O Chega vai apresentar uma moção de rejeição ao programa do Governo de António Costa e na primeira semana como terceira força política na Assembleia da República, o líder do grupo parlamentar, Pedro Pinto, diz que “em política não se pode passar pelos pingos da chuva”, numa alusão À rejeição do Governo. O líder da bancada do Chega diz que “ninguém acreditava que Fernando Medina fosse ministro das Finanças” e assegura que a nova assessora do grupo parlamentar, Cristina Rodrigues, colabora em todas as iniciativas, incluindo na proposta de redução do IVA da tauromaquia.

[Ouça aqui O Sofá do Parlamento com a entrevista a Pedro Pinto e a confusão com a chamada dos deputados para eleger o novo presidente da Assembleia da República]

Líder parlamentar do Chega: “Claro que Cristina Rodrigues colaborou com o projeto do IVA da tauromaquia”

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Nesta primeira semana já está bem instalado nesta nova casa que agora é o seu trabalho diário? 
Não tem sido difícil esta adaptação, já conhecia os corredores do Parlamento. É um sentimento de grande responsabilidade porque sabemos que somos a terceira força política e liderar uma bancada desta dimensão é difícil, mas estamos  cápara trabalhar.

É também nestes corredores que se vão cruzando com deputados de outros partidos. O Chega tem-se queixado de ter sido colocado à margem. Já falou com outros líderes parlamentares? Já bebeu café com um deputado de outro partido? 
Por acaso não. Eles às vezes, quando veem os deputados do Chega fogem um bocadinho, mas isso é perfeitamente normal. Têm que se habituar. Têm que se habituar aos deputados do Chega porque viemos para ficar.

E disponíveis para essa colaboração? Para abrir portas para que outros vos acompanhem nas iniciativas que aqui vão propor? 
Nunca perdendo o ADN do partido, o nosso programa é publico, quem nos quiser acompanhar pode fazê-lo. Não fechamos a porta a ninguém ao contrário de outros partidos e penso que estas eleições vieram explicar que não haverá Governo à direita sem o Chega. Isso viu-se nestas eleições: o Chega é a terceira força política, o PSD está em decréscimo, o CDS desapareceu e a Iniciativa Liberal tem que definir de que lado é que está, se à esquerda ou à direita, porque eles no Parlamento até queriam ficar entre o PS e o PSD e isso pode ser um sinal.

Sobre o lugar a ocupar o Chega não teve dúvidas?
Nenhuma. O lugar do Chega é o mais à direita, mas havia certamente partidos que preferiam meter-nos fora do Parlamento mas o povo português não quis isso.

O Chega vai apresentar uma moção de rejeição ao programa do Governo, que começa a ser debatido esta quinta-feira. Não pergunto o que é que gostava que os partidos à direita votassem, mas o que é que acha que vão votar? 
Essa pergunta terá que ser feita ao líder do PSD e da Iniciativa Liberal. O Chega apresentou essa moção por duas razões: este é um programa de Governo que é um programa eleitoral, que não fala de economia, do turismo, do mundo rural, de tudo aquilo que se pretende que existam respostas, ainda para mais no período de guerra que se vive em que estamos a atravessar uma crise e que será maior ainda. Os portugueses queriam um programa de Governo com reais soluções e este programa não diz isso, é um programa eleitoralista e nunca podíamos estar de acordo com este programa. Em política não podemos apenas dizer que não estamos de acordo e depois quando for a votar, o voto ser contra ou a abstenção. Tem que se marcar uma posição forte e firme e foi isso que o Chega fez ao apresentar a moção de rejeição. O que é que fará o PSD e a Iniciativa Liberal? Têm aqui a hipótese de dizer se vão ser realmente oposição ou se a única oposição será o Chega.

Acha que é um primeiro sinal que têm que dar? 
É um primeiro grande sinal. Não podemos dizer mal do programa do Governo e depois quando chega a altura não votar a favor, andando entre os pingos da chuva. A política não se faz assim. Nós estamos aqui para fazer oposição, eles só têm que fazer a mesma coisa

Deixou aqui críticas ao programa do PS. O presidente do Chega apelidou-o também de ser um programa com “altivez” e “arrogância”. Isto não é o Chega chateado por ter ficado de fora das conversações com António Costa? 
Não, o Chega nunca responderia dessa maneira. O Chega é a voz dos portugueses comuns e lá em casa agarram neste programa de Governo e não tem sumo nenhum. Não tem medidas para a economia e depois quando vemos Fernando Medina como Ministro das Finanças os portugueses metem as mãos à cabeça, porque ninguém acreditava nisto. Ou quando veem Marta Temido continuar como ministra da Saúde. Perguntem, por exemplo, aos algarvios o que é que dizem de Marta Temido quando as pessoas estão em lista de espera há mais de 1000 dias por uma consulta, quando a urgência pediátrica do Hospital de Faro fecha de noite obrigando as pessoas a percorrer 200 quilómetros por uma urgência.

