O Grupo Volkswagen vai alienar a Porsche, vendendo-a em bolsa através de uma IPO (oferta pública inicial). A operação, já anunciada anteriormente, tem agora data marcada para 29 de Setembro, altura em que a Porsche e o Grupo VW esperam que o construtor de desportivos e de SUV seja avaliado entre 60 e 85 mil milhões de euros, com a família Porsche e Piech a apontar para o limite superior deste intervalo. Mas esta valorização está longe de ser evidente, com muitos analistas a duvidar do valor do fabricante. O HSBC Holdings junta-se ao coro, antecipando um valor apenas entre 44,5 e 56,9 mil milhões de euros, quase metade do inicialmente previsto.

De recordar que a Porsche tentou, em 2009, adquirir o controlo do Grupo VW, reunindo um consórcio de cinco bancos para arranjar capital para comprar uma fatia de 75% do gigante alemão. Ao falhar a angariação da verba necessária, a Porsche acabou por ser absorvida pelo grupo. A manobra agora anunciada visa permitir às famílias antigas donas da Porsche – e que dominam o Grupo VW – voltar a assegurar à Porsche a independência de outros tempos.

A capitalização bolsista estimada pela Porsche, quando anunciou a estreia na bolsa de Frankfurt, deveria andar próximo dos 85 mil milhões de euros, o que permitiria ao Grupo VW encaixar cerca de 9,4 mil milhões de euros com a venda, verba de que necessita para continuar a investir em novos veículos eléctricos. A família Porsche também vê a operação com bons olhos, pois isso permite-lhe voltar a liderar a marca que enverga o nome da família e do seu fundador, recuperando algum grau de independência, uma vez que a família pretende garantir que com o IPO passará a controlar 25%, uma minoria de bloqueio, segundo a Bloomberg.

Sucede que o timing é mau, fustigado pela crise energética e inflacção elevada, pelo que o banco britânico HSBC não prevê que a procura de acções atribua à Porsche mais do que 44,5 a 56,9 mil milhões de euros. Isto representa um rombo enorme nas aspirações da VW, que assim deverá receber também pouco mais de metade do que antecipava, o mesmo acontecendo com a Porsche, construtor que também necessita de dinheiro fresco para continuar a incrementar o esforço na electrificação.

O Grupo Volkswagen vai colocar no mercado 911 milhões de acções da Porsche, numa alusão ao modelo mais popular do construtor, apesar de estar longe de ser o mais vendido, estatuto que pertence ao Macan, seguido de outro SUV, o Cayenne. Destas acções, apenas metade vão estar disponíveis para venda na bolsa de Franfurt, com a família Porsche a ter já anunciado que pretende manter do seu lado outras 25%. Isto significa que apenas os restantes 25% estarão acessíveis aos investidores. Contudo, não deve ser fácil explicar aos potenciais interessados como é possível uma marca com tradição (foi fundada em 1931), com modelos emblemáticos e muito sucesso na competição, valer em bolsa entre 44 e 56 mil milhões de euros (segundo o HSBC), quando a Tesla, que concebeu o seu primeiro modelo há apenas 10 anos, tem uma capitalização bolsista, à data de hoje, de 977 mil milhões de dólares, valor aproximadamente igual em euros. É quase 20 vezes mais.

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