902kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Luca Waldschmidt não é só solução para os penáltis: é solução para quase tudo (a crónica do Benfica-Marítimo)

Este artigo tem mais de 3 anos

Na ausência de Pizzi, Waldschmidt foi o responsável pela marcação do penálti — mas fez muito mais do que isso. Atacou, defendeu e foi o melhor da vitória magra do Benfica frente ao Marítimo (1-0).

FBL-POR-LIGA-BENFICA-MARITIMO
i

O avançado alemão parece ter voltado às melhores indicações que deu no início da época

AFP via Getty Images

O avançado alemão parece ter voltado às melhores indicações que deu no início da época

AFP via Getty Images

A equipa, como Jorge Jesus disse e repetiu ao longo de várias semanas, estava a pôr a cabeça de fora. Na antecâmara da receção ao Marítimo, este domingo, o Benfica trabalhava em cima de quatro vitórias consecutivas no Campeonato, todas sem sofrer golos, para além da eliminação do Estoril que garantiu a presença na final da Taça de Portugal. Ultrapassado o vasto surto de Covid-19 que afetou a equipa, ultrapassado o mau momento que chegou a atirar os encarnados para o quarto lugar, o sol parece ter voltado a brilhar para os lados da Luz. Ainda que, nos últimos dias, tenha surgido uma nuvem negra que promete alguns aguaceiros.

Vlachodimos perdeu a titularidade em fevereiro, no jogo da primeira mão das meias-finais da Taça contra o Estoril. Na altura, a opção por Helton Leite foi natural — a habitual mudança na baliza entre as diferentes competições. Mas três dias depois, para o Campeonato e contra o Moreirense, o ex-Boavista voltou a ser titular. Tal como foi nos dois jogos da eliminatória europeia com o Arsenal e nas partidas da Liga contra o Farense, o Rio Ave, o Belenenses SAD, o Boavista e o Sp. Braga. Leite falhou apenas a segunda mão contra o Estoril, onde Vlachodimos voltou à baliza — na habitual mudança na baliza entre as diferentes competições que deixava claro que a opção primordial de Jorge Jesus para aquela posição tinha mudado.

Para Jesus, a quem Vlachodimos nunca encheu as medidas, a gota de água foi o golo sofrido pelo grego contra o Sporting, já nos descontos e por intermédio de Matheus Nunes, que valeu a vitória leonina. O guarda-redes ainda foi aposta nos dois jogos seguintes, no empate com o V. Guimarães e a vitória com o Famalicão, mas não aguentou mais: na opinião do treinador, Helton Leite joga melhor com os pés e tem mais confiança nas saídas da baliza. E Vlachodimos, ciente de que perdeu a titularidade no Benfica e enquanto estava ao serviço da seleção grega, disse recentemente à imprensa do país que quer deixar a Luz no final da temporada. Sobre isso, Jesus tem uma opinião vincada.

“Os jogadores têm na sua carreira duas escolhas. Há a individual e a coletiva, a equipa onde está inserido. Todos olham com estes dois princípios. A individual e a dos interesses da equipa. Ele teve uma opinião individual, que projeta para o futuro dele. Não foi o momento certo, quando estão nas seleções têm de falar das seleções e não dos clubes. Não têm nada que falar dos clubes. Teve a opinião dele. Ficámos a saber qual é a ideia dele (…) Teve uma opinião. Já expliquei a forma como acho que jogadores pensam. Uns pensam mais coletivamente, outros mais neles. Todos têm estas formas de pensar. Da minha parte, castigo não tenho para lhe dar. Se estivesse a jogar, tirava-o da equipa, era esse o castigo. Porquê? Para ele e para todos. Não autorizo que me perguntem por que é que não jogam. Eu é que sou o treinador”, atirou o treinador na antevisão da partida com o Marítimo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Era neste contexto que o Benfica recebia esta segunda-feira os madeirenses, que partiam para esta jornada no penúltimo lugar da Liga, com apenas uma vitória nos últimos dez encontros e 15 derrotas em 24 jornadas. Sem Pizzi, que viu o quinto amarelo contra o Sp. Braga e estava castigado, e também sem os lesionados Gabriel e Nuno Tavares, Jorge Jesus voltava ao 4x4x2 depois de ter jogado com três centrais com os minhotos e optava por Veríssimo e Otamendi no eixo defensivo, deixando Vertonghen no banco. De resto, o normal: Weigl e Taarabt no meio-campo, Everton e Rafa a abrir nas alas, Waldschmidt no apoio a Seferovic e Darwin como suplente. Do outro lado, Julio Velázquez mudava quatro peças face à equipa que foi goleada pelo Famalicão na última jornada e também mudava o sistema, atuando com três centrais — Renê Santos e Andreas Karo em conjunto com Zainadine –, num 5x3x2 com Ali Alipour no lugar do castigado Rodrigo Pinho.

