Um português está entre os 41 reclusos que morreram num incêndio num dos módulos da superlotada prisão de Tangerang, nos arredores de Jacarta, na Indonésia, confirmou à Rádio Observador a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes. Na sequência do incêndio há ainda a registar pelo menos 80 feridos.

A informação de que havia um português entre as vítimas mortais foi avançada pela agência Reuters, que citou o governo indonésia. Em declarações à Rádio Observador, Berta Nunes disse lamentar “profundamente” o que aconteceu com o cidadão português, que estava preso há cerca de dez anos e era acompanhado “de forma regular” pelos serviços consulares. O último contacto tinha sido feito há uma semana.

Berta Nunes disse ainda que não há registo de mais vítimas portuguesas na sequência do incêndio e que o Governo português está a tentar contactar a família da vítima. O Governo português está também em contacto com as autoridades indonésias, que vão fazer a autópsia ao corpo.

“Estão em curso diligências junto da respetiva família para a prestação do apoio necessário nestas circunstâncias trágicas”, afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros em comunicado. “A Embaixada de Portugal na Indonésia mantinha contacto regular com este nacional. Lamentamos profundamnete a sua morte”, lê-se no documento.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamentou a morte do cidadão português. Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, lê-se que o chefe de Estado “apresenta sentidas condolências à família do cidadão português que se encontra entre as vítimas mortais do incêndio na prisão de Tangerang em Jacarta, na Indonésia, lamentando as trágicas circunstâncias da morte deste compatriota”.

O incêndio foi extinto e centenas de polícias e soldados foram destacados em redor da prisão para impedir a fuga dos presos, disse o chefe da polícia de Jacarta, Fadil Imran, aos jornalistas.

Imagens transmitidas pela televisão mostraram bombeiros a lutar para extinguir as chamas, enquanto nuvens de fumo negro saíam do recinto. Dezenas de corpos em sacos cor-de-laranja foram colocados numa sala da prisão.

“A situação está agora sob controlo”, disse Imran, confirmando que pelo menos 41 reclusos morreram e 80 foram hospitalizados, oito deles com queimaduras graves.

O incêndio deflagrou nas primeiras horas da manhã no bloco C da prisão, onde se encontram condenados por dependência e tráfico de drogas e onde pelo menos 122 pessoas estavam encarceradas na altura do acidente, disseram funcionários prisionais numa declaração.

Funcionários da Cruz Vermelha da Indonésia retiraram dezenas de vítimas para as ambulâncias e outras dezenas de corpos em sacos cor de laranja foram colocados numa sala da prisão de Tangerang, nos arredores de Jacarta, que acolhia principalmente detidos por tráfico ou consumo de drogas.

Os cadáveres das vítimas foram enviados para um hospital no leste de Jacarta, onde serão identificados. Testes de DNA serão necessários para algumas vítimas, lembrou o ministro da Justiça.

Os feridos graves foram transportados para hospitais na cidade de Tangerang e aqueles com ferimentos mais leves foram levados para uma clínica próxima do estabelecimento prisional.

Marlinah, parente de uma das vítimas do incêndio, foi ao hospital para identificar o corpo: “Vim assim que recebi a notícia sobre meu irmão mais novo, Muhammad Yusuf (…) Fui informada de que meu irmão nos tinha deixado e que o bloco C2 tinha ardido”, disse a mulher à Agência France Presse.

Em lágrimas, Marlinah disse que esperava poder enterrar o irmão na sua cidade natal, Bogor, a leste de Jacarta.

Prisão sobrelotada

As autoridades ainda estão investigando as causas do incêndio, mas suspeitam de um problema elétrico numa das 19 celas do bloco C2 do estabelecimento prisional.

“Eu inspecionei o local do incêndio e, com base nas primeiras observações, o incêndio teria começado devido a um curto-circuito”, disse Fadil Imran, chefe de polícia em Jacarta.

As instalações elétricas da prisão de Tangerang, construída em 1972, não são modernizadas há mais de 40 anos, disse o ministro da Justiça.

Essa prisão também abrigava duas vezes e meia mais detidos do que o esperado – mais de 2.000 em vez de 600 – segundo dados do site do departamento penitenciário.

O edifício que ardeu também estava superlotado, reconheceu a porta-voz da direção-geral das prisões, Rika Aprianti.

“A capacidade máxima do Bloco C era de 40 pessoas, mas era usado para 120 detidos”, disse a responsável à Metro TV.

As prisões indonésias têm muitas vezes degradadas condições sanitárias e estão superlotadas. É bastante comum que os detidos fujam ou se revoltem contra as condições desumanas em que vivem.

Em 2019, pelo menos 100 presos escaparam de uma prisão na província de Riau, na ilha de Sumatra, após um incêndio.