Mas os portugueses quando deram a maioria absoluta ao PS não o fizeram contando com Fernando Medina e Marta Temido? Que até estavam nas listas em lugares de destaque 
Julgo que não. Julgo que a grande maioria das pessoas que votaram no PS nunca pensaram que Fernando Medina pudesse ser ministro das Finanças. Ninguém acreditava. Falava-se disso mas ninguém acreditava. Um presidente da Câmara de Lisboa que deixou a dívida que deixou, que deixou 1 milhão e 200 mil euros por pagar por causa de ter passado dados de ativistas à Rússia e agora como prémio é ministro das Finanças. Por amor de Deus.

Acha que o PSD, num processo de saída do atual presidente, pode dar mais liberdade para acompanhar o Chega nesta moção de rejeição? 
Isso caberá ao PSD decidir. O PSD podia dar um sinal de que lado é que está: se do lado do centro-esquerda se do lado do centro-direita e da direita. Está na mão do PSD fazer isso. Nós fazemos o nosso papel, o PSD fará o que entender.

Do que já conhece dos mecanismos de funcionamento do Parlamento. Acha que há o risco do Chega não conseguir deixar a sua marca por causa da maioria absoluta ou há formas disso acontecer? 
O Chega deixará sempre a sua marca porque os 400 mil eleitores mandataram-nos para fazer uma oposição credível e é isso que vamos fazer. Nós com um grupo parlamentar conseguimos fazer o que não conseguíamos só com um deputado, que é levar as nossas propostas a debate, mesmo que sejam chumbadas, o que é normal porque o PS tem uma maioria absoluta, mas conseguimos sempre que a nossa voz seja ouvida. Por exemplo, no caso da prisão perpétua, que não nos deixaram discutir na última legislatura. Quando as pessoas veem uma mãe que mandou uma menina aos porcos livre e a viver tranquilamente, quando o pai da jovem Valentina está na prisão a jogar Playstation, as pessoas lá em casa não entendem isso, ninguém pode entender. Estas pessoas não são presas a sério, por isso é que defendemos uma reforma judicial. E com um grupo parlamentar vamos conseguir apresentar todas essas propostas.

Falou dessa prioridade, há também outros projetos que já deram entrada na primeira semana: a criminalização do ódio às forças policiais, as máscaras, a idade do casamento e há um outro que é a descida do IVA da tauromaquia. A nova assessora jurídica do grupo parlamentar do Chega, Cristina Rodrigues, colaborou neste texto? 
A Cristina Rodrigues é funcionária do nosso partido na Assembleia da República. Obviamente tudo passará por ela e passou também por ela, claro que sim.

Acha que com um grupo parlamentar fará com que os partidos fiquem mais disponíveis para acompanhar o Chega? 
Os primeiros sinais não vão nesse sentido, se olharmos por exemplo para o chumbo das vice-presidências aqui na Assembleia percebe-se que existe uma maioria de bloqueio ao Chega. Nós sentimos isso até aqui nos corredores, mas vamos continuar o nosso trabalho e a apresentar as nossas propostas. Cabe aos outros partidos e ficará com eles esse ónus, se nos apoiam ou não,

O Chega não fará uma tentativa de aproximação ao sistema? 
O Chega é anti-sistema porque a direita e a esquerda têm enganado os portugueses e nós somos contra esse sistema. Este é o nosso ADN, não o perdemos, agora se nos acompanham ou não isso ficará com eles

Ainda assim, anti-sistema mas a quererem um lugar na vice-presidência…..
Mas nós temos que nos gerir com as regras do sistema de hoje. Não podemos chegar aqui e fazer uma revolução. Nós aqui temos que cumprir as regras do sistema.

Augusto Santos Silva perguntou ontem se os partidos que não elegeram vice-presidentes querem apresentar novas propostas. O Chega vai fazê-lo? Quando? 
Na altura em que for delineada certamente que o vamos fazer. Mas não para já

A meio desta sessão legislativa? 
Talvez.

E que nome é que vão propor? 
Vamos aguardar. Haverá uma reunião entre o líder do partido e os deputados. Já temos definido na cabeça um nome.

Poderá ser o próprio líder do partido? 
Isso certamente que não.

Esta quarta-feira definiram-se também as comissões parlamentares. O Chega terá algumas vice-presidências mas existiu alguma questão sobre não integrar o Chega? 
Pelo menos seis, mas existirá ainda uma reunião.

Mas admite que os outros partidos possam colocar entraves? 
Eu já nem quero falar em gestos anti-democráticos. Nem quero que se pense nisso. Se andarmos estes anos todos com partidos como o Bloco de Esquerda e o PCP que defendem partidos como a Venezuela e agora estão a tentar bloquear o Chega. Vamos aguardar serenamente.

Ainda nessa questão das vice-presidências, Gabriel Mithá Ribeiro apontou a questão do racismo. Num partido que diz que não existe racismo, o Chega e o Pedro Pinto revêm-se nestas declarações? 
Não, ficou aqui a prova nesse dia de que não existe racismo. Se existisse racismo, a esquerda que tanto apregoa o racismo teria que votar em Gabriel Mithá Ribeiro. Provou-se aqui que o racismo não existe em Portugal.

Portanto as declarações de Mithá Ribeiro são incoerentes? 
Acho que não se percebeu bem o que o professor Gabriel Mithá Ribeiro quis dizer. A realidade é esta: não existe racismo em Portugal. Ficou provado com a vice-presidência.

E já falou com ele para esclarecer a mensagem? 
Não tenho dúvidas de que o que ele quis dizer foi isto.