Quatro dias depois das eleições internas do Chega, o partido revelou o universo de eleitores, um dado que tinha sido pedido na noite eleitoral. Votaram 3317 votantes de um universo de 14.979 que estavam aptos a votar nas eleições do dia 6 de março. Além dos votos a favor de Ventura — que era candidato único —, houve ainda 18 votos nulos e 73 brancos. Com estes resultados, é possível perceber que apenas um em cada cinco militantes dos que estavam aptos para exercer o direto votou em André Ventura. Este número é ainda menor se for tido em conta o total de 27.962 militantes. Nesse caso menos de 12% votou no líder do partido.

Luís Graça, presidente da Mesa da Convenção, anunciou os resultados que atribuíam 97,3% dos votos a André Ventura cerca de três horas depois de as mesas de voto terem encerrado. Nessa altura, o dirigente do Chega foi questionado sobre o universo eleitoral, mas apontou a informação sobre os dados para mais tarde por terem sido feitos por “uma empresa”. O partido não revela o nome da empresa por uma questão de “proteção dos dados”, mas trata-se de uma empresa de assessoria tecnológica e informática.

Questionado pelo Observador no dia seguinte às eleições, Luís Graça não revelou qualquer resultado e assegurou que “votaram mais pessoas que os votos que alguns partidos tiveram em algumas eleições para a Assembleia da República a nível nacional”. Tendo em conta os resultados oficiais de as últimas eleições Legislativas, o número de eleitores que foi às urnas é comparável apenas com os 3331 votos conseguidos pelo MAS.

A reeleição de Ventura e o discurso de vitória

André Ventura, no discurso de vitória, afirmou que os resultados são um “estímulo” e que os pretende usar para mostrar que “ficou evidente que não só aqueles que criticavam internamente não tiveram força para se apresentar às urnas”, como também os críticos externos “não têm nenhuma capacidade de influência dos militantes”. “Os que esperavam mudanças na gestão deste partido não prevaleceram, e manteremos a mesma linha de trabalho, os que nos ameaçaram com a ilegalização ou com o estigma do racismo estavam enganados, não tiveram força para se apresentar nem tiveram qualquer expressão”, apontou o líder do partido.

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Com os olhos postos no futuro, Ventura insistiu que quer “impor um Governo em Portugal com as cores do Chega” e garante que o partido “não vai desistir”. “Não somos um partido de protesto nem queremos ser, não nos transformaremos nem na muleta do PSD do século XXI nem no Bloco de Esquerda à direita, de protesto“, afirmou, enquanto insistiu por várias vezes que o objetivo é chegar ao Governo.

Estes resultados “não são para negociar lugares nem acordos fictícios”, realçou, em jeito de “último alerta ao PSD” para que o partido liderado por Rui Rio “perceba o resultado desta eleição”: “Não haverá cedências em questões fundamentais.”

“O PSD está a fazer mal o trabalho, (…) não está a fazer o trabalho que deve fazer de oposição”, criticou André Ventura. O presidente do Chega realçou que o PSD “não percebe que o  erro está na forma de lidar com a direita em Portugal e na forma como está a fazer oposição” e pediu a Rui Rio que “olhe para os números” porque o “PS está perto da maioria” e o PSD a perder eleitorado. “Neste momento só há uma oposição em Portugal e é o Chega, é o que os números mostram, não é o que eu digo”, afirmou ao recordar as últimas sondagens. “Quer queiram, quer não queiram, é comigo que vão ter que negociar”, enalteceu o líder do partido, garantindo que o Chega não se vai moderar enquanto estiver na liderança nem abandonar as “bandeiras”.