Mais do que uma realidade conjuntural como se resultasse de uma mera geração superior às restantes, a presença das equipas portuguesas na Youth League é desde a sua criação uma constante estrutural. Exemplos práticos: em sete edições, houve sempre pelo menos um conjunto nacional nos quartos e em mais de metade das finais da competição esteve uma formação nacional entre três derrotas do Benfica (2014 com Barcelona, 2017 com Red Bull Salzburgo  e 2020) e a vitória do FC Porto em 2019 frente ao Chelsea. Na oitava edição da prova cancelada em 2020/21 devido à pandemia, o fenómeno manteve-se em relação aos oito melhores da competição mas com uma novidade: iam jogar entre elas. E entre Sporting e Benfica apenas um teria bilhete assegurado para a Final Four, sabendo que iria defrontar a Juventus nas meias no dia 22.

Tudo preparado na Academia Cristiano Ronaldo em Alcochete, que contaria com casa cheia para o dérbi dos mais novos, mas com um histórico recente que apontava claramente para um favorito no plano teórico ao triunfo: contas feitas, desde dezembro de 2017 que o Sporting não conseguia vencer o Benfica nos Sub-19, num total de 13 encontros onde os encarnados foram superiores ou tudo acabou empatado. E era nesse contexto que ambos os técnicos tinham lançado o jogo, mantendo a célebre máxima do “50/50”.

“Estamos muito satisfeitos de poder defrontar o Benfica nesta fase e de demonstrar o nosso valor. É um grande mérito da formação do Sporting. É um adversário muito difícil mas acredito que estamos preparados. Vai ser um jogo muito equilibrado e quem pode fazer a diferença são os adeptos. Já fizemos história nesta competição e desse ponto de vista é uma oportunidade para mudarmos a história”, comentara Filipe Pedro, técnico de um conjunto verde e branco que passou pela primeira vez a fase de grupos e que na semana passada foi também à Roménia eliminar o Dínamo Kiev num encontro com uma grande carga emocional.

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“A pressão é igual para os dois, Sporting e Benfica querem passar. É um jogo 50/50. Infelizmente vamos jogar fora porque o sorteio assim ditou mas vamos encarar o jogo para  vencer. Histórico recente de triunfos? É a qualidade individual que temos no clube, temos muitos bons jogadores. Mas agora vão entrar em campo conjuntos que não estão a trabalhar juntos. O Sporting também baixou jogadores da equipa principal. São jogos completamente diferentes”, salientara Luís Castro, treinador dos encarnados que ganharam a fase de grupos, eliminaram o Midtjylland nos oitavos e são também líder do Campeonato Nacional Sub-19.

No final, foi mais do mesmo. E o resultado poderia até ter outros números caso se mantivesse a mesma cadência de saídas em transição do Benfica na última meia hora. Mais uma vez, os encarnados mostraram que são a melhor equipa Sub-19 no plano individual mas sobretudo coletivo, revelando uma maturidade competitiva muito acima de todos os outros. Com isso, e em mais uma tarde inspirada de Diego Moreira que marcou dois golos e fez outras tantas assistências na goleada por 4-0, o conjunto da Luz chega à Final Four pela quarta vez, metade das oito edições que a prova leva. E sempre que lá foi, conseguiu também chegar sempre ao jogo decisivo faltando apenas conquistar o troféu – e esse volta a ser o objetivo para 2021/22.

O encontro começou com um encaixe quase perfeito entre as equipas que manteve a bola longe das balizas nos 25 minutos iniciais. Existiam nuances diferentes, como as zonas de pressão mais altas do Benfica sem bola e a aposta na construção pelo meio antes de procurar as laterais por parte do Sporting, mas a estratégia dos dois conjuntos passava sempre por sair a jogar a partir de trás e procurar os espaços em terrenos mais avançados que muitas vezes escasseavam. Assim, foi preciso esperar e muito pela primeira tentativa a visar a baliza através de Rodrigo Ribeiro, num remate de fora da área que saiu muito perto da trave (26′), seguido de uma tentativa de Luís Semedo travada pelo guarda-redes Diego Callai (27′). Seria a eficácia a ditar leis até ao intervalo, com Pedro Santos a inaugurar o marcador para os encarnados ao segundo poste após cruzamento de Diego Moreira num lance em que Chico Lamba ficou a colocar o ala contrário em jogo (29′).

Os leões teriam de fazer algo mais para anularem o avanço dos visitantes e no reatamento houve uma subida de linhas que trouxe outras dificuldades aos encarnados em saírem a jogar como no primeiro tempo mas em pouco mais de dois minutos o Benfica sentenciou a partida em transições rápidas que voltaram a demonstrar as vulnerabilidades dos centrais verde e brancos: primeiro foi Pedro Santos a passar por Chico Lamba e a assistir Diego Moreira na área para o 2-0 (57′), depois os papéis inverteram-se e foi Diego Moreira a assistir da esquerda Pedro Santos para o 3-0 (59′). Filipe Pedro reagiu com três substituições mas a vitória do Benfica já estava sentenciada e ainda mais ficou após a expulsão de Chico Lamba pouco depois (64′). Diego Moreira, em cima do minuto 90, fechou as contas numa recarga após defesa de Diego Callai.