Uma vitória no Campeonato em Alvalade no reencontro, uma final da Taça da Liga ganha em Leiria, um triunfo no Minho que se tornou decisivo para a conquista do Campeonato, mais uma final da Supertaça que foi então conseguida em Aveiro, mais uma vitória na Pedreira a contar para o Campeonato. Oito golos em cinco encontros com outros tantos triunfos, apenas dois consentidos. Rúben Amorim pode ser ainda hoje o treinador mais caro em território nacional e um dos mais caros no mundo mas tem feito um percurso que justifica em tudo os muitos milhões investidos. E o Sp. Braga, a antiga equipa que esteve também naquela que foi a contratação mais cara de sempre dos leões (Paulinho), que o diga. Pelos piores motivos.

Sporting-Sp. Braga. Matheus defende remate de Pote (0-0, 10′)

Os cinco jogos realizados até ao momento contra a versão Amorim do Sporting significaram outros tantos desaires, numa época mais atribulada do que normal no Minho em que a equipa “dobrou” a primeira volta a larga distância dos três primeiros e começou a 18.ª ronda com uma derrota caseira frente ao Marítimo. Ao todo, e em 18 partidas, os minhotos tinham ganho apenas metade, estavam fora da Taça de Portugal e da Taça da Liga e jogarão ainda o playoff da Liga Europa com o Sheriff. Nem esse momento levava Rúben Amorim a baixar a guarda, apesar de reconhecer a desvantagem pelo castigo de Carlos Carvalhal.

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“O treinador da equipa faz sempre falta, tem influência. Não é a mesma coisa mesmo que se transmita as ideias através da equipa técnica. É muito difícil para um treinador. O último jogo em Braga também estava castigo. É normal que as equipas precisem do seu treinador no campo mas não é decisivo. Últimos jogos entre ambos? O treinador é o mesmo, têm uma identidade muito vincada, mantêm características que já tinham desde o ano passado, mudaram apenas jogadores e características individuais. Olhámos muito para os jogos que fizemos com eles esta época. Somos uma equipa diferente. Nunca vi o Sp. Braga a jogar em blocos baixos. Quem tiver mais concentrado e quem perceber melhor o jogo vai ganhar. Espero que seja um grande jogo mas se não for que ganhe o Sporting que é o mais importante”, comentara o técnico.

Em mais uma conferência de imprensa em que mostrou a importância da comunicação para dentro e para fora, o treinador leonino fez até um mea culpa em relação às palavras que teve com Nuno Santos depois da confusão gerada em Vizela que levou à suspensão por um jogo do esquerdino pelo Conselho de Disciplina. “Fiz um reparo ao Nuno e não devia tê-lo feito porque serviu para justificar um castigo que nunca aconteceu. Estive a ver as imagens e o Nuno lançou a água e no relatório vem um gesto obsceno. Eu vi as imagens e não vi nada disso. Perguntei ao jogador e ele disse que não. Mais do que falhar um jogo, há que fazer um reparo ao relatório. Tem de aprender com estas situações e o treinador também, pensei que estava a ajudar mas apenas justifiquei o castigo. Eu certamente que aprendi”, confidenciou Amorim.

A par de Pedro Porro, a recuperar de problemas físicos, Nuno Santos era a única baixa numa convocatória onde voltava a entrar Jovane Cabral, jogador que se lesionou no joelho ainda em 2021 mas que conseguiu recuperar sem necessidade de intervenção cirúrgica. No entanto, a maior dúvida prendia-se com o regresso ou não de Matheus Nunes à titularidade, depois de ter ficado de fora em Vizela com um “recado” de Rúben Amorim recordando que no futebol tão depressa se está em cima como em baixo: “Quando falei foi para o deixar também em alerta, nada mais que isso. Fiz o mesmo que todos os treinadores fazem, temos que trabalhar muito, se não estivermos no máximo não vamos ganhar jogos. Queremos deixá-los sempre alerta e só dessa forma é que podemos ganhar jogos. É um miúdo fantástico e um exemplo de trabalho”.

Matheus Nunes foi mesmo titular e, durante a primeira parte, assumiu-se como o melhor em campo, a começar logo pelo fantástico passe para o golo do Pedro Gonçalves. Depois, à semelhança da equipa, foi caindo com o passar dos minutos. O Sp. Braga teve mérito na forma como aproveitou a desorientação dos leões após o empate e teve ainda mais mérito pela maneira como viu o risco verde e branco na frente para beneficiar dos muitos espaços e aplicar mesmo a primeira derrota de Amorim em casa no Campeonato. Em três encontros, o Sporting perdeu dois. E se é verdade que o internacional português passou pelo banco para perceber que tudo pode mudar num ápice, não será o único a ter de perceber essa realidade. Logo, a começar, por Gonçalo Inácio, que foi somando erros atrás de erros numa exibição para esquecer. Foi aí que entroncaram muitos dos deméritos de um campeão que enfrenta uma nova realidade.

