O dia, à partida, era de festa. Sérgio Conceição nunca ligou propriamente muito aos números mas chegar aos 300 jogos do Campeonato em dez anos de carreira de treinador não será para todos. No entanto, quase desde início, os sinais que chegavam do banco eram tudo menos de festa. Com muitas correções ao que os laterais portistas (não) faziam, com vontade de inverter um jogo que estava cada vez mais amarrado, com os minutos a passarem ainda com o nulo a resistir. Desde o golo de Zaidu na Luz que valeu a festa do título que o FC Porto não vencia no minuto 90 ou descontos mas foi assim que Marcano, que continuou a ser opção do técnico apesar do regresso de David Carmo (suplente), ofereceu mesmo a vitória.

Marcano, o discreto altruísta que devolveu o voto de confiança a Sérgio (a crónica do Vizela-FC Porto)

“O Campeonato é sempre difícil, todos os jogos têm uma história diferente. Sabíamos que vínhamos a um campo com um treinador que os jogadores conhecem bem, com uma forma de jogar que conhecíamos e por isso devíamos ter feito mais sobretudo na primeira parte de acordo com aquilo que nós somos. Se temos uma forma de jogar e uma dinâmica de jogo, e estou a falar com bola e sem bola querendo ter supremacia sobre o adversário e sendo pressionantes numa zona mais alta do campo, não permitir que o adversário ligue jogo e faça o que gosta, se estamos com menos predisposição e menos determinação, de barriga meio cheia com o último jogo, aí fica difícil, não somos nem uma coisa nem outra”, apontou o treinador na zona de entrevistas rápidas da SportTV, antes de mais críticas à atuação de alguns jogadores.

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“A largura é difícil porque os nossos laterais de trás para a frente não apareciam e não davam o que nós necessitávamos, por dentro estava difícil porque o Vizela com os três médios e até os três da frente foi preenchendo o corredor central e nós fomos lendo o jogo, fomos percebendo o que se estava a passar, a abrir mais o ataque no final, tivemos de baixar e jogar de formas diferentes na segunda parte mudando vários jogadores de posições para criar problemas. Também é mérito do Vizela mas fizeram um remate enquadrado e tiveram outro ao lado… Os jogadores correram mas às vezes correram mal”, disse.

“Eles estavam avisados. Quando olhei para o final do aquecimento e no estágio, há pequenos sinais que nos dão e que nos fazem estar alerta, estar em red line. Não entrámos bem no jogo. As minhas últimas palavras antes de entrarem foi dizer que não se ajustava nada em termos táticos, foi pedir uma entrada forte porque eles são agressivos e sabem o que fazem. Não aconteceu. Eles dão sempre o máximo mas depois temos dificuldades porque há jogadores que, dentro daquilo que é o nosso processo ofensivo, não cumprem. Assim, a equipa fica em dificuldade. Isto é uma maratona, sempre assim”, acrescentou.

Depois, Sérgio Conceição falou ainda do herói improvável que decidiu a partida naquele que foi o segundo jogo consecutivo a marcar (algo que não acontecia há três anos) e abordou o jogo 300 na Liga.

“O Marcano esteve sempre lá. Fez o que competia, defendeu de forma rigorosa, focado naquilo que tinha de fazer, e depois na frente é sempre um jogador muito válido nos esquemas táticos ofensivos. Não é de agora, no ano passado teve uma época difícil mas é mais uma solução. O grupo tem de ser competitivo, com várias soluções para os diferentes lugares. Está a jogar quem merece, quem dá melhores respostas”, frisou.

“300 jogos no Campeonato? Primeiro estou a ficar mais velho, depois tem um misto de sentimentos. Temos o Eduardo [fisiologista] que perdeu o pai, esta vitória também é um bocadinho do Telmo, o nosso preparador físico que faz anos hoje, há um elemento da estrutura que faz parte do balneário que está a passar um momento difícil, agora tive a notícia de que um ex-colega meu está mal no hospital… Estou satisfeito pela vitória e pelos três pontos mas os números não me dizem nada, é da equipa técnica. É um misto de sentimentos…”, concluiu Sérgio Conceição depois do triunfo em Vizela.