Brilhou no Persepolis, passou pelo Qatar, jogou cinco anos na Alemanha entre Arminia Bielefeld, Bayern e Hertha Berlim, ainda jogou nos Emirados Árabes Unidos, regressou ao Irão. Ali Daei, hoje com 52 anos, é um autêntico Deus no seu país, como se percebe em coisas tão pequenas como o aparato montado depois de sofrer um acidente de viação, em 2012, quase como se tudo deixasse de interessar até se perceber que podia recuperar sem sequelas. Em paralelo, o ex-avançado formou-se na Sharif University of Technology e tem uma reputada marca de roupa, a Daei’s Sports Wears & Equipments, que vestiu (e veste) uma série de equipas nacionais e locais do Irão em diferentes modalidades, ao passo que a mulher tem um negócio ligado ao ramo da joalharia.

Quem é Ali Daei, o goleador que Ronaldo igualou como melhor marcador de sempre de Seleções

Agora afastado do futebol, também por recusar qualquer tipo de politização do seu estatuto, Ali Daei acabou por tornar-se um dos nomes mais falados no Campeonato da Europa depois dos dois golos apontados por Ronaldo à França, que colocou o português a par do iraniano como o melhor marcador de sempre de seleções com 109 golos. Agora, em entrevista ao Persepolis Newspaper (que pode ser vista neste link), o avançado falou do registo, mostrou-se satisfeito por ter sido alcançado por alguém como Ronaldo e admitiu que o jogador da Juventus não vai ficar por aqui, em relação ao número de golos apontados ao serviço da Seleção Nacional.

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“A formação de trabalho do Ronaldo é diferente da nossa e não devemos fazer comparações, é uma formação que está acima do nível do nosso futebol. Sempre disse e continuo a dizer que não devemos fazer comparações nesse aspeto. Mas também sempre disse e continuo a dizer que todos os recordes existem para serem quebrados um dia e já previa isto muito antes. Quando bati o recorde, sabia que um dia alguém iria aparecer para superar esse registo. Foi ainda melhor ver que foi Ronaldo, um dos melhores do mundo, que conseguiu isso e atingiu o meu recorde com 36 anos. Fico satisfeito por alguém como ele chegar ao meu recorde”, salientou.

Ronaldo esteve 18 anos para lá chegar, bateu 18 recordes e atingiu a maioridade: é o melhor marcador de sempre de seleções

“Infelizmente algumas pessoas escreveram que tinha dito que tinha 111 golos internacionais pela seleção e não 109. Na entrevista que dei a um meio espanhol apareceu isso e não corresponde à verdade. Quando dei os parabéns ao Ronaldo, isso significou que aceitava tudo. A nível de futebol, temos uma referência no mundo que é a FIFA. Se a FIFA diz que tenho 109 golos pela seleção, não posso dizer mais nada. Fico sobretudo feliz por ver que, tanto tempo depois, o nome do Irão continua a ser escrito em todas as agências internacionais. O nome do Irão é o mais importante para mim. Não marquei esses golos sozinho e não poderia fazer nada se não tivesse os meus companheiros e a minha seleção. Fico feliz por alguém como o Ronaldo tenha batido o recorde. Já tinha dito antes que os números não era o mais importante porque o Ronaldo está tão preparado que pode chegar aos 120 ou aos 125 golos pela Seleção”, acrescentou de seguida, a propósito da contabilidade oficial de golos.

Em paralelo, Ali Daei falou da sua vida nos dias que correm, depois de ter treinado clubes como Persepolis, Saipa ou a própria seleção, explicando que não guarda ressentimentos por estar agora mais afastado do futebol.

O recorde de golos de Cristiano Ronaldo na imprensa internacional

“Amo o meu país, aceitei todas as coisas e trabalho cá, no Irão. Sou uma das poucas pessoas que trouxe tudo o que aprendi lá fora para o Irão, para investir aqui. Os recordes existem para serem batidos e não nascemos para ficar para sempre com esses recordes. Estar com pessoas e viver para as pessoas é o que nos imortaliza, caso contrário os recordes apenas chegam e vão. Nunca quis que as pessoas gostassem de mim pelo meu futebol e pelos meus recorde, quero que as pessoas gostem de mim pelo que sou e pela minha personalidade. Zangado com o futebol iraniano? Não, não estou. Sinto-me melhor na minha vida privada agora do que no futebol. Tenho mais paz agora. Para ser honesto, vejo os jogos, especialmente os jogos nacionais, mas não penso na possibilidade de treinar no Irão”, salientou o antigo avançado internacional entre 1993 e 2006.

“Não estou habituado a estar sentado a uma mesa, se quiser trabalhar no futebol, quero estar no retângulo verde. Todas as pessoas foram feitas para trabalhar, não estive sentado na minha secretária durante 25 anos e não estou habituado a isso. Futebol? Estou afastado do futebol mas se quiser posso agarrar numa bola e jogar com os meus amigos. Pelo menos tenho a consciência tranquila. Nunca fiz nada de errado, nem como jogador, nem como treinador. Agradeço a Deus por todos os estudantes que jogam e brilham na seleção nacional. Alguns desses jogadores fui eu que trouxe, ouvi algumas críticas por isso mas agora são dos melhores jogadores do Irão e isso para mim é suficiente para ficar feliz”, acrescentou ainda a esse propósito.

Euro 2020. Ronaldo agradece elogios de Ali Daei e refere que está “orgulhoso”

Por fim, Ali Daei falou também de Mehdi Taremi, avançado que se destacou na última temporada ao serviço do FC Porto após passagem pelo Rio Ave, que começou no Iranjavan e que foi depois aposta do ex-internacional quando comandava o Persepolis. “O Taremi merece todas as pequenas oportunidades que lhe dei. Este ano foi um dos bons anos que teve na sua carreira. Estou feliz por ver todos os jogadores da seleção a melhorar, tudo isto traz cada vez mais orgulho ao país. Não é por não estar ligado ao futebol que quero algo de mal”, frisou.