A Associação Industrial de Macau disse à Lusa ser impossível que a importação de alimentos infetados com o novo coronavírus tenha originado o recente surto de Covid-19 na cidade.
“É completamente impossível que os alimentos sejam infetados e entrem no mercado”, disse Lei Kit Hing.
Em termos de alimentos, a estrutura municipal [Instituto para os Assuntos Municipais] e a alfândega são muito rigorosos. Todas as importações de alimentos têm de ser esterilizadas uma a uma por uma máquina, e este processo está a decorrer há um ano sem quaisquer problemas”, sublinhou o dirigente associativo e proprietário da Tak Sang Meat Industries Limited.
“Por exemplo, se for encontrado um teste positivo para o leite, este é destruído imediatamente e não será permitido vendê-lo”, salientou, acrescentando que, tal como na cadeia de frio, cada produto é esterilizado e “as pessoas que o transportam usam vestuário de proteção e deitam-no fora logo após a sua utilização”.
Um importador de alimentos, Ronald Lau, que compra principalmente produtos de Portugal, sublinhou também que tal é improvável.
Cada peça de mercadoria importada para Macau é pulverizada (…) para desinfetar”, esclareceu, para acrescentar: “E nós, normalmente, importamos mercadoria seca, mercadoria à temperatura ambiente que não é demasiado perigosa (…), mercadoria sobretudo oriunda de Portugal, que precisa de alguns meses para chegar a Macau, pelo que o vírus é ‘morto’ no caminho”, explicou o empresário.
As autoridades de saúde de Macau admitem não saber a fonte do pior surto de Covid-19 em Macau desde o início da pandemia, mas reiteraram na terça-feira que provavelmente foi causado por “objetos ou produtos vindos do estrangeiro”.
Na segunda-feira, o diretor dos Serviços de Saúde (SSM) da região administrativa especial chinesa, Alvis Lo Iek Long, disse que o surto se deveu à “importação de produtos” e reconheceu que, “no futuro, pode surgir novo surto”.
“Importação de produtos”causou surto em Macau, diz diretor da Saúde
A 23 de junho, antes do início de um confinamento parcial que durou mais de duas semanas, o chefe do executivo de Macau, Ho Iat Seng, tinha também sublinhado que esta estirpe não era “tão vulgar” na China continental.
“Não sendo por pessoa, provavelmente [a contaminação] poderia ter sido por objetos ou produtos”, acrescentou Leong Iek Hou.
Segundo o portal da Organização Mundial de Saúde (OMS) na Internet, “não há provas até ao momento de vírus que causam doenças respiratórias serem transmitidos através de comida ou embalagens de comida”.
O coronavírus não consegue multiplicar-se em alimentos; precisa de um hospedeiro animal ou humano para se multiplicar”, referiu a OMS.
“É verdade que a maior parte dos surtos são devido a contaminação entre pessoas”, admitiu Leong Iek Hou. Mas, “de acordo com a experiência da China e do exterior, muitas vezes a infeção humana é através de objetos”, acrescentou.
A 12 de julho, a Comissão Nacional de Saúde chinesa anunciou que iria deixar de fazer testes à presença de Covid-19 em produtos importados, exceto congelados.
Desde o início da pandemia, a China suspendeu por diversas ocasiões as importações de produtos de alguns países por associarem as suas mercadorias congeladas a surtos de Covid-19 em cidades chinesas.
Produtos do Brasil, Argentina e Equador, entre outros países, foram apontados como responsáveis por casos positivos nos últimos dois anos, e os respetivos exportadores punidos, no âmbito da rígida política de zero casos de Covid-19 implementada pelas autoridades chinesas.
A 2 de julho, Macau suspendeu, inicialmente durante uma semana, a importação de mangas de Taiwan, após ter detetado vestígios do novo coronavírus, responsável pela Covid-19, no exterior de uma embalagem.
Em resposta, o Conselho de Agricultura, que faz parte do Governo de Taiwan, defendeu não haver provas científicas de que a doença pode ser transmitida através de produtos embalados.
O recente surto em Macau, que segue a política de casos zero de Pequim, infetou mais de 1.800 pessoas e causou seis mortos, idosos que sofriam de doenças crónicas.