A Rússia convocou, esta segunda-feira, uma conferência da imprensa para divulgar “documentos” que revelariam a “verdadeira natureza” daquilo que aconteceu em Bucha. Na sede das Organização das Nações Unidas (ONU), o embaixador russo Vassily Nebenzia inverteu o discurso sobre o massacre na cidade dos arredores de Kiev, alegando que foi a Ucrânia que matou “inocentes” e que esta operação de “bandeira falsa” serviu para legitimar o “genocídio como método de guerra”.

Assegurando que as forças armadas russas não têm como alvo civis e que “nem um único residente de Bucha sofreu qualquer violência às mãos dos russos”, o alto responsável diplomático responsabilizou o regime de Kiev de trazer de “volta” os “pesadelos da II Guerra Mundial”, numa alusão a um dos objetivos da invasão: a desnazificação.

“Foi encenado. […] É uma falsa narrativa apresentada por Kiev”, afirmou Vassily Nebenzia, asseverando: “O Presidente Zelensky confirmou o genocídio como método de guerra”. O embaixador descreveu que havia um vídeo que provava (apesar de não o ter divulgado) que os nacionalistas ucranianos matavam civis, apelando assim ao Conselho de Segurança que debatesse o assunto e que garantisse o respeito pelo direito humanitário na Ucrânia.

Além disso, o embaixador, para provar a versão russa, recorreu a publicações nas redes sociais de vários responsáveis ucranianos na cidade de Bucha, após as forças russas terem abandonado a cidade, a 30 de março. Primeiramente, Vassily Nebenzia mostrou um vídeo do autarca da cidade, Anatoliy Fedoruk, já em abril, supostamente a “sorrir”, em que falava sobre a vitória ucraniana e a expulsão das forças da Rússia. Seguidamente, mostrou uma fotografia do deputado Zhan Belenyuk com um soldado da Ucrânia.

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Zhan Belenyuk, deputado ucraniano, com um soldado do país em Bucha

Zhan Belenyuk, deputado ucraniano, com um soldado do país em Bucha

Para o embaixador russo, não faz sentido que estes dois responsáveis ucranianos mostrassem fotografias em Bucha, tendo em conta o cenário depois descrito pela Ucrânia, que incluía valas comuns e corpos nas ruas. “Por é que nunca mostraram as atrocidades?”, questionou, vincando que “não havia nem um sinal delas”.

Duvidando da credibilidade das imagens divulgadas pela Ucrânia, Vassily Nebenzia apontou que era impossível que os russos tivessem cometido as atrocidades. “Não há corpos em decomposição, as feridas não têm sangue”, atirando que era “contra a lei da biologia”, dado que o exército russo deixou de ocupar Bucha no final de março.

O embaixador sublinhou que as “falsas atrocidades” que foram acusadas pela Ucrânia, em parceira com o Ocidente, têm como objetivo “descredibilizar e desumanizar” as forças russas, colocando “pressão política” no Kremlin. Prometendo que há mais provas e documentos que comprovam a versão russa, Vassily Nebenzia anunciou que o Conselho de Segurança se reunirá na terça-feira para discutir o assunto.

Esta reunião do órgão da ONU foi adiada pela presidência do Conselho de Segurança (controlada pelo Reino Unido), visto que a Rússia tinha pedido que tivesse lugar esta segunda-feira. Por conseguinte, Vassily Nebenzia criticou ainda o Reino Unido por ter recusado o encontro, “algo inacreditável e sem precedentes na história das Nações Unidas”.