Os encarnados entravam em campo já a saber que teriam de vencer para voltarem a ficar a três pontos do segundo lugar do FC Porto, que já tinha vencido o Santa Clara, para garantir que permaneciam à frente do Sp. Braga, que entrava em campo pouco antes contra o Farense, e para manter pelo menos a distância de 13 pontos para o Sporting, que defrontava o Moreirense horas depois. O sistema tático de Julio Velázquez teve sucesso nos primeiros instantes da partida: a linha de cinco defesas obrigava o Benfica a lateralizar e deixava pouco espaço livre, permitindo até aos madeirenses explorar a profundidade e ir à procura das bolas paradas, já que são a equipa que mais golos marca de cabeça na Primeira Liga.

A primeira ameaça foi precisamente do Marítimo, na sequência de um cruzamento de Hermes na esquerda (1′), e a verdade é que o Benfica só conseguiu completar uma jogada ao fim de 10 minutos. Nesse lance, Seferovic cabeceou muito por cima (10′) mas ditou o mote para a restante primeira parte, em que os encarnados acabaram por ser naturalmente superiores. A equipa de Jorge Jesus voltou a causar perigo com um cruzamento de Rafa na sequência de uma recuperação de bola em zona adiantada (14′), Everton rematou rasteiro de fora de área para Amir encaixar (17′) e o Benfica ia tendo posse e ascendente — embora não conseguisse ser acutilante o suficiente para criar grandes oportunidades de golo. O Marítimo forçava as lateralizações, privilegiava os bloqueios do corredor central e não oferecia espaços, tornando muito difíceis as movimentações de jogadores normalmente mais livres como Everton, Rafa ou Taarabt.

A boa exibição dos madeirenses, porém, acabou por ser traída por uma grande penalidade. Hermes fez falta sobre Rafa e Waldschmidt, na ausência de Pizzi, assumiu a conversão do penálti: o avançado alemão marcou a primeira grande penalidade de que o Benfica beneficiou esta temporada no Campeonato, chegou aos 10 golos esta época e foi recompensado pela exibição positiva que estava a realizar, sendo um dos melhores elementos da equipa. Depois de alcançada a vantagem, os encarnados voltaram a ficar muito perto de marcar, com Seferovic a rematar para a defesa de Amir depois de um bom desenho com Rafa e Waldschmidt (29′), e os últimos primeiros minutos da primeira parte já foram algo incaracterísticos, com várias faltas, dois cartões amarelos para o Marítimo e pouco discernimento de parte a parte.

Os últimos cinco minutos antes do intervalo, contudo, demonstraram a ideia que os madeirenses tinham ido praticar à Luz: transformar qualquer falta no meio-campo adversário, por mais atrasada que fosse, numa bola parada colocada a pingar na grande área de Helton Leite. Karo ficou muito perto de empatar, com um remate na cara do guarda-redes encarnado depois de um livre batido ainda muito longe da baliza, mas o guardião ex-Boavista evitou o golo (41′). À ida para o intervalo, o Benfica estava a vencer pela margem mínima, estava a jogar mais mas não estava a ser asfixiante — e essa margem de erro permitia ao Marítimo, sempre de bola parada, deixar a ideia de que o resultado permanecia em aberto.

[Carregue nas imagens para ver alguns dos melhores momentos do Benfica-Marítimo:]

Na segunda parte, a atitude do Benfica pouco se alterou. A equipa de Jorge Jesus só acelerava quando a bola chegava aos pés de Rafa ou Waldschmidt e demorava muito tempo a juntar os setores, com o meio-campo a atuar longe do ataque. Por outro lado, o Marítimo regressou mais pressionante, a tentar encurtar os espaços ao longo de todo o relvado para provocar o erro do adversário. Foi nesta fase, porém, que os encarnados tiveram uma enorme oportunidade para aumentar a vantagem: num lance de laboratório no seguimento de um livre, Waldschmidt cruzou na direita e Otamendi, na pequena área, atirou a bola ao lado de forma inexplicável (54′). Uma jogada que mostrava que, apesar da clara desinspiração, o Benfica poderia acabar com a partida de um momento para o outro.

Com o avançar dos minutos, o ímpeto que o Marítimo demonstrou no início da segunda parte foi-se dissipando. O Benfica ia controlando o jogo com total naturalidade e com bola, apesar de raramente chegar com perigo à baliza adversária, e dava prioridade ao corredor direito, onde Rafa e Waldschmidt estavam num plano de entendimento claramente superior ao de Everton e Seferovic — por culpa, principalmente, do brasileiro, que voltou a realizar uma exibição muito apagada. Jorge Jesus mexeu pela primeira vez precisamente para tentar corrigir esse desequilíbrio: Cervi entrou para o lugar de Everton logo depois de um minuto louco na Luz, em que Helton Leite evitou o golo do Marítimo com uma grande defesa a um remate de Winck e Amir evitou o golo do Benfica com uma grande defesa a um remate de Seferovic no contra-ataque sequencial (62′).

A cerca de 20 minutos do final, Julio Velázquez mexeu pela primeira vez e tirou Jean Irmer e Joel Tagueu para lançar Pedro Pelágio e Correa. A entrada dos dois jogadores coincidiu com outra fase menos positiva do Benfica, em que a equipa de Jorge Jesus não imprimia grande velocidade ao jogo nem conseguia propriamente ligar os setores, e a dupla substituição do treinador espanhol acabou por provocar um novo bom período dos madeirenses, que voltaram a pressionar em todo o terreno. Milson e Guitane ainda entraram no Marítimo, Darwin, Vertonghen e Chiquinho ainda entraram no Benfica (que acabou o jogo com três centrais) mas já pouco aconteceu até ao apito final, à exceção de uma boas ocasiões de Correa e Chiquinho.

O Benfica venceu o Marítimo pela margem mínima e graças à primeira grande penalidade de que beneficiou no Campeonato esta temporada e não deixou fugir o FC Porto, mantendo-se a dois pontos do segundo lugar e com mais três do que o Sp. Braga, que bateu o Farense. Num jogo que nunca conseguiu ser acutilante, onde desperdiçou várias oportunidades claras e poderia ter sido surpreendido nas raras ocasiões em que os madeirenses chegaram à baliza de Helton Leite, os encarnados conseguiram segurar os três pontos — e muito graças à exibição de Luca Waldschmidt. O avançado alemão parece ter voltado definitivamente aos melhores indicadores que deixou no início da época, é a melhor ligação entre o meio-campo e o ataque e cumpre de forma exímia as tarefas defensivas, aparecendo muitas vezes em movimento de recuperação. Foi a solução para a marcação da grande penalidade, na ausência do crónico Pizzi, mas deixou claro que pode ser a solução para praticamente tudo.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.