Para os especialistas, é evidente que as alterações climáticas vão provocar o aumento das ondas de calor, como a que nos primeiros 17 dias deste mês elevou o registo dos termómetros para a média mais alta dos últimos 22 anos. Nas redes sociais multiplicaram-se os posts de condutores com fotos a documentar temperaturas atípicas a bordo do carro, pelo que convém estar preparado para enfrentar da melhor maneira possível a próxima onda de calor.

Como é altamente provável que se venham a repetir os 40 graus centígrados médios da temperatura máxima do ar do passado dia 13 de Julho (o quinto dia mais quente dos últimos 23 anos em Portugal Continental), importa recordar que refrescar a temperatura no interior do veículo não é simplesmente um capricho de conforto: é também uma medida de segurança.

Uma pesquisa realizada pela Seat, em 2018, sinalizou o perigo de conduzir sob temperaturas elevadas. Um dos engenheiros do Centro Técnico do construtor espanhol referiu, na altura, que assumir o volante estando 35ºC no interior do automóvel é muito diferente de conduzir com 25ºC a bordo. O tempo de reacção fica 20% mais lento, com esta demora a equivaler ao atraso de resposta de alguém que conduz sob o efeito do álcool, com uma taxa de alcoolemia a rondar os 0,5 g/l.

Guiar com 35ºC no carro é como conduzir embriagado

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Sucede que nos dias mais quentes, na ânsia de rapidamente baixar a temperatura a bordo, muitos condutores cometem o erro de ligar o ar condicionado do veículo no máximo ou apontá-lo à cara. Até pode parecer que, ao fazê-lo, o arrefecimento é mais imediato, mas não é. Há “truques” para tirar o melhor partido da climatização, usando-a mais eficazmente. E o primeiro – quase a regra de ouro – passa por resistir à tentação de o ligar no máximo mal entramos no carro. Com esse gesto só pioramos a nossa situação, pois o ar que vai inundar o habitáculo estará muito quente.

O truque japonês que faz sentido em todo o mundo

Nas redes, foi viral o truque partilhado por um cidadão do Japão que promete refrescar o interior do carro num ápice. Não requer grandes habilidades, mas também não funcionará como uma refrescante poção mágica, pois consiste simplesmente em replicar o efeito de uma ventoinha, “empurrando” o ar quente para fora do carro. Para tal, é preciso primeiro abrir uma janela e, depois, abrir e fechar repetidamente a porta do lado oposto, para expulsar o calor. Este procedimento pode ser feito durante um minuto ou pouco mais, sendo à partida mais eficaz do que abrir todas as portas e janelas do automóvel e esperar um pouco, antes de entrar no veículo e ligar o ar condicionado, como habitualmente é aconselhado. Porém, uma vez a bordo, a climatização é a melhor aliada para deslocações mais cómodas e seguras.

Ligue o motor e arranque que ajuda a refrescar

Passada a fase do arejamento, que é essencial embora possa parecer um teste de resistência quando estamos à mercê de um sol abrasador, é um erro ficar parado dentro do carro com o ar condicionado programado no máximo. Para refrescar mais rapidamente o habitáculo, o ideal é ligar o motor e não esperar que o ar condicionado baixe a temperatura interior para iniciar a marcha. Por duas razões: primeiro, porque estará a desperdiçar combustível; segundo, porque com o motor em funcionamento, o compressor do ar condicionado gira mais depressa, optimizando o desempenho do sistema. Desta forma, consegue-se um arrefecimento mais rápido. Assim, os primeiros metros ainda podem ser feitos de janela aberta, para continuar a ventilar, mas mal comece a sentir o ar frio libertado pelas saídas de ventilação, feche os vidros.

Devagar acaba por ser mais depressa

Em alguns países, a temperatura no interior de um veículo pode chegar aos 60ºC, daí as tragédias que por vezes acontecem com filhos ou animais que ficam “esquecidos” dentro do carro, com as janelas fechadas. Ao contrário do que seria de supor, temperaturas tão elevadas não exigem medidas drásticas, mas sim alguma calma. Significa isto que, para quem tem um esquema de ar condicionado convencional, o melhor é ir ajustando gradualmente a temperatura a bordo.

