Os Açores ainda conseguem manter a sustentabilidade das atividades marítimo-turísticas, mas é preciso estudar o seu impacto no meio ambiente, defendeu a bióloga Adriana Ressurreição, esta quinta-feira.

Precisamos de alguns estudos na parte ecológica para percebermos melhor os impactos destas atividades no meio ambiente. Contudo, penso que nos Açores, o facto de atividades como o ‘whale watching’ [observação de cetáceos], que atraem um maior número de pessoas, estarem definidas por licenças e não poderem crescer, com base na sua capacidade de carga, dá uma garantia de sustentabilidade e de bem-estar ecológico”, avançou, em declarações à Lusa, a investigadora.

Coautora de um estudo sobre o impacto económico do ecoturismo marinho nos Açores, Adriana Ressurreição defendeu que a pegada ecológica de atividades como a observação de cetáceos, o mergulho e a pesca grossa têm particular importância no arquipélago, que deve apostar num crescimento turístico “sustentável e muito bem planeado e gerido”.

“Após a pandemia de Covid-19, cada vez mais se vão procurar este tipo de destinos, como os Açores, em que não existe turismo de massa. É muito importante que os Açores mantenham este traço definidor: um destino onde não existe turismo de massa, onde se valoriza o legado cultural e as tradições e onde se valoriza a sua componente natural”, frisou.

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A investigadora do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve considerou, por isso, que a região deve expandir as suas áreas marinhas protegidas, “fundamentais para a sustentabilidade de um setor”, que agora se percebeu que “tem um impacto importante na economia do ecoturismo marinho”.

De acordo com o estudo, publicado em 2022 e assinado por oito investigadores de diferentes universidades, os turistas que praticam observação de cetáceos, mergulho e pesca grossa nos Açores deixam cerca de 210 milhões de euros, por ano, na economia do arquipélago.

O ecoturismo marinho é um “setor-chave para o crescimento azul”, mas tem de haver um compromisso com a sustentabilidade destas atividades, segundo Adriana Ressurreição.

“É fundamental que se deem alguns passos para contribuirmos para a descarbonização do setor do turismo, por exemplo, que haja um maior investimento ou que as empresas tenham possibilidade de aceder a financiamento para haver reconversão de barcos, sejam elétricos ou solares, para que se contribua para diminuir a pegada de carbono, que é bastante acentuada no setor do turismo”, sublinhou.

O estudo que avaliou o impacto económico do ecoturismo marinho nos Açores concluiu que a observação de cetáceos é a atividade com maior procura na região, com cerca de 58 mil participantes por ano, mas o número de licenças atribuídas aos operadores está limitado pela capacidade de carga.

“É importante que se mantenha, para que não cause um impacto muito significativo nos golfinhos e nas baleias”, ressalvou a bióloga.

Com a introdução do mergulho com tubarões nos Açores, o mergulho foi “uma das atividades que mais cresceram nos últimos anos” na região e, “provavelmente, nos próximos anos continuará a crescer”.

“Naturalmente estas atividades têm uma forte sazonalidade e, como só ocorrem nos meses de verão, o seu crescimento está balizado pelo número curto de meses em que elas podem ser realizadas”, apontou Adriana Ressurreição.

Para além de acautelar o impacto no ecossistema, o ecoturismo marinho deve ter em contra, no seu crescimento, um compromisso com o bem-estar da população, para não afetar “a qualidade de vida da comunidade residente”, segundo a investigadora.

O Serviço Regional de Estatística dos Açores (SREA) fez inquéritos, em 2006 e 2018, para avaliar a perceção dos residentes ao crescimento do turismo (em geral) na região.

As conclusões indicam que “ainda há uma perceção da população de que o turismo é importante para alavancar a economia regional, que o dinheiro que é gasto pelos turistas fica na região, ajuda no desenvolvimento económico da região e ajuda a promover a sensibilização ambiental”.

Ainda assim, Adriana Ressurreição considerou que “é importante que se continue a monitorizar qual é a perceção da comunidade residente em relação ao turismo e em relação a estas atividades em particular”.

Ecoturismo marinho rende cerca de 210 milhões por ano nos Açores, revela o estudo

Os turistas que praticam observação de cetáceos, mergulho e pesca grossa nos Açores deixam cerca de 210 milhões de euros por ano na economia do arquipélago, adiantou a bióloga Adriana Ressurreição à Lusa, também esta quinta-feira.

Tendo em conta apenas os turistas dedicados [que se deslocam à região de propósito], estas atividades geram um impacto de 80 milhões de euros por ano. Se tivermos em atenção todas as pessoas que fizeram estas atividades nos Açores, o seu impacto económico pode chegar aos 210 milhões de euros”, avançou, em declarações à Lusa, a bióloga, uma das autoras de um estudo publicado em 2022 sobre o impacto económico do ecoturismo marinho no arquipélago.

Assinado por oito investigadores de centros marinhos e universidades dos Açores, de Faro, de Coimbra e de Edimburgo (Escócia), incluindo o ex-ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos, o estudo avalia o impacto de três das atividades marítimo-turísticas sustentáveis com maior procura no arquipélago: a observação de cetáceos, o mergulho e a pesca grossa (pesca recreativa de peixes de grande dimensão).

Com base num “inquérito de larga escala”, que envolveu 1.740 turistas e 49 operadores marítimo-turísticos (mais de 90% dos operadores ativos na região), os investigadores calcularam os gastos com as atividades praticadas, mas também com alojamento, alimentação e outros consumos (exceto o preço dos voos).

A observação de cetáceos “é responsável por cerca de 87% do número total” de ecoturistas marinhos nos Açores e “corresponde a mais de 70% do impacto económico” estudado.

“O ‘whale watching’ [observação de cetáceos] é a atividade que atrai mais visitantes à região e é aquela que tem um impacto económico mais significativo. São mais de 58 mil participantes, enquanto os que fazem mergulho são 7.764 e os que fazem ‘big game fishing’ [pesca grossa] são menos de mil”, adiantou Adriana Ressurreição.

No entanto, os turistas que fazem mergulho e pesca grossa escolhem os Açores, na sua maioria, especificamente para praticarem estas atividades.

“São aqueles que têm maior percentagem de turistas dedicados. Não teriam ido para os Açores se não fosse mesmo para fazer estas atividades. No caso dos mergulhadores, estamos a falar de 78% e nos ‘big game fishers’ 74%. No ‘whale watching’, apenas menos de um terço foi aos Açores pelo propósito”, explicou a investigadora do Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve.

O nível de especialização necessário nestas duas atividades é maior e os gastos são, normalmente, mais elevados.

“Um ‘big game fisher’, por estadia de cerca de oito dias, deixa mais de 7.000 euros na região”, revelou a autora do estudo.

Além de serem atividades “que não retiram nada do meio ambiente”, a observação de cetáceos, o mergulho e a pesca grossa têm um “perfil de turista diferenciado e que deixa mais dinheiro na região”.

“Comparando um visitante normal não diferenciado e um ecoturista marinho, percebemos que as estadias são maiores para o ecoturista marinho e que o seu padrão de despesa, o dinheiro que gasta na região, é bastante mais elevado, às vezes mais do que o dobro”, frisou Adriana Ressurreição.

O montante deixado na região pelos turistas que procuraram os Açores em específico para realizar estas três atividades (80 milhões de euros) corresponde “cerca de 2,2% do Produto Interno Bruto (PIB) regional”.

Segundo o estudo, a observação de cetáceos, o mergulho e a pesca grossa “geram entre 400 e 500 empregos diretos” no arquipélago, ainda que mais de metade (68%) seja sazonal (entre três e seis meses).