Era uma qualificação que não era bem uma qualificação. Max Verstappen terminou com o segundo melhor registo mas já sabia que iria cair cinco posições pelas alterações feitas no carro. Com Carlos Sainz, ainda pior: terceiro melhor tempo, 18.º posto na grelha de partida. E com Lewis Hamilton, mais atrás (quinto na qualificação, 19.º na saída), o que fez com que o britânico brincasse com a situação para aquilo que poderá ser a sua corrida: “Vão estar todos num comboio de DRS e vou ficar por ali à espera da estratégia e também da degradação dos pneus e essas coisas. Vou distrair-me a ver a Guerra dos Tronos”. Com tudo isso, foi Charles Leclerc quem mais beneficiou, abrindo uma oportunidade de ouro para a Ferrari em Monza.

Monza é da Ferrari: Leclerc conquista 8.º pole-position do ano, Verstappen é penalizado e sai de sétimo

O monegasco conseguiu de forma natural a pole position, com uma volta que foi mais do que um segundo mais rápida do que a de George Russell, segundo posicionado na grelha à frente dos dois McLaren de Lando Norris e Daniel Ricciardo. Nyck de Vries, neerlandês que foi campeão de Fórmula E em 2021 e que ocupava o lugar de Albon (de fora com uma apendicite), saía do oitavo posto logo atrás de Max Verstappen. Sergio Pérez, quarto mais rápido, partia de 13.º. Leclerc tinha todas as condições para conseguir fazer uma corrida até à vitória, a Ferrari entrava apostada em apagar uma época marcada pelos sucessivos erros como o que valeu a Sainz a perda de tempo numa paragem por não ter um dos pneus prontos.

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“Sabia que naquela última volta da Q3 teria de colocar tudo de forma perfeita e consegui fazer isso. Estou muito contente com o registo da volta, muito satisfeito com o rendimento que conseguimos. Tem sido um grande fim de semana até agora, o sentimento dentro do carro tem sido fantástico. Espero agora que as coisas saiam como em 2019. Segredo para a última volta? Tomei apenas mais riscos. Era a última volta, sabia que tinha de atingir a melhor performance e trabalhei para isso”, comentara o monegasco após a oitava pole position em 16 corridas (um dos poucos e raros pontos em que supera Verstappen).

No âmbito das comemorações dos 100 anos do circuito de Monza, a Ferrari apresentou um carro renovado em termos estéticos para a ocasião, com o F1-75 a vermelho e amarelo e os dois pilotos a trocarem nos seus fatos o habitual vermelho pelo amarelo. “Desde o começo da scuderia em 1929 e quando a equipa foi fundada há 75 anos, Enzo Ferrari escolheu o amarelo que, ao lado do azul, é uma das cores do emblema de Modena, para aparecer no símbolo da empresa, o Cavallino Rampante”, explicou em comunicado a equipa sobre a segunda cor. Ainda assim, não haveria maior simbologia do que uma vitória em Monza.

O arranque não trouxe qualquer toque, problema ou desistência mas não correu da mesma forma para todos os pilotos: George Russell arrrancou muito bem, levou até um pouco além o seu esforço mas Leclerc defendeu da melhor forma a liderança; Daniel Ricciardo saltou para terceiro, ao contrário do companheiro Lando Norris que desceu para sexto; e Verstappen ganhou logo duas posições na saída, passando para o quarto lugar ainda no decorrer da primeira volta. Ou seja, a um do pódio em que já se encontrava na volta seguinte. Ou seja, completamente na luta por mais uma vitória, que seria a quinta consecutiva. E era por isso que, aproveitando o Mercedes entre ambos, Leclerc dava tudo para ganhar maior vantagem.

Lá atrás, os mais afetados pelas mudanças nos lugares da grelha após a qualificação ocupavam também papéis distintos depois do arranque, com Carlos Sainz a demorar apenas cinco voltas para passar de 18.º para 12.º enquanto Lewis Hamilton subiu apenas um lugar para 18.º e Sergio Pérez manteve o 14.º. De volta ao comando da corrida, Russell não demorou a perceber que a luta com Verstappen era algo com armas diferentes e o neerlandês saltou para o segundo lugar no início da quinta volta, sendo que o companheiro de equipa ia lutando com problemas nos travões que o levaram para a última posição.

Pouco depois da décima volta, a Ferrari tinha a primeira grande decisão de corrida para tomar: Leclerc estava na frente, Carlos Sainz continuava a ganhar várias posições a ponto de chegar a quinto e ao ataque a Pierre Gasly, Sebastian Vettel foi forçado a parar o seu Aston Martin com entrada em cena do safety car. Ao contrário dos primeiros classificados, Leclerc foi mesmo trocar de pneus mas saiu ainda à frente do comboio do top 10 na terceira posição, com Sainz a subir também ao quarto lugar. À partida, a opção teria corrido bem. E a diferença para Verstappen nas voltas seguintes mostrou isso mesmo, com Russell a trocar de pneus apenas na 23.ª volta e o neerlandês a parar logo no final da volta seguinte.

Os (muitos) adeptos da formação transalpina faziam a festa com Leclerc na frente com uma vantagem de dez segundos sobre Verstappen, tendo ainda Sainz sem parar no terceiro posto a forçar para depois entrar numa posição melhor. Um pouco atrás, Hamilton e Fernando Alonso, que ainda não tinham trocado de pneus, tiveram mais um confronto direto pela sexta posição ganho de forma até relativamente fácil (e sobretudo limpa) pelo britânico. Sainz entraria apenas no oitavo posto mas, em termos virtuais, tudo se estava a preparar para um outro duelo entre Red Bull e Ferrari pelo quarto lugar. Alonso, quando parou nas boxes, foi mesmo para abandonar, juntando-se assim ao também ex-campeão mundial Vettel.

Os bons indicadores deixados pelos pneus macios de Sainz, que fez uma grande ultrapassagem a Pérez para a sexta posição à condição (Hamilton iria parar depois, Norris também), levou a Ferrari a tomar a segunda grande decisão da corrida, com Leclerc a passar de novo pelas boxes para trocar de pneus a 19 voltas do final saindo à frente de Russell mas com 20 segundos para recuperar em relação a Verstappen. A missão era complicada mas, desta vez, qualquer que fosse o resultado não havia muito a apontar à equipa da casa (que quando fez a primeira paragem não conseguia ainda perceber que tipo de estratégia podia ter a Red Bull), sendo que o neerlandês forçava andamento para ganhar margem para uma possível segunda paragem. A luta pela sexta posição estava também ao rubro entre Ricciardo, Hamilton, Gasly e Norris.

A corrida parecia resolvida mas de repente ouviu-se um ruído enorme das bancadas com a confirmação de que a paragem de Daniel Ricciardo em pista iria mesmo levar à entrada de safety car. Todos pararam para trocar de pneus apenas a cinco voltas do final, sendo que a esperança dos adeptos da Ferrari num golpe de teatro no final do Grande Prémio de Itália era mais uma crença do que uma convicção mas a corrida iria mesmo acabar com safety car (apesar dos assobios). Em 16 corridas, Max Verstappen conseguia a 11.ª vitória e o 13.º pódio, sendo que pela primeira vez na carreira conseguiu cinco triunfos consecutivos. O neerlandês reforçou também a vantagem no Mundial após uma prova que terminou com Carlos Sainz em quarto, Hamilton em quinto, Pérez em sexto e Nyck de Vries a conseguir pontuar na estreia (nono).