O encontro começou com mais Sporting mas com o Sp. Braga a mostrar também sem bola que trazia uma ideia capaz de anular algumas das principais peças leoninas, a começar pelo movimento de Vitinha a descer no terreno para condicionar a construção de João Palhinha e pelas marcações de Castro (sobretudo este) e Al Musrati às progressões de Matheus Nunes. A ideia passava por obrigar os visitados a jogarem mais longo ou mesmo direto nos avançados, com a formação de Rúben Amorim a explorar de quando em vez as zonas laterais com as subidas dos alas, como aconteceu com Ricardo Esgaio para remate de Matheus Nunes a bater num adversário (8′). Assim, foi preciso esperar dez minutos até ao primeiro remate enquadrado da partida, com Pedro Gonçalves a aparecer entre linhas a atirar forte para defesa de Matheus (10′).

As constantes interrupções de Hugo Miguel, que tentava segurar o encontro à base do sopro entre várias faltas que num qualquer outro campeonato de topo não existiriam, também não ajudavam muito mas era numa base do encaixe que os minutos iam passando sem oportunidades de perigo e com uma tentativa de remate de Ricardo Horta que nem chegou a ser de tão fraco e ao lado (19′). Só mesmo o brilho das maiores individualidades poderia desatar o nó e foi isso que aconteceu, com muita nota artística à mistura: Matheus Nunes, pressionado por Al Musrati, colocou nas costas da defesa dos minhotos, Pedro Gonçalves “matou” a bola com uma fantástica receção e rematou depois por baixo das pernas de Matheus num lance que foi inicialmente invalidado pelo assistente mas validado de seguida pelo VAR por estar em jogo (24′).

Até ao intervalo, apenas por duas vezes o Sp. Braga poderia ter criado perigo junto da baliza de Adán. Uma, por Galeno, acabou com o brasileiro a perder-se em fintas depois do excelente passe de Ricardo Horta a encontrar o companheiro na área (30′); outra, por Vitinha, nasce de um corte de João Palhinha no meio-campo que foi parar ao jovem dianteiro dos minhotos para remate desenquadrado (42′). Já o Sporting, a ter outro tipo de controlo e gestão na partida, foi procurando com outros espaços as saídas rápidas a explorar as movimentações das três unidades da frente, com Paulinho a ter um desvio na pequena área que não conheceu toque final para a baliza e Pedro Gonçalves a fazer um chapéu a Matheus pouco ao lado (41′).

O segundo tempo começou com os minhotos a trocarem de avançado, lançando Abel Ruíz para o lugar de Vitinha, mas foi por outras razões que o jogo ficou reaberto logo a abrir e a ameaçar mesmo a reviravolta: num lance que começa num passe de risco de Adán e num passe errado de Coates, Matheus Reis toca no pé de Galeno na área, VAR deu indicação de grande penalidade a Hugo Miguel e árbitro confirmou mesmo o castigo máximo, que permitiu ao brasileiro fazer o empate (52′). Ato contínuo, e num momento em que Paulinho recebia assistência fora das quatro linhas e Palhinha arriscou pressionar mais alto, os minhotos tiveram mais uma grande saída com Abel Ruíz a isolar-se, a passar por Adán e a atirar ao lado (56′).

O encontro mudara completamente de figura, com os leões a deixarem muitas vezes que se partisse como não é habitual desde que Amorim assumiu o comando da equipa. Pedro Gonçalves, num remate quase “inventado” quando parecia que não tinha nem espaço nem movimento para visar a baliza, atirou para defesa apertada de Matheus (59′). Paulinho, após cruzamento de Matheus Reis na esquerda, tinha tudo para marcar mas o desvio de cabeça saiu a centímetros do poste (61′). Ricardo Horta, em mais uma boa saída dos minhotos aproveitando desposicionamentos sem bola dos jogadores leoninos, combinou com Fabiano na direita para rematar forte e Adán defender para a frente (65′). Estava tudo em aberto.

Bruno Tabata, que entretanto entrara para fazer toda a ala esquerda, ainda teve um remate cruzado que podia ter criado perigo (73′), Ricardo Horta ainda beneficiou de um livre indireto cometido por Adán após mais um erro de Gonçalo Inácio para rematar contra Pedro Gonçalves (77′), mas os minutos passavam a tirar discernimento os dois conjuntos que, noutro contexto, podiam com mais calma e força física passar para a frente do marcador. Foi assim que Pedro Gonçalves e Abel Ruíz, já nos descontos, tiveram grandes oportunidades desperdiçadas para marcar até ao lance que decidiria o encontro, com Gorby a aproveitar mais uma autêntica “cratera” no corredor central dos leões para fazer a reviravolta (90+7′).