Confie no automático e desligue a recirculação

Modelos mais recentes, equipados com a função Auto, simplificam a vida do condutor, na medida em que o sistema gere sozinho a melhor forma de atingir e de manter a temperatura seleccionada. E o ideal para garantir que o condutor não vê diminuída a sua capacidade de reacção ao volante, segundo os especialistas, é conduzir com uns amenos 21,5ºC – uma temperatura confortável seja Inverno ou Verão.

Activar o Auto e pedir logo que a temperatura interior fique pelos 16.ºC, quando a ideia é regulá-la pelos 20/ 21.ºC, não é a medida mais inteligente, tal como a recirculação de ar é desaconselhada. O melhor é confiar nos ajustes automáticos para ter mais depressa a temperatura com que pretende fazer a viagem. Importa lembrar que, mesmo com o Auto activado, por vezes não resistimos e aumentamos a intensidade da ventilação. Acontece que, ao fazê-lo, desactivamos a função automática e passamos para um controlo manual da temperatura, cuja eficácia fica uns furos abaixo do Auto.

Esqueça o ventinho na cara

Em dias de calor, sabe tão bem! O problema é que é um desperdício – a não ser que se pretenda apenas sentir uma brisa refrescante no rosto. Mas se a ideia é espalhar o mais depressa possível o ar frio pelo habitáculo, nada como direccionar as lamelas das saídas de ar para cima. Se estiverem apontadas para o tejadilho, a distribuição do ar frio é mais uniforme e eficaz.

Sem o básico, o acessório não funciona tão bem

Para tirar o melhor proveito do ar condicionado do seu carro, não se esqueça de uma regra elementar. É essencial fazer a manutenção prevista, isto é, tal como acontece com a verificação do óleo ou a troca de pneus. No caso do ar condicionado, recomenda-se uma “revisão” a cada dois anos ou 20.000 quilómetros. De notar ainda que os filtros do ar condicionado não são um consumível muito caro e devem ser substituídos com regularidade, para melhorar a qualidade do ar a bordo.

À sombra, sempre que possível. E com pára-sol

Por fim, duas variáveis que nada têm a ver com o ar condicionado, mas que facilitam a tarefa deste ou livram o condutor de mais uns pingos de transpiração e, por tabela, minimizam a possibilidade de surgir aquelas embaraçosas manchas de suor na roupa. Sempre que possível, estacione à sombra, pois essa dádiva permite que o interior do veículo não aqueça tanto, o que acaba por agilizar a tarefa da climatização. Mas, quando não há sombra à vista, nada como contar com o contributo do pára-sol para conseguir uma temperatura a bordo dentro dos limites do suportável. Pelo menos, está garantido que não vai soltar tantos “ais” ou “uis” quando a pele contactar com o revestimento dos bancos ou tiver que passar caixa numa alavanca com metal.

Um par de conselhos mais dois sinais de alerta

Quer que o ar condicionado do seu carro não falhe, quando mais vai precisar dele? Então, use-o mesmo que ache que não é necessário. Para evitar a corrosão, removendo a água acumulada no filtro, o ar condicionado deve trabalhar pelo menos uns 20 minutos por mês.

O outro conselho tem a ver com o fim da viagem. Chegou a casa já “fresquinho” e desliga o carro com o ar condicionado ainda ligado. É prático, mas não faz muito bem à saúde do equipamento, cujo compressor se pode ressentir e vir a exigir alguma atenção (acompanhada da respectiva factura).

De resto, fique atento ao que o ar condicionado do seu carro lhe diz. Se a forma de expressão for um odor desagradável, pode estar a queixar-se de um entupimento ou a pedir uma limpeza (esta “receita” também se aplica quando o fluxo de ar esmorece). Já se entra no carro e, sem motivo aparente, o pára-brisas está embaciado, considere a hipótese de ter uma fuga no sistema de refrigeração.