O presidente da Junta de Freguesia de São Romão do Neiva, em Viana do Castelo, manifestou-se esta quarta-feira revoltado com uma nova descarga poluente no ribeiro de Radivau, junto à zona industrial de Neiva, que classificou de “crime ambiental”.

“Isto é um crime ambiental. Tem de ser posto cobro a este tipo de descargas e prevaricação. Em pleno século XXI não se admite que os empresários só vejam o lucro e não vejam o ambiente. Lamento profundamente e sinto-me indignado com este tipo de práticas”, afirmou esta quarta-feira à agência Lusa Manuel Salgueiro. Trata-se da segunda descarga de poluentes naquele ribeiro em 15 dias, segundo o presidente.

“Hoje é o mesmo ribeiro, no mesmo local, e de certeza, foi a mesma unidade fabril a fazer a descarga. Está aqui a GNR para investigar”, salientou o autarca, acrescentando ter sido alertado para a situação por pessoas que faziam caminhadas naquela zona.

“A Junta sente-se impotente. Isto é pura e simplesmente o lucro fácil. Não pode continuar. Isto é um grito de revolta da Junta de Freguesia de São Romão do Neiva perante esta situação”, frisou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A Lusa contactou a GNR que confirmou estar a investigar este novo caso de poluição. Fonte daquela força policial adiantou que “a primeira denuncia de descargas poluentes ocorreu em julho de 2021, sendo que a investigação teve início em setembro do mesmo ano”.

O autarca Manuel Salgueiro lembrou que o ribeiro Radivau, que “antigamente tinha peixes”, vai desaguar no rio Neiva, que no verão é utilizado para a prática balnear. “Há casos de pessoas que depois de tomarem banho no rio saem da água com reações alérgicas no corpo. É da poluição que eu associo às descargas poluentes”, adiantou.

Questionado pela agência Lusa, à margem da sessão do anúncio oficial de Viana do Castelo como Cidade Europeia do Desporto, em 2023, o presidente da Câmara, Luís Nobre, afirmou estar “solidário com o autarca e garantiu estar a acompanhar a situação, apoiando a participação do caso às entidades competentes, o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA)”. O autarca socialista escusou-se a generalizar, mas garantiu que “o empresário que provocou esta situação” deve ser responsabilizado.

“É um comportamento que não está dentro dos novos padrões de exploração de unidades industriais sejam elas quais forem. O licenciamento exige que sejam encontradas soluções para tratamento dos resíduos. Não há necessidade de se projetar no domínio hídrico qualquer tipo de resíduo sem o devido tratamento”, sustentou. Luís Nobre defendeu ser necessário “apurar se foi ou não um ato acidental”.

“Essa investigação não é da competência nem da Câmara Municipal, nem da Junta de Freguesia, mas temos a obrigação e o dever de comunicar às entidades com responsabilidade para que possam, no fundo, agir em conformidade”, adiantou.

No dia 24 de janeiro, o autarca de São Romão do Neiva denunciou descargas poluentes no ribeiro de Radivau, na segunda fase da zona industrial de Neiva e, após se deslocar ao local, constatou que “a pouca água do ribeiro” corria “branca”.

Na altura disse ter tido conhecimento de “algumas ligações clandestinas para o ribeiro de Radivau que atravessa a zona industrial e tem empresas instaladas de um lado e do outro”. Segundo o autarca, este tipo de descargas poluentes na segunda fase da zona industrial, “onde estão instaladas cerca de 50 empresas” acontecem com “alguma frequência”.