O PCP “não está tranquilo” com a execução do Orçamento do Estado deste ano e, embora não coloque novas metas, avisa: seria “abstruso” começar a negociar o próximo documento já em julho, como está previsto, se as medidas atuais fossem “atiradas para baixo do tapete”. O Governo está atento e promete agora fazer o ponto de situação da execução orçamental, que era suposto ter acontecido este mês, no início de julho.

Os recados dos comunistas foram deixados esta terça-feira por Jerónimo de Sousa, depois de uma reunião do comité central, na sede do PCP. O secretário-geral comunista reconheceu que é suposto ser altura de começar a negociar o Orçamento — “julho começa ser o mês de início desses encontros sobre os objetivos que o Governo tem” — mas mostrou-se “preocupado” com o que não quer deixar ficar para trás: “Muitas medidas do OE2021 que poderiam ter um impacto positivo continuam sem ver a luz do dia”.

“Naturalmente, não tem jeito” — seria até “abstruso” — “estar a discutir um Orçamento para 2022 e deixar em aberto e por concretizar muitas das medidas refletidas no OE2021”, insistiu Jerónimo.

Quais? Reforços para o SNS, aumentos na função pública e investimentos nos setores mais fustigados pela pandemia, exemplificou. Se isso não for concretizado, será, nas palavras do líder comunista, “uma contradição insanável”.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

PCP faz pressão para ver Orçamento cumprido. Reuniões atrasaram-se, mas Governo vai voltar a convidar

Isto não significa que os comunistas se preparem para colocar novos prazos ou ultimatos ao Executivo. “O Governo tem de ter esse sentimento de responsabilidade”, frisou Jerónimo, contrariando a ideia de que o partido assine propostas do Governo “de cruz”.

Na verdade, o Governo já está atrasado em relação a um prazo que tinha colocado a si próprio — o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, tinha adiantado em declarações à Lusa que o Executivo estaria a preparar um ponto de situação da execução orçamental para apresentar durante o mês de junho. Mas, segundo o que o Observador apurou junto de fonte do Governo, embora tenham ido sendo “marcadas reuniões com os partidos”, o balanço atrasou-se e o Governo compromete-se agora a fazê-lo “no início de julho”.

Entretanto, Jerónimo fica preocupado por ver “passar os meses” sem que as medidas sejam executadas, mas mantém a esperança de que seja possível “ir mais longe” na concretização deste Orçamento. E mantém as pontes com o PS: “Somos animados sempre por objetivos positivos”, mantendo a postura “construtiva”. “Não estamos aqui a fazer discurso de comício”.

Leis laborais? Jerónimo ironiza com propostas do Governo

Problema independente desse é o das questões laborais, assumiu Jerónimo, que recusou relacionar o destino das propostas dos comunistas sobre essa matéria — que vão a votos na sexta-feira, no Parlamento — com uma disponibilidade maior ou menor do PCP na negociação do próximo Orçamento. “Não fazemos essa ligação das nossas propostas ao Orçamento”, esclareceu.

Silêncio sobre OE (para já), separar negociações e marcar passo sobre leis laborais. As pistas que o PCP deixou

E o PCP não parece ter muita fé nas boas intenções do parceiro negocial quando o assunto é Trabalho: “Temos ouvido algumas declarações do primeiro-ministro aparentemente preocupado com as malfeitorias do Código do Trabalho”, ironizou Jerónimo, desvalorizando as propostas do Executivo no “chamado Livro verde sobre o futuro do Trabalho”, que para o PCP introduz “conceitos manipulatórios” — como o “direito a desligar” — e evita o essencial, que passa por reverter o que resta das normas da troika.

O agendamento (mais uma vez) dessas propostas no Parlamento, concluiu, é uma “oportunidade” para que o PS “encete um outro caminho”. “O tempo é de opções”, avisou. E até ver, as dos socialistas sobre o mundo laboral têm sido sempre — mesmo durante os tempos da geringonça — contrárias aos desejos do PCP.