“Quando puxámos o Inácio para a primeira equipa ele era defesa esquerdo, não era titular mesmo nos Sub-23, era muito novo e jogava nos juniores. Teve um crescimento muito rápido e adaptou-se à equipa. Teve um crescimento diferente do que toda a gente pensava na Academia em comparação com o [Eduardo] Quaresma. Isso acontece com todos os jogadores. Tivemos aqui uma vez que realçaram a exibição do Inácio na Champions e disse para não fazerem muito barulho… Acho que devem fazer barulho com esta exibição do Inácio, que ainda não está preparado, que ainda precisa de muito tempo no Sporting e que ainda tem muito para melhorar. É sinal que fica cá muitos anos. Tem feito muitos jogos para um miúdo que há ano e meio estava nos juniores. Está pronto para ir a jogo e de certeza que irá dar uma grande resposta”.

Sporting-Santa Clara. Paulinho falha um metro da baliza (2-1, 90′)

À semelhança do que tinha acontecido depois da derrota nos Açores frente ao Santa Clara, em que saiu em defesa de Ricardo Esgaio dizendo mesmo que era o tipo de jogador que levaria para qualquer equipa sua, também Gonçalo Inácio teve direito a uma defesa inequívoca por parte de Rúben Amorim após uma partida para esquecer frente ao Sp. Braga, naquela que foi a segunda derrota em três jogos de Campeonato quando nos 16 anteriores a equipa tinha apenas consentido dois empates. Por um lado, o técnico não quis esquecer todas as exibição em que o jovem central esteve em destaque mas, por outro, sabia que esse foi apenas um dos muitos reflexos de problemas coletivos que potenciam depois os holofotes no erro individual.

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Um lance frente aos minhotos funcionou como exemplo paradigmático disso mesmo: aos 56′, quando o avançado Paulinho recebia assistência médica, Palhinha pressionou mais alto, o Sp. Braga conseguiu fazer circular a bola, aproveitou o espaço pelo corredor central, isolou Abel Ruíz e o espanhol falhou isolado. Aí falharam também os médios e as compensações, no resto do jogo continuaram a falhar tanto os médios como as compensações (sendo que a partir de determinado momento o encontro partiu por opção). Essa análise, a par dos erros cometidos nos Açores que levaram à primeira derrota no Campeonato, faziam com que Rúben Amorim tivesse de procurar outras soluções para superar um momento pouco habitual.

“As sensações são diferentes, até para a equipa técnica. É um sinal de exigência, é um sinal a que já não estávamos habituados. Obviamente que sinto que o grupo sente as derrotas de forma diferente. O que nós fizemos foi olhar muito para os jogos. Os pontos são os mesmos mas as derrotas são diferentes. Isso sente-se quer durante a semana quer durante o jogo, seja na pressa de fazer as coisas, de ir atrás e fazer pontos, não estando em desvantagem. São sensações novas a que os jogadores têm de se adaptar. Todos juntos como grupo em momentos diferentes que nos ajudam a crescer. Não são tão agradáveis como na época passada mas é bom lutar por títulos”, tinha referido Rúben Amorim sobre os últimos dias.

A possibilidade de Daniel Bragança assumir lugar na equipa para dar outro critério na construção ficará sempre como uma dúvida, tendo em conta a lesão do médio, mas a colocação de Ugarte mais perto de João Palhinha, preterindo de novo de Matheus Nunes, era o sinal de parte do que Rúben Amorim pretendia para estabilizar a equipa numa primeira fase. Ganhou na reação à perda, perdeu nos movimentos verticais. E apesar do regresso aos triunfos, importante para começar a esvaziar a ansiedade que se notou em muitos momentos da partida, com o uruguaio a terminar o encontro como um dos melhores, o Sporting voltou a ser fiel ao seu jogo sem bola mas continuou a mostrar problemas na chegada ao último terço, valendo a grande penalidade “ganha” e transformada por “El Comandate” Pablo Sarabia.

