno onde a obra foi agora concluída.

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Em fevereiro de 2019, de visita à obra, o arquiteto português Álvaro Siza Vieira mostrou-se satisfeito com a construção do edifício, em betão branco e que projetou há mais de 20 anos, revelando até que enviou a maquete para o Canadá, por estar convencido de que esta não ia avançar.

Numa mensagem vídeo gravada, o arquiteto, vencedor do Prémio Pritzker em 1992, recordou que o convite para este projeto surgiu quando participava no desenvolvimento do plano de renovação da Cidade Velha e da, então ainda projeto, candidatura a Património da Humanidade da primeira capital cabo-verdiana, do qual, notou, “uma muito simples pousada” foi a única obra que avançou.

Ainda assim, Siza Vieira mostrou-se satisfeito pela obra concluída na Praia, esperançado que a nova sede do BCV constitua um “benefício” para o centro da cidade, até pelo local onde fica inserida e “cuidada relação” com a envolvente, com uma alameda e um jardim que agora surge também no local.

Fui aprendendo a amar Cabo Verde, a sua gente, a sua cultura e a sua música, que canta a uma só voz melancolia e alegria. Por tudo, a minha gratidão”, disse Siza Vieira, ao descrever a relação com o arquipélago.

Tendo em conta o clima quente cabo-verdiano, a composição dos materiais utilizados foi objeto de experiências, como o uso de betão branco, descrito no projeto como o “maior desafio da arquitetura” da obra e com uma fórmula desenvolvida na Universidade de Coimbra, que foi depois testada durante seis meses em Cabo Verde, “até atingir a cor e resistência desejada”.

Com vidros à prova de bala, gestão centralizada do empreendimento, de seis pisos, e outras inovações tecnológicas e de poupança de recursos, o edifício é considerado pelos projetistas como o mais “inteligente” em Cabo Verde.

Na cerimónia de inauguração, o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, recordou que enquanto quadro do BCV participou, em 1993, no desenvolvimento do conceito para a nova sede e em 2000, como ministro das Finanças, no lançamento da primeira pedra da obra. “A vida dá as suas voltas e coloca-nos, às vezes, nos mesmos lugares, mas em circunstâncias diferentes”, observou, destacando que o BCV ganha uma sede “à dimensão da sua necessidade e do seu prestígio”.

A cidade da Praia ganha um edifício, mas ganha mais do que um edifício. Ganha um património com a assinatura de um grande nome da arquitetura mundial”, reconheceu o primeiro-ministro.

O relatório e contas do BCV de 2019 refere que a avaliação dos gastos totais com a construção da nova sede deverá atingir os 2.429 milhões de escudos (21,8 milhões de euros). Contudo, Óscar Santos destacou que a construção foi feita “sem encargos, quer para o Banco de Cabo Verde quer para o Estado”, sendo “propriedade” do fundo de pensões dos trabalhadores do banco central.

A nova sede será cedida ao banco central em regime de ‘leasing’ financeiro e como contrapartida pela utilização do edifício, o BCV assumirá as prestações mensais dos beneficiários para o fundo de pensões, recebendo o edifício a “custo zero” quando acontecer a extinção das responsabilidades do fundo.

Contruída por um consórcio liderado pela construtora Espanha SanJose, a obra envolveu uma área total de 10.782 metros quadrados, 40% da qual área construída em seis pisos, criando ainda uma alameda pedonal com 50 plantas e um parque de estacionamento. Vai albergar 200 colaboradores e contará com um auditório com capacidade para 144 pessoas.

Durante a cerimónia, por decisão do Governo, foram condecorados com a medalha de mérito profissional em primeiro grau os antigos governadores do BCV Corentino Santos (1975 a 1984), Oswaldo Sequeira (1991 a 1999), Carlos Burgo (2004 a 2014) e João Serra (2014 a 2020), e a título póstumo Amaro da Luz (1984 a 1991). Por estar em funções governativas, como vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, apenas não foi condecorado Olavo Correia, governador do banco central de 1999 a 2004.