Foi uma entrevista inédita em condições nada habituais. A CNN norte-americana, em conjunto com a agência de notícia Reuters, conseguiu entrevistar o Presidente ucraniano no bunker localizado no centro de Kiev, onde neste momento se encontra. Para Volodymyr Zelensky, um cessar-fogo só pode ser alcançado se a Rússia parar com a ofensiva militar.

“Todos têm de parar de lutar e voltar ao ponto onde estávamos há cinco, seis dias”, afirmou o chefe de Estado ucraniano, acrescentando que se os bombardeamentos e os tiroteios terminaram isto é uma prova que o Kremlin “está pronto para a paz”, o que permitiria que os dois países se sentassem “à mesa das negociações”. Volodymyr Zelensky recusou também que as conversações com a Rússia sejam uma perda de tempo, esperando ainda pelo desfecho: “Vamos ver”.

Destacando que a Ucrânia “é o coração da Europa”, Volodymyr Zelensky disse que agora o continente vê o país “como algo especial para o mundo”. “É por isso que o mundo não pode perder a Ucrânia”, afirmou, caracterizando esta guerra pela defesa de valores “da democracia e da liberdade”.

Para já, Volodymyr Zelensky garante que a Ucrânia “está a ganhar” a guerra. “Estamos a defendermo-nos”, sublinhou, acrescentando que o exército russo não conhece o povo ucraniano, a sua filosofia e as suas aspirações. “Eles vêm para cá para lutar e morrer.”

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Apesar do otimismo inicial, o Presidente ucraniano teme um aumento da presença militar russa. “A Ucrânia vai lutar, mas sozinha contra a Rússia não o conseguimos fazer”, afirmou, pedindo aos líderes ocidentais uma zona de exclusão aérea, de modo a conter os bombardeamentos do exército de Moscovo.

Dirigindo-se a Joe Biden, que o chefe de Estado da Ucrânia caracterizou como “líder mundial”, Volodymyr Zelensky argumentou que uma zona de exclusão aérea não significa “arrastar a NATO para a guerra”. E deixou um aviso: “Se a Ucrânia cair, e depois as tropas estejam nas fronteiras da Polónia e da Lituânia, [a NATO] vai sofrer graves problemas. Haverá outras provocações”.

Sobre a entrada da Ucrânia na NATO, Volodymyr Zelensky disse que concordava com o facto de o país não aderir já a organização, mas salientou que é importante haver “garantias de segurança comuns”, que permitam a Kiev “salvaguardar a integridade territorial” e as fronteiras.

Visivelmente cansado, Volodymyr Zelensky revelou ainda não ver a família há três dias e descreveu que os seus dias consistiam em “dormir e trabalhar”. E sobre o seu passado enquanto comediante, o Presidente frisou que leva o seu cargo a sério: “Não é um filme”. Sublinhou, por fim, que não “é icónico” — mas antes que a própria Ucrânia o é.