Gaston Barreau é um dos nomes mais desconhecidos do futebol francês mas também, e em paralelo, uma das figuras mais marcantes dos bleus na seleção. Primeiro como jogador, sendo internacional 12 vezes no centro da defesa entre 1911 e 1914. Depois como selecionador, liderando aquilo que existia desde 1919 com uma comissão de técnicos mas nem sempre estando à frente da equipa devido às outras obrigações que tinha, nomeadamente com a Academia de Música – o que fez com que falhasse o Campeonato do Mundo de 1930. Para sempre, até ao ano de 1958 em que morreu com 74 anos, como o grande pensador nacional da modalidade apesar da maneira de ser reservada, humilde, assumindo a liderança sem perder o carácter até tímido e envergonhado.

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No comando da seleção desde 2012, após mais de uma década tanto como jogador e capitão da França, Didier Deschamps tornou-se quase um Barreau dos tempos modernos. Porque não era o mais virtuoso da equipa bem o mais espetacular no banco mas conseguiu um currículo como mais ninguém, sagrando-se campeão mundial em 2018 depois de ter sido vice-campeão europeu no ano de 2016. Ainda assim, o futebol é e será sempre um dos campos onde a memória é mais curta e a eliminação nos oitavos do Europeu provocou uma onda de críticas grande ao selecionador. Saída? Não parece estar em causa. Mas com Zinedine Zidane livre…

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Crítica 1: a equipa escalada para o jogo com a Suíça. “Colocou dois alas sem profundidade, sobretudo Rabiot na esquerda”, destacou o L’Équipe, entre reparos também à aposta em Lenglet em vez de Zouma (com o central do Barcelona a sair logo ao intervalo, após ter sido batido no 1-0 de Seferovic) no regresso ao 3x4x3 depois de ter jogado toda a fase de grupos com uma linha de quatro defesas. Outras hipóteses que poderiam surgir? Colocar Dubois numa das laterais ou arriscar Coman ou Lemar a fazer o lado esquerdo. Nenhuma chegou a avançar, com Deschamps a virar-se para um 4x4x2 (quase 4x2x4 com bola) abdicando de Lenglet para lançar Coman.

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Crítica 2: as substituições feitas ao longo da segunda parte, sobretudo quando trocou Griezmann por Sissoko a dois minutos dos 90′ sabendo que um golo levaria tudo para prolongamento como viria mesmo a acontecer (com Benzema a ter de sair logo no início do tempo extra e Thuram a render Coman que já andava agarrado à coxa). “Tenho o pressentimento que não está longe de renunciar pelo planeamento que fez da competição, até na parte tática parece que algo partiu. Terá a força para se reinventar e dizer ‘Vou aceitar este fracasso?’. Não gosta de perder e via custar superar. Se conseguir isso, não se vai render. Mas, na minha opinião, não está longe de sair do cargo dez anos depois”, comentou na RMC Sports Jerôme Rothen, antigo internacional gaulês.

Crítica 3 (que parecia estar bem longe de ser algum dia alguma crítica): o regresso de Karim Benzema à seleção seis anos depois, sendo que o avançado até marcou quatros golos nos últimos dois jogos com Portugal e Suíça. “A derrota de ontem [segunda-feira] recorda-nos como o futebol não é um desporto como qualquer outro. Didier Deschamps pagou por ter convocado Benzema. O regresso dele não foi ilegítimo mas foi demasiado tardio e veio desequilibrar os planos táticos da França. Benzema é um Fórmula 1 e Deschamps um dos melhores pilotos mas mudar os ajustes de um carro antes do início da corrida não é o ideal”, referiu na RTL Philippe Sanfourche.

Também José Mourinho, com quem Didier Deschamps tinha mantido uma troca de palavras pouco amigável ainda antes do Europeu, não passou ao lado da eliminação francesa na sua análise habitual da prova. “Seria um fracasso se a França não ganhasse”, tinha dito o português. “Pensei o mesmo sobre a sua equipa do Tottenham mas as coisas não aconteceram como o planeado”, respondeu o gaulês. Agora, voltou a palavra “fracasso”.

“Sim, é um fracasso. É um fracasso mas a principal responsável é a Suíça e o tremendo trabalho de Petkovic e da sua equipa. Quando existe a possibilidade de ir a prolongamento não se deve festejar muito… Depois do jogo sim, durante não. E o Lloris manteve a França no jogo, caso contrário tinham acabado depois do minuto 55. Parece-me que Deschamps cometeu um grande erro: num jogo em que existe a possibilidade de prolongamento, os treinadores têm de pensar muito cuidadosamente nas substituições que fazem. Aos 89 minutos foi tirar o Griezmann, um dos melhores jogadores que tem? Num jogo de três pontos, até entendia que lançasse o Sissoko, mas com a possibilidade de tempo extra, foi uma aposta muito arriscada. Para além disto, acabou por perder o Benzema por lesão no prolongamento. Por isso, nunca senti que a França pudesse ganhar nessa altura, perderam muito poder de jogo no ataque”, frisou no seu espaço de comentário do  TalkSport.