Logo para começar, o que é isso da Finalíssima? Resposta curta: um troféu que se joga entre o campeão da Europa (Itália) e o campeão da América do Sul (Argentina). Resposta um pouco mais desenvolvida: uma nova prova do calendário internacional que resulta de um acordo entre UEFA e CONMEBOL que não só aposta num confronto entre os seus expoentes máximos como abre a porta à possibilidade de entrada dos sul-americanos na Liga das Nações como forma de responder à vontade da FIFA em fazer o Mundial de dois em dois anos. Resposta ainda mais detalhada: além de tudo isso, recuperava uma das competições que já tinham existido no passado mas que não tiveram propriamente uma longa existência ao longo do tempo.

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Na verdade, houve apenas duas edições até este encontro em Wembley, onde a Itália no último verão foi campeã europeia no desempate por grandes penalidades frente à Inglaterra (num jogo que também teve os mesmos problemas que se registaram agora em Paris na final da Champions antes do jogo). Em 1985, a França que tinha Michel Platini como grande figura e que eliminara Portugal nos meias do Euro-84 por 3-2 no prolongamento bateu o Uruguai por 2-0; em 1993, a Argentina de Diego Maradona derrotou a surpresa Dinamarca, que ganhara o Euro-92 após ser “repescada” pela Guerra na Jugoslávia, nos penáltis (1-1, 5-4). Depois, quase de forma natural, o então troféu Artemio Franchi caiu do calendário. Até agora.

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O mediatismo da competição pode não ser propriamente o maior mas um Itália-Argentina será sempre um Itália-Argentina. No saldo geral, os transalpinos levavam vantagem com seis vitórias, cinco empates e só quatro derrotas em 15 jogos (a maioria de carácter particular). No passado recente, os argentinos levavam vantagem, com três vitórias em 2001, 2013 e 2018 depois do encontro mais marcante entre as seleções em encontros oficiais, quando a Argentina de Maradona venceu a Itália nas grandes penalidades nas meias-finais do Mundial de 1990 em que o San Paolo, em Nápoles, estava dividido por quem torcia. Ou seja, neste século só os sul-americanos sabiam ganhar. E estavam num melhor momento.

Com Scaloni no comando técnico, a seleção das Pampas conseguiu igualar o recorde de Alfio Basile com um total de 31 jogos consecutivos sem derrotas entre a qualificação para o Mundial, a Copa América e mais uns jogos particulares. O recorde podia ter sido batido naquele polémico encontro com o Brasil que ainda não se realizou, depois da interrupção por parte das autoridades sanitárias nos minutos iniciais para tentar deter quatro jogadores, mas a oportunidade surgia agora nesta Finalíssima contra uma Itália em viragem de ciclo, ainda a recuperar de nova ausência na fase final do Mundial e a querer dedicar um último troféu a um dos bastiões da seleção na última década, Chiellini. No entanto, para o defesa ficou só um “obrigado” pela carreira que teve e para Ángel Di María chegou o terceiro título a marcar e com um chapéu na decisão: Jogos Olímpicos, Copa América e Finalíssima. E é nesta altura um jogador livre, já com essa garantia de que vai deixar também a seleção argentina depois do Campeonato do Mundo do Qatar.

Depois de um início sem grandes oportunidades a não ser um remate de Raspadori que Emiliano Martínez conseguiu encaixar (alguns anos depois os argentinos parece terem consolidado um guarda-redes seguro na titularidade), os transalpinos pareciam estar melhor no encontro também pelas boas ações de Emerson e Jorginho a passarem as barreiras de pressão contrárias mas na primeira vez que Messi teve espaço, a Argentina teve golo: recuperação em zona adiantada, arranque do esquerdino a deixar Di Lorenzo para trás e cruzamento tenso para Lautaro Martínez encostar para o 1-0 (28′). Os transalpinos acusaram o golo, não tiveram a mesma desenvoltura nas saídas para o ataque e foram apanhados ainda numa transição, com Lautaro a colocar nas costas da defesa para Di María picar por cima de Donnarumma (45+1′).

No segundo tempo, e quando se pensava que a Itália iria ter argumentos para pelo menos reentrar no jogo, foi a Argentina a dominar ainda mais, a criar várias oportunidades sobretudo com Di María a ser um autêntico quebra-cabeças para a defesa adversária e a ver Donnarumma tornar-se na grande figura da Itália com uma série de intervenções que foram impedindo outra expressão no resultado. Ainda houve algumas quezílias, sobretudo após uma entrada mais dura de Di Lorenzo sobre Messi quando os sul-americanos estavam quase a jogar sem baliza só a trocar bola, mas tudo acabou de forma pacífica perante o triunfo incontestável que chegou ainda ao 3-0 em período de descontos, com um remate de pé esquerdo colocado de Dybala, de uma Argentina que ganhou consistência enquanto equipa a caminho do Mundial frente a uma Itália que terá de iniciar um novo ciclo, com novas caras e novos objetivos desportivos.