A história
O Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (maat) não precisa de apresentações – todos lhe conhecem as formas brancas e curvilíneas desenhadas por Amanda Levete. Mas atrás do olho, que é uma janela para o rio Tejo, põe-se a descoberto agora a totalidade do projeto maat Café & Kitchen, que junta à cafetaria aberta no final do ano passado um restaurante de fine dining com foco na comida mediterrânica. Os dois conceitos fundem-se para uma experiência gastronómica completa mesmo debaixo da asa do museu em Belém, com direito a um menu de especial de tapas e cocktails todo o dia.
“Já ninguém sai só para comer, do verbo comer mesmo. Defendo que é preciso dar mais qualquer coisa às pessoas. Desde que entram até que saem do espaço elas querem ter um conjunto de várias emoções”, refere José Bartolomé Duarte, um dos fundadores a par de António Sousa Duarte e Paulo Antunes do grupo Mercantina, responsável pelo espaço. “Jantar e almoçar também não é suficiente, a comida é um dos muitos aspetos aos quais as pessoas prestam atenção, mas já não é só isso. É preciso uma experiência completa e foi isso que quisemos erguer aqui.”
Se dantes só metade do espaço estava para usufruto da clientela, agora toda a área fica exposta para receber todos os conceitos que o maat Café & Kitchen acolhe na aba frontal do museu.
O grupo Mercantina, que começou a ganhar fama pelas suas pizzas napolitanas, certificadas pela Associazione Verace Pizza Napoletana, foi crescendo ao longo dos últimos anos e alargando o leque de cozinhas por Lisboa. Agora, dentro do museu “como o maat que é muito peculiar” querem criar um espaço onde os comensais escolhem como querem começar ou acabar o dia, desde que isso envolva sentarem-se à mesa com os olhos postos no rio, a pouco mais de dez metros dali.
“Não é comum esta multiplicidade de conceitos, se eu quiser ir ao brunch posso vir, posso almoçar, e se quiser aqui também posso partilhar uma refeição ao final da tarde. São três espaços distintos na mesma morada: a cafetaria, Riverside Bar & Bistro, para os cocktails e tapas, e depois o restaurante propriamente dito, o maat Kitchen”, afirma José Bartolomé Duarte.
O espaço
Já tinha sido dada uma amostra daquele que seria o todo quando o maat Café abriu em novembro do ano passado — esta zona não foi alterada, pelo que o novo espaço é uma continuidade da mesma linha de arquitetura de interiores. O projeto foi entregue, mais uma vez à dupla de arquitetos Tiago Silva Dias — que já tinha feito outros espaços do grupo — e Teresa Beirão da Veiga, para que pensassem num espaço delicado e “com algum requinte” que ao mesmo tempo pudesse ter a descontração de estar inserido num museu.
As madeiras nobres são o material predominante, do chão em tacos de madeira às mesas, rodeadas em sofás e cadeirões em tecido aveludado em tons de verde azeitona, vermelho, bourdeaux e algumas com um padrão floral vitoriano.
Foram criadas com uma estrutura de madeira ondulatória zonas de refeição mais privadas com mesas redondas, isto além das mesas compridas e das mais acolhedoras espalhadas pelo resto do espaço. Apesar de a decoração ser mais severa e escura, para conferir a elegância e versatilidade de uma casa com todos os conceitos que esta acolhe, o espaço acaba por luminoso, culpa da luz natural que não se envergonha de entrar.
Na rampa de acesso estende-se a esplanada com uma fileira de mesas e cadeiras viradas para o rio. E se há coisa que é incontestável neste novo espaço é a vista — é única, até pela arquitetura em forma de olho do próprio museu, o que oferece uma perspetiva que nenhum outro sítio terá. Os janelões de alto abaixo deixam entrar a luz nas várias horas do dia, sempre com o Tejo, a ponte e a outra margem em vista. A luz é, aliás, um dos fatores que mais foi trabalhado no espaço que tem um projeto de iluminação digital com três capacidades: uma luzes para durante o dia, outras para a tarde e, as mais importantes, as luzes da noite. Quando o sol se põe, as luzes interiores do restaurante chegam a um nível de “equilíbrio perfeito” para que toda a vista não seja encadeada por uma iluminação exagerada de interiores. Estão também preparados projetores que estão encaixados estrategicamente para apontar para os painéis desenhados no teto do espaço.
No final da semana, e para responder à tal necessidade de experiência, o grupo quis que as noites tivessem outro impacto no maat Kitchen com DJ sets entre as 21h e a 01h às quintas (DJ Zecka Pinheiro), às sextas (DJ Jade Alvin) e aos sábados (DJ Vill -Tomás Araújo).
Apesar de estar localizado numa zona maioritariamente de acesso pedonal, quem se dirige ao espaço de carro ao fazer reserva no maat Kitchen poderá reservar também um lugar no estacionamento privativo e gratuito — existem 40 lugares.
A comida
O grupo voltou a chamar o chef Natanael Silva, chef executivo do grupo Mercantina, para pensar na carta que é agora executada todos os dias naquela cozinha pelo chef residente Bruno Salvado. Enveredarem pela cozinha mediterrânica foi “escolha óbvia”, diz José Bartolomé, uma vez que a grande aposta no novo espaço foi dar palco “ao bom produto português, sobretudo ao bom peixe da nossa costa”, sempre com o olho na sazonalidade.
“Hoje as cartas não têm de ser estanques, apesar da predominância de uma cozinha com claras influências mediterrânicas, temos aqui cozinha de fusão com outras gastronomias internacionais incluídas, porque para o chef fazia sentido conseguir ter uma carta consistente e com uma oferta considerável tendo em conta todo o tipo de pessoas que passam por esta zona”, explica José Bartolomé Duarte.
Além da carta da cafetaria do maat que já existia, muito focado nas refeições ligeiras e no brunch ao fim de semana, a carta do maat Kitchen tem a particularidade do menu de partilha, que entra em ação a partir das 16h. “É um menu que dá resposta a quem sai do trabalho, por exemplo, e vem aqui passar o fim de tarde ao Riverside Bar & Bistro e fica-se pelos petiscos, caso não queiram uma coisa mais formal”, refere o fundador referindo-se à zona da barra para onde pode ser pedido este menu.
A começar pelo couvert já é de aconchegar o estômago com broa de milho e pão de trigo barbela da Gleba com manteigas aromatizadas com trufa e outra com lima (3,50 euros), mas a marcha pode seguir logo para a croqueta basca de presunto com creme de milho fumado (10 euros duas unidades) ou para os ovos rotos trufados com presunto (13 euros). No baile ibérico dança também o polvo à galega (18 euros) com finas batatas cozidas na água do polvo — os chefs tiveram uma formação com cozinheiras galegas para reproduzirem o prato por cá.
Curiosa é a burrata recheada com pesto (16 euros) que tem uma cobertura crocante graças à sua fritura com farinha panko, popular em países asiáticos. Nos pratos de partilha estão também os tacos feitos com o peixe do dia — pode ser atum, cavala, salmão ou que a lota trouxer — com abacate, maionese de wasabi e ovas masago (13 euros). Nos frescos há também ostras da Ria Formosa (3,50 euros unidade).
Com vista para o rio pode cair bem gambas al Ajillo (18 euros) ou amêijoa à Bulhão Pato da Ria Formosa (20 euros). Para paladares mais refinados, há também foie gras com crumble de avelã e texturas de maçã e morando (21 euros).
Dando continuidade à ideia de apostar no peixe da costa, o chef Bruno Salvado leva à mesa robalo do mar com acelga vermelha e bacon fumado (32 euros), raia alhada com batata sautée e ervilhas em manteiga de hortelã pimenta (25 euros). Nos obrigatórios estão os filetes de pescada com arroz de berbigão (24 euros) ou o polvo à algarvia com tomatada rústica (26 euros).
O arroz no forno com pá de cordeiro cozinhada no fogo é um dos pratos que, em indo acompanhado, deve vir para a mesa — dá para duas pessoas (20 euros).
No que toca as carnes, Natanael Silva quis apostar numa cozinha de fogo simples e com uma carta curta onde consta um entrecôte Txogitxu do País Basco (250gr; 26 euros), um prato de picanha do Uruguai (250gr; 26 euros) e um chuleton Txogitxu do País Basco (900gr; 90 euros) — este último mais virado para a partilha. Fora da brasa, serve-se um magret de pato em teriyaki fumado, pack choi grelhada, cogumelos e azeite de trufa (23 euros) ou um rabo de boi estufado à antiga com risotto de pêra e lima (24 euros).
Nos doces, há tarte de lima com merengue italiano (7 euros), crème brûlée de baunilha (8 euros) ou, para cortar os açúcares, o ananás dos Açores na grelha com gelado chá verde Gorreana (8 euros).
Os cocktails de autor são servidos ao longo de todo o dia no bar do lado direito do restaurante, assim como a carta de vinhos — com boa representação de vinhos portugueses e alguns internacionais — e outra especial de champanhes.
De segunda a sexta há ainda um menu executivo ao almoço por 25 euros que inclui entrada, prato, bebida, sobremesa e café.
O que interessa saber
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Nome: maat Café & Kitchen
Abriu em: setembro 2021
Onde fica: maat – Avenida Brasília, Belém
O que é: ao maat Café junta-se agora o maat Kitchen, com um conceito de fine dining com base na cozinha mediterrânica e com uma carta intermédia para partilha.
Quem manda: José Bartolomé Duarte, António Sousa Duarte e Paulo
Quanto custa: preço médio de 30€/pessoa
Uma dica: experimentar os tacos de peixe e o polvo à galega
Horário: aberto de quarta a domingo a partir das 11h. Brunch: sábado domingo e feriados 10h30 às 12h30; Almoços: 12h00 às 15h30 e fim de semana almoços 12h às 16h; Jantares: quarta e domingo das 19h às 23h; quinta, sexta, sábado das 19h às 23h30; carta de tapas das 16h às 23h e até às 23h30 às quintas, sextas e sábados.
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Contacto: 910583709
“Cuidado, está quente” é uma rubrica do Observador onde se dão a conhecer novos (e renovados) restaurantes.