É mais um capítulo da difícil e quase surreal situação financeira e institucional em que o Barcelona se encontra. Segundo a Cadena Ser, o clube catalão que é patrocinado pela Nike desde 1998 não tem um contrato válido com a marca desportiva desde 2018, ainda que a parceria continue em vigor.

A história começa em maio de 2016. Na altura, o então presidente Josep Maria Bartomeu anunciou desde logo a renovação do contrato com a Nike até 2028 — por mais uma década, sendo que o vínculo então em vigor não expirava até 2018. Na Assembleia-Geral de Sócios, a Junta Diretiva liderada por Bartomeu explicou os contornos do acordo e revelou que, para além dos direitos de associação, a marca norte-americana ainda reservava o uso da marca Barça e os direitos publicitários e de hospitality. Em contra-partida, ainda que os valores certos não sejam públicos, estaria um pagamento superior ao já exercido pela Nike: 105 milhões de euros fixos por temporada e a existência de algumas variáveis que podem levar a quantia até aos 155.

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A ligação foi aprovada pelos sócios na reunião magna dos catalães e Barcelona e Nike acordaram que o contrato definitivo, mais detalhado e com a inclusão de todas as variantes que pudessem surgir entretanto, seria assinado dois anos depois, quando o vínculo então ainda em vigor enfim expirasse. Segundo a Cadena Ser, este acordo entre as duas partes não foi mais do que um favor que a marca desportiva fez ao clube espanhol: Bartomeu, na liderança desde 2014, precisava de liquidez imediata para cumprir os objetivos que tinha delineado.

O problema foi que, em julho de 2018 e no fim do prazo apontado para formalizar o novo contrato, apareceram divergências. Os acordos alcançados no pré-acordo, como a recuperação e renovação de várias lojas e da plataforma de venda online por parte do Barcelona, complicaram-se na hora de os detalhar e firmar. Ainda assim, depois de várias reuniões e impasses, o clube e a marca conseguiram chegar novamente a acordo e marcar uma data para a assinatura do novo contrato válido por dez temporadas — até que a pandemia congelou o mundo.

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A Covid-19 interrompeu o processo que já estava em curso e que nem sequer voltou a ser recuperado no final do primeiro período de quarentena mundial. Com a instabilidade visível na liderança do Barcelona, com a ameaça da saída de Messi ainda no verão de 2020, com o rebentar do escândalo Barçagate, a Nike optou por dar um passo atrás e esperar pela conclusão da novela. Quando Josep Maria Bartomeu se demitiu, em outubro do ano passado, a marca manteve a linha de pensamento e decidiu esperar pelas eleições e pelo novo presidente, que seria Joan Laporta, para tentar recuperar novamente as conversações.

O problema é que, segundo a Cadena Ser, o facto de não existir um contrato detalhado e definitivo entre as duas partes abre a porta à possibilidade de interpretações subjetivas de algumas cláusulas por parte de ambos os lados, algo que já causou vários pontos de tensão nos últimos meses. Ao longo do verão, Joan Laporta tem reunido com os responsáveis da Nike para formalizar o vínculo, tendo o claro interesse de obter mais autonomia para o clube, mas as negociações não têm chegado a bom porto e a relação entre as duas entidades “não é boa”, diz a Cadena Ser — principalmente porque a marca considera que o valor que paga atualmente ao Barcelona já está acima da média do mercado e porque a elasticidade do pré-contrato é favorável numa altura ainda muito volátil devido à pandemia.

Para a Nike, que tem deixado explícito que não vai voltar a fazer favores como o que fez a Bartomeu, o único desejo é baixar os milhões envolvidos no pré-contrato. Para o Barcelona, que vive uma situação financeira francamente frágil, o único desejo é consumar os milhões envolvidos no pré-contrato.