Não era para ser no México. Não era para ser com a altitude de 1.600 metros de Guadalajara. No limite, até podia simplesmente não ser depois de Shenzhen ter deixado cair a possibilidade de organizar a competição. Ainda assim, e perante o cenário, Garbiñe Muguruza não tinha dúvidas: “É uma oportunidade numa vida”. No final, foi a oportunidade de uma vida, com a jogadora de 28 anos a tornar-se mesmo a primeira espanhola a ganhar um WTA Finals após ter eliminado nas meias a compatriota Paula Badosa. Numa semana ganhou mais de prize money (1,4 milhões de euros) do que em todo o ano de 2021 mas foi o menos importante.

“É o meu melhor ano, aquele em que ganhei mais títulos e cheguei a mais finais. Estou no melhor momento da minha carreira, com experiência, calma e solidez. Sou feliz e isso nota-se. Foi um torneio stressante, difícil mas consegui dar a volta com uma formiguinha, pouco a pouco. Fui amiga de mim mesma e não me deixei cair nem atirei abaixo, algo que há alguma tempo não conseguiria. Acabo este ano de 2021 com uma sensação muito boa. Os Grand Slams são os torneios que mais motivam, os que me fazem ser mais ambiciosa e é por eles que irei lugar. A questão do ranking já passou, quero é ganhar troféus”, comentou a antiga número 1 mundial após o triunfo no encontro decisivo frente à estónia Anett Kontaveit por 6-3 e 7-5.

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“Nunca quis pensar que poderia ser a primeira espanhola a ganhar o WTA Finals para não me colocar mais nervosa ainda, já tinha a pressão da vontade de ganhar e só dizia a mim mesma para acalmar. É fantástico ser a primeira mulher a conseguir e ver o meu nome na história, não há sensação como esta. O que pensei após o ponto da vitória? Que tinha conseguido, que a época tinha acabado, que tinha ganho um torneio onde tanto ansiava… Senti-me também aliviada, há algum tempo que não ganhava um torneio grande. Um Grand Slam é mais conhecido e tem mais história mas aqui estamos as oito melhores do ano, é menos apreciado de fora mas equivale a um Grand Slam. É uma vitória importante que dedico à minha equipa, que passou os bons e os mais momentos comigo, a sofrerem e a suportarem-me. Merecem”, acrescentou a espanhola.

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Depois da final perdida em 2020 no Open da Austrália, o último Major antes da pandemia, Muguruza chegou ao primeiro grande título desde que é treinada pela antiga jogadora Conchita Martínez. Na verdade, as duas já tinham trabalhado em 2017, quando a jogadora conseguiu ganhar o torneio de Wimbledon, mas só mesmo no final de 2019, quando terminou a relação com o técnico Sam Sumyk, é que a ligação ficou em pleno. O jogo ganhou consistência, os resultados nos grandes torneios não saíam apesar de ter chegado à segunda semana do Open da Austrália e do US Open de 2021. Agora, o caminho conseguiu alcançar o prémio. E tudo porque a espanhola recuperou a adrenalina que a coloca na melhor forma depois no court.

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Como disse um dia a melhor amiga, a romena Ilinca que conheceu ainda muito nova numa academia de ténis, “Garbi é viciada na adrenalina”. E é por isso e por não ser capaz de estar quieta que tão depressa está em casa a cozinhar, a fazer danças que coloca nas redes sociais e a ver séries (ou a ver a Ryder Cup em golfe) entretida com qualquer outra coisa ao mesmo tempo como a aceitar desafios “invulgares” para uma tenista de alta competição. Em 2019, decidiu subir ao Kilimanjaro, em 2020 esteve vários dias a treinar com as forças especiais espanholas em Maiorca. Pelo meio, ainda tem tempo para tirar cursos à distância de nutrição, psicologia e saúde desportiva e aprofundar o interesse pela moda. Tudo vale a pena para não estar parada e foi essa maneira de viver que a ajudou a recuperar o seu melhor ténis para vencer o WTA Finals.

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