A evolução da pandemia em Portugal voltou a ser tema de destaque no espaço semanal de comentário de Luís Marques Mendes. Este domingo, o ex-líder do PSD fez uma análise positiva aos últimos dados relativos ao impacto da Covid-19 em Portugal e chegou a defender que “já se vê uma luz ao fundo do túnel”, apesar de ainda “estar distante” e exigiu uma continuação do esforço feito até agora, principalmente no que diz respeito ao número de internados em enfermaria e em Unidades de Cuidados Intensivos.

“Depois de quatro semanas de confinamento, os resultados começam a ser visíveis”, afirmou Mendes, antes de ressalvar que “ainda há uma situação muitíssimo crítica dentro dos hospitais”, onde “a recuperação é mais lenta e os números ainda são muitos altos”. A prova do caminho positivo que está a ser feito, assinalou, será conhecida na próxima quinta-feira, quando o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDE) revelar os seus dados semanais e estes mostrarem que “Portugal deixará de ser o pior país da Europa”, devendo ser ultrapassado pela República Checa. Não se deve, porém, cair em facilitismos e relaxamentos, ressalvou.

É precisamente o esforço que ainda está por cumprir que será essencial para definir a meta a partir da qual se deve começar o desconfinamento. Marques Mendes defende que o desconfinamento “deve começar no fim de março”, terá de ser “feito com muita cautela” e “acompanhando de um reforço na testagem”. O facto de acontecer antes da altura da Páscoa leva o comentador a deixar um aviso: “Não deve haver as facilidades que houve no Natal e fim-de-ano, porque se houver pagaremos a fatura mais tarde.”

O tema do desconfinamento, para o social-democrata, serviu para mostrar que “houve uma mudança na postura do primeiro-ministro”, visível logo na reunião do Infarmed, em que António Costa “foi talvez o mais exigente”. Sobre esta mudança de rumo Marques Mendes defende que ela se deveu a tomada de consciência do chefe do Governo: “António Costa ficou mais frágil com o que aconteceu no pós-Natal e fim-de-ano e percebeu que não tem outro caminho que não recuperar e voltar a pôr a situação pandémica nos carris”. O impacto internacional da situação menos positiva no controlo da pandemia também forçou o Governo a assumir uma postura menos relaxada, ainda para mais num momento em que Portugal está a ocupar a Presidência da União Europeia e terá, na opinião do comentador, um teste de fogo já em Maio, com a Cimeira da União Europeia que deverá decorrer no Porto e que, “se não for presencial, será um flop”.

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Marques Mendes aproveitou o seu espaço de comentário político na SIC também para reforçar a ideia que já tinha transmitido anteriormente, de que “a vacinação, no terreno, está a correr bem”, pelo menos “face às vacinas que temos — que são poucas”. O comentador assinala a discrepância entre as doses que foram prometidas e as que de facto foram entregues para justificar o porquê de não se estar a vacinar mais: “No primeiro trimestre devíamos ter recebido 4,4 milhões e só recebemos 1,9 milhões. Para o segundo trimestre a previsão era 11 milhões e entregarão 7,3 milhões. Depois compensa-se nos restantes dois trimestres: mais 600 mil do que previsto no terceiro, e mais 800 mil do que previsto para o quarto.” Esta situação, na sua opinião, demonstra que “a Europa não foi capaz de impor às farmacêuticas aquilo que estava previsto nos contratos”, facto que a médio longo prazo pode atrasar a resolução global da pandemia, realidade com consequências humanas e económicas incontestáveis.

Finalmente mereceu reparo o debate sobre o atraso das eleições autárquicas. Marques Mendes diz que na prática, o cenário de as realizar em outubro ou em dezembro tem “vantagens e desvantagens”, tanto numa situação como na outra: “Se forem em outubro há a desvantagem de não haver muitas pessoas vacinadas, apesar de haver bom tempo; se forem em dezembro já haverá mais pessoas vacinadas mas estaremos no inverno mais rigoroso.” Ainda assim esta situação tem um custo político escondido que pode vir a penalizar, especialmente, o Partido Comunista Português.

Se as autárquicas forem em dezembro a discussão do Orçamento de Estado já se terá realizado e o PCP, que tem sido “um aliado orçamental leal” do Governo e que “previsivelmente continuará a aprovar” o documento, terá de fazer campanha depois de ter “andado de mão dada” com o Governo, algo que se for em outubro não acontecerá. É por isto que Marques Mendes defende que “o PS e o governo não vai mudar a data das autárquicas sobretudo para evitar incómodos para o seu aliado orçamental mais seguro, o PCP”.