Após o dramático final de Mundial em Abu Dhabi com Max Verstappen a passar Lewis Hamilton na última volta com a saída de cena do safety car, o que valeu também o primeiro título do neerlandês e impediu que o britânico se tornasse em definitivo o maior de sempre com oito vitórias, havia duas ideias no ar com o mesmo “protagonista”: 1) foi um último capítulo digno de “Drive to Survive” da Netflix; 2) seria a melhor temporada de “Drive to Survive” da Netflix. A produção tornou-se quase uma obra de culto para quem goste mais ou menos da Fórmula 1, funcionando também como inspiração para mais uma série de conteúdos dentro dos mesmos moldes. No entanto, quatro anos depois, nem todos estão a achar muita graça ao que veem.

Golpe de teatro no Bahrain: motores da Red Bull desligam, Ferrari faz 1-2 e Mercedes acende luz de esperança

“Vi alguns episódios da última temporada e fiquei surpreendido, de repente apareci a falar. São coisas já de 2018 provavelmente que agarraram de novo, sobre lutar e sobre o que gosto de fazer. Até a minha voz está um pouco diferente. E também percebi que dizia algumas coisas e tinham os microfones ligados, apanharam uma série de coisas. Vou começar a ser mais cuidadoso com isso. Mas o que menos gostei foi a parte do Lando [Norris] e do Daniel [Ricciardo]. Parece que o Lando é meio parvo quando eu que conheço-o e ele tem grande carácter e é engraçado. Quem vê e não conhece nem sabe de Fórmula 1 não gosta dele porque fica com uma ideia errada de alguém que ele não é”, comentou Max Verstappen na Arábia Saudita.

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O violento acidente de Mick Schumacher, Hamilton no Q1 a sair de 16.º e pole para Pérez: a qualificação na Arábia Saudita

A semana já tinha sido marcada pelas declarações sobre o programa de Stefano Domenicali, CEO da Fórmula 1 que deixou também um aviso a toda a produção do “Drive to Survive”. “Não há qualquer dúvida de que o projeto da Netflix teve um enorme sucesso e impacto positivo. Criou interesse numa nova audiência. Mas a linguagem que usa em algumas situações foca-se muito na dramatização de todas as histórias”, comentou o italiano ao Motorsport.com, referindo que gostaria de ver isso alterado nas próximas edições. Uma coisa é certa: se a série tem impacto, a realidade não fica nada atrás. Antes pelo contrário. E tal como já tinha acontecido no final da última época, o arranque da temporada de 2022 revelou momentos, histórias e protagonistas que nem mesmo um guião escrito à medida pela Netfix conseguiria ter tanto impacto.

Depois do golpe de teatro no final do Grande Prémio do Bahrain, com os motores da Red Bull a desligarem nas últimas voltas, a Ferrari a conseguir a dobradinha, Hamilton quase do nada a chegar ao pódio e algumas surpresas positivas (Magnussen da Haas e Bottas da Alfa Romeo a ficarem no top 6) e negativas (McLaren fora dos pontos), a qualificação na Arábia Saudita, marcada pela longa reunião da véspera em que os pilotos colocaram em causa a realização depois do ataque dos houtis numa refinaria a cerca de 20 quilómetros do circuito de Jeddah, teve mais uma série de pontos dignos de série: Lewis Hamilton não passou sequer da Q1 com o 16.º tempo, Mick Schumacher teve um violento acidente quando estava em lugares para Q3 e acabou mesmo por seguir para o hospital (falhando a prova) e Pérez conseguiu a pole position na última volta.

O mexicano conseguiu a primeira liderança de um piloto do seu país na qualificação e defendeu-a com unhas e dentes na saída, tirando a trajetória possível para Charles Leclerc surpreender e segurando o primeiro lugar na curva 1, ao contrário do que se passou com Carlos Sainz que não resistiu ao ataque de Max Verstappen para subir a terceiro. No top 10, Magnussen saltou para nono à frente de Gasly mas nada mais mudou nesse arranque, que colocou Lewis Hamilton num modesto 14.º posto. Ainda nas cinco voltas iniciais, George Russell mostrou que o problema podia ser no Mercedes do britânico e não do seu carro, ganhando o quinto lugar a Esteban Ocon que pouco depois ficou perto de uma colisão com o companheiro Fernando Alonso (que iria mesmo saltar para a frente na reta para a sétima volta apesar da luta do francês).

Hamilton continuava a ganhar posições, passando Lando Norris e Gasly para o décimo lugar, Bottas colocou-se no meio dos dois Alpine à frente de Ocon mas a primeira grande mudança estava prestes a acontecer e com Latifi mais uma vez no epicentro de forma indireta: Checo Pérez passou pelas boxes, Leclerc ficou, o canadiano foi contra um muro obrigando à entrada do safety car e a Ferrari ficou não só com a primeira posição como com a terceira, com Carlos Sainz a superar o mexicano. Hamilton, sem trocar de pneus nem mesmo na paragem, ficava no sétimo poste, atrás de Magnussen e de George Russell, em quinto. À 25.ª volta, a meio da corrida, o britânico passou mesmo o carro da Haas e fixou-se no sexto posto.

As emoções pareciam mais calmas até que novo saftey car, desta vez virtual, voltou a mexer e muito com as contas: o Alpine de Fernando Alonso começou com problemas, o McLaren de Daniel Ricciardo apagou na saída para as boxes, Kevin Magnussen foi mais lesto a ir logo trocar de pneus, Lewis Hamilton leu mal as contas e acabou por descer à 12.ª posição mas lá na frente voltou a estar tudo em aberto, como acontecera nas voltas 17, 18 e 19 no Bahrain: Max Verstappen conseguiu passar com DRS, Charles Leclerc voltou a responder com DRS e o ataque seguinte acabou com ambos a queimar à última mas com o Ferrari na frente perante as queixas do Red Bull para a equipa com um possível pisar de linha do monegasco. Não deu aí, deu a quatro voltas do final. E deu de forma decisiva, algo que nem mesmo a bandeira amarela acabou por mudar apesar de mais protestos do neerlandês dizendo que era injusto. Foi uma resposta de campeão.

Com estes resultados, Leclerc manteve a liderança do Mundial com 45 pontos, tendo somado o ponto extra da volta mais rápida aos 18 do segundo lugar, e é seguido pelo companheiro da Ferrari Carlos Sainz, com 33. Max Verstappen subiu ao terceiro posto com 25 pontos, à frente dos dois Mercedes de George Russell (22) e Lewis Hamilton (16), que acabou por não ir além do décimo lugar na Arábia Saudita.