As duas equipas não demoraram a mostrar ao que vinham, ainda que de formas completamente diferentes com e sem bola. Com outro tipo de movimentos na frente, também pela colocação de Bruno Tabata em vez de Paulinho, o Sporting assumiu o comando total da posse mas enfrentava grandes dificuldades em entrar no último terço perante as linhas compactas e posicionadas em 30 metros que retiravam espaços aos leões. Em contrapartida, numa ação mais conseguida, tinham uma reação forte à perda, o que fez com que os açorianos conseguissem somente dois passes certos nos minutos iniciais. No entanto, e no final do quarto de hora inicial, só o Santa Clara tinha um remate enquadrado com a baliza, num desvio de cabeça de Cryzan ao primeiro poste após livre lateral na esquerda do ataque que saiu fácil para Adán (14′).

A colocação de Ugarte no meio-campo com Palhinha dava outra estabilidade nas transições e capacidade extra de recuperar bolas mais à frente, com o uruguaio a contar com quatro ações defensivas, todas no meio-campo adversário, nos 25 minutos iniciais. No entanto, aquilo que ganhava nesse aspeto perdia nos movimentos verticais e no jogo entre linhas, facilitando a missão dos açorianos e promovendo as subidas de Matheus Reis com bola dando primazia aos ataques pela esquerda. Foi preciso um lance caricato, com o guarda-redes Ricardo Fernandes a fazer uma reposição à mão que ficou curta, para haver o primeiro tiro enquadrado dos leões, de Sarabia, para defesa fácil (30′). Do outro lado, Lincoln explicou como bater bem na bola e, num livre direto com apenas dois homens na barreira, inaugurou o marcador (32′).

Se muitas vezes já se sentia a ansiedade no jogo do Sporting, que queria aproximar-se da baliza e criar mais oportunidades mas muitas vezes era traído por tanta vontade, a desvantagem adensava esse cenário. Bruno Tabata, recebendo de costas e conseguindo rodar, atirou para as mãos de Ricardo Fernandes antes de um lance infeliz de Villanueva que fez o empate, num desvio para a própria baliza após cruzamento de Nuno Santos na esquerda (40′). As equipas chegariam ao intervalo já em igualdade mas com o Santa Clara a ter ainda uma oportunidade soberana de se recolocar na frente, num livre lateral batido pelo inevitável Lincoln para desvio ao primeiro poste de Cryzan e defesa de Adán a fazer a bola bater ainda no poste (45+1′).

Logo nas primeiras posses do segundo tempo percebeu-se que Rúben Amorim tinha pedido outra dinâmica à equipa, com Palhinha a arriscar mais nas variações do centro de jogo entre corredores. No entanto, o jogo avançava com as mesmas características, tendo mais um golo (bem) anulado a Bruno Tabata aos 58′ após um passe longo do médio internacional que apanhou o brasileiro fora de jogo (na primeira parte tinha sido Ricardo Esgaio num movimento semelhante, também em posição irregular validada pelo VAR). Estava a chegar o lance que viria a mudar em definitivo a história, com uns minutos de espera pela decisão.

Na sequência de um canto na direita do ataque do Sporting, Luís Neto fez um primeiro desvio, Matheus Reis deu também de cabeça e o último toque de Sarabia foi cortado pelo braço de Rui Costa, avançado que foi expulso no seguimento do lance e permitiu que o espanhol assinasse a reviravolta de penálti (65′). Ainda que sobrassem ainda 25 minutos por jogar, a meia-final ficou decidida nesse momento, com os leões a terem uma maior capacidade de gestão da posse e os açorianos a não conseguirem sair com as unidades suficientes para chegarem ao último terço com perigo. Paulinho, com um remate de fora da área para Ricardo Fernandes, teve uma das últimas tentativas da partida sem grande perigo (83′) antes de mais um falhanço inacreditável a um metro da baliza com o guarda-redes no chão em que atirou ao lado (90′).