O outono pode trazer mudanças na aparente tranquilidade com que a população russa encara a guerra na Ucrânia. O tempo frio, o desemprego criado pela debandada de empresas ocidentais e o incremento do custo de vida podem levar ao aumento do descontentamento social na Rússia, receia o Kremlin.

“No outono, as pessoas regressam a casa de férias. Eles não vão gostar do que se está a passar”, assume uma fonte próxima do Presidente da Rússia, Vladimir Putin, ao órgão independente Meduza. “O verão é basicamente uma altura para uma pausa: está calor e bom tempo. Mas, no outono, toda a gente entende que o inverno está a chegar e [ninguém] espera nada de bom”, conta outra fonte ao mesmo jornal.

Os assessores e conselheiros presidenciais de Vladimir Putin temem que a população perca interesse na guerra e passe mesmo a ter uma opinião desfavorável sobre o conflito na Ucrânia. Aliás, um estudo recente mostra que a população russa que apenas 65% dos entrevistados assistem à televisão estatal russa — que transmite vários programas que debatem a ofensiva —, abaixo dos 86% que o faziam em fevereiro.

E não é só: outra sondagem revela que 55% dos russos estão a favor da guerra. Apesar de ainda ser uma maioria, a taxa de aprovação chegou a ser de 66%.

Um quarto dos russos deixou de assistir à televisão estatal russa aborrecidos com a propaganda pró-guerra de Putin

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Neste contexto, as próximas eleições regionais marcadas para 11 de setembro estão a ser interpretadas pelo Kremlin como um barómetro para entender se a população continua a apoiar Vladimir Putin no que diz respeito à guerra na Ucrânia.

Tendo em conta o possível aumento de descontentamento social, o Kremlin já tem um estratégia planeada, que passa por aumentar os apoios sociais, principalmente junto aos mais pobres. “No outono, esconder-se-á a insatisfação com dinheiro. Pode ser relativamente pouco, mas a população ficará contente ao recebê-lo”, refere fonte do Kremlin ao Meduza.

Uma coisa é certa: Vladimir Putin não vai desistir na guerra da Ucrânia, garantem três fontes da Meduza. O Presidente russo está interessado numa “guerra de longa duração” na Ucrânia — mas vai tentar convencer a população, “atribuindo-lhe apoios sociais”. Resta saber se vai resultar.