O deputado do CDS-PP, João Gonçalves Pereira, fez esta quarta-feira a sua última intervenção na Assembleia da República e disse esperar que o seu partido lhe permita continuar o “combate local” nas autárquicas. O deputado e líder da distrital de Lisboa do CDS-PP ainda não foi confirmado pela direção do partido como um dos nomes a integrar as listas de coligação com o PSD na capital.

Dedicar-me-ei nos próximos meses, se o meu partido assim mo permitir, ao combate local, porque é nas autárquicas que se apura a força de um partido e também por acreditar que o CDS precisa, mais do que nunca, de dar prova de vida”, defendeu.

João Gonçalves Pereira garantiu que não tenciona abandonar a militância partidária nem a intervenção cívica, mas defendeu o princípio da renovação.

Na política, particularmente em democracia, não há nada de excecional numa despedida. Os ciclos passam, os rostos mudam, as ideias alteram-se. E é assim que deve ser”, afirmou.

João Gonçalves Pereira substituiu Assunção Cristas no parlamento no final de janeiro de 2020 e já tinha sido deputado na última e na penúltima legislatura. Além de líder da distrital de Lisboa do CDS-PP, é vereador sem pelouro na Câmara Municipal de Lisboa, cargos que vai manter.

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“Posso dizer-vos, senhoras e senhores deputados, que saio com a consciência tranquila de saber que o país, da esquerda à direita, está aqui bem representado“, disse.

Gonçalves Pereira destacou individualmente deputados das restantes bancadas, como Bruno Dias do PCP, Isabel Pires do BE, André Silva do PAN, Mariana Silva dos Verdes, os deputados do PS Hugo Costa, Filipe Pacheco ou Pedro Coimbra, os deputados do PSD Hugo Carvalho, Cristóvão Norte, Bruno Coimbra, António Topa e os deputados únicos da Iniciativa Liberal, João Cotrim Figueiredo, e do Chega, André Ventura.

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Uma renúncia parlamentar não tem muito de original. Já todos assistimos a várias, vindas das muitas bancadas“, disse, recordando que foi deputado em “três legislaturas distintas, em três situações igualmente distintas”. O deputado defendeu, na sua última intervenção, que “a função maior da Assembleia será conciliar as possibilidades do futuro com as urgências do presente”.

Esse, a meu ver, é o desafio maior. Servir de ponte entre o que somos e o que queremos ser, sem deixar ninguém para trás. Não ficar sentado à espera da mudança, nem correr desenfreadamente contra ela”, apelou, numa intervenção que terminou visivelmente emocionado.

O deputado do CDS-PP deixou um agradecimento especial aos líderes parlamentares da bancada enquanto esteve no parlamento, Telmo Correia e Cecília Meireles, bem como ao presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

Na réplica, foram vários os deputados que lhe elogiaram as qualidades pessoais e políticas, como Cristóvão Norte do PSD que destacou a sua “lealdade”, Cotrim Figueiredo que o descreveu como um homem de coragem, Isabel Pires que realçou a “forma honesta” como fez o debate político, Bruno Dias que realçou o “trabalho conjunto” no serviço público ou André Ventura que anteviu que não terá tantos elogios quando deixar o parlamento (“daqui a muitos anos”).

Fernando Negrão (PSD), que estava a presidir aos trabalhos, afirmou que “em política nunca há uma última vez” e vaticinou que “o futuro trará de volta” João Gonçalves Pereira.

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No dia em que anunciou a sua saída do parlamento, o Observador noticiou que a concelhia de Lisboa aprovou João Gonçalves Pereira como candidato à Câmara Municipal de Lisboa, além de Diogo Moura e Nuno Rocha Correia, mas a direção não quer que o atual vereador integre a coligação.

Esta notícia levou o deputado, que se tem mostrado crítico desta direção do CDS, e o ex-vice-presidente Adolfo Mesquita Nunes a falarem em “saneamentos” por parte da direção no Conselho Nacional de 20 de março. Nessa reunião do órgão máximo entre congressos, o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, salientou que a direção do partido tem a “última palavra” na escolha dos candidatos a Lisboa.

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Em declarações aos jornalistas dias depois, avisou que, enquanto ocupar o cargo, “acabou o tempo” em que o nome das pessoas para ocupar lugares nas listas autárquicas é discutido antes de projetos e ideias.