Nos últimos anos, principalmente nos últimos 20 anos, o FC Porto criou o hábito de assinar participações positivas e entusiasmantes nas competições europeias. Ganhou a Liga dos Campeões em 2004, conquistou a Liga Europa em 2011 e pelo meio chegou outras quatro vezes aos quartos de final da Champions. Daí a estranheza gerada, não só no universo dos dragões como no futebol português em geral, pelos resultados da equipa de Sérgio Conceição no início da atual temporada.

Em duas jornadas da fase de grupos da Liga dos Campeões, o FC Porto somou duas derrotas. Ou seja, à entrada para a terceira jornada, somava zero pontos e estava virtualmente eliminado das competições europeias — precisando urgentemente de registar outro resultado que não um desaire para voltar às contas da passagem aos oitavos de final. Depois da cruel derrota em Espanha com o Atl. Madrid e da hecatombe do Dragão contra o Club Brugge, os dragões recebiam o Bayer Leverkusen esta terça-feira com essa noção de que uma nova escorregadela deixava a progressão na competição praticamente impossível.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

FC Porto-Bayer Leverkusen, 2-0

Fase de grupos da Liga dos Campeões

Estádio do Dragão, no Porto

Árbitro: Anthony Taylor (Inglaterra)

FC Porto: Diogo Costa, João Mário (Galeno, 63′), Pepe, David Carmo, Wendell (Zaidu, 63′), Uribe (Grujic, 83′), Stephen Eustáquio, Bruno Costa (Otávio, 45′), Pepê, Taremi, Evanilson (Toni Martínez, 71′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Fábio Cardoso, Gabriel Veron, Rodrigo Conceição, Danny Loader, André Franco, Bernardo Folha

Treinador: Sérgio Conceição

Bayer Leverkusen: Hradecky, Hincapié, Tah, Andrich (Demirbay, 72′), Tapsoba, Patrik Schick, Callum Hudson-Odoi, Diaby, Aránguiz (Amiri, 79′), Hložek (Adli, 72′), Frimpong

Suplentes não utilizados: Lomb, Lunev, Bakker, Kossounou, Azmoun, Fosu-Mensah, Azhil

Treinador: Gerardo Seoane

Golos: Zaidu (69′), Galeno (86′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Hincapié (40′), a João Mário (50′), a Frimpong (52′ e 88′), a Andrich (56′), a Uribe (61′); cartão vermelho por acumulação a Frimpong (88′)

“Vamos entrar de forma a fazer o nosso trabalho, de acordo com as nossas características. Não fomos iguais a nós próprios contra o Club Brugge. A classificação não traduz o real valor do Bater Leverkusen, são uma equipa fortíssima e, para mim, a Bundesliga é a melhor liga do mundo. Vai ser um jogo difícil. Os jogadores têm de entender o adversário, os últimos resultados não nos podem precipitar. Temos qualidade individual e coletiva para ganhar. O nosso estado de espírito é de que cada treino é um desafio. Os jogadores desafiam-nos a sermos melhores todos os dias. A pressão de treinar é um clube com esta grandeza é diária. Temos de ganhar mas estamos habituados a este tipo de situações. É bom ter finais de três em três dias”, disse Sérgio Conceição na antevisão, recordando que os alemães estão no penúltimo lugar da liga alemã mas venceram o Atl. Madrid na última jornada da Liga dos Campeões.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Assim, a entrar em campo sem pontos no Grupo B e contra os seis do Club Brugge e os três de Atl. Madrid e Bayer Leverkusen, o FC Porto fazia apenas uma alteração face à equipa que recebeu e venceu o Sp. Braga na sexta-feira — Rodrigo Conceição deixava a direita da defesa e dava lugar a João Mário. Otávio voltava a começar no banco, repetindo-se a titularidade de Stephen Eustáquio e Bruno Costa, e Uribe mantinha-se no onze apesar de ter sido operado ao punho logo após o jogo contra os minhotos. Do outro lado, Gerardo Seoane lançava Patrik Schick enquanto referência ofensiva, com o apoio de Hudson-Odoi, Diaby e Hložek, assim como o ex-V. Guimarães Tapsoba no eixo defensivo.

O FC Porto começou melhor, demonstrando uma atitude diferente daquela que tinha ficado patente tanto contra o Atl. Madrid como contra o Club Brugge. Os dragões procuraram jogar de forma apoiada e iniciar a construção na zona do meio-campo mas não chegaram a criar uma oportunidade de golo antes de o Bayer Leverkusen reagir e equilibrar novamente as dinâmicas da partida. Wendell sofreu uma pancada no pé ainda antes da meia-hora e ficou diminuído fisicamente, precisando até de ser assistido — algo que deixou o corredor esquerdo do FC Porto algo fragilizado, até porque Pepê ia chegando atrasado aos apoios ao lateral brasileiro, e que motivou arrancadas de Diaby que desequilibravam toda a organização defensiva portuguesa.

Foi assim, numa dessas arrancadas, que o Bayer Leverkusen conseguiu mesmo bater Diogo Costa. Pepê perdeu a bola na zona do meio-campo, Diaby conduziu e acabou por ser Hudson-Odoi a finalizar (16′) — logo depois, porém, Anthony Taylor foi chamado ao VAR e acabou por anular o golo dos alemães devido a uma falta no início da jogada. Os dragões tiveram alguma dificuldade na reação ao susto, permitindo que o Bayer Leverkusen tivesse bola no meio-campo adversário e cometendo diversos erros no início da construção que deixavam a porta aberta às transições alemãs.

A equipa de Gerardo Seoane fechava os corredores e obrigava o FC Porto a atacar essencialmente pela faixa central, com pouco espaço disponível, algo que exigia um acerto de passe e critério que o conjunto de Sérgio Conceição não conseguia colocar em prática. O primeiro lance mais perigoso dos dragões foi já perto da meia-hora, com Taremi a tentar assistir Bruno Costa de cabeça (27′), e Uribe assinou a grande oportunidade do FC Porto com um remate de fora de área que Hradecky afastou (40′) logo depois de Diogo Costa também corresponder a um pontapé rasteiro de Schick (40′).

Já perto do intervalo, a partida assistiu aos minutos mais loucos da primeira parte. Taremi marcou na sequência de um contra-ataque brilhante que ele próprio desenhou (42′), o árbitro voltou a anular o golo depois de ver as imagens do VAR por mão na bola de David Carmo na área contrária e Diogo Costa defendeu a grande penalidade de Schick (44′). O guarda-redes português voltou a ser decisivo já nos descontos, com mais uma enorme intervenção a novo remate de Schick (45+2′), mas o jogo chegou mesmo empatado ao intervalo.

Sérgio Conceição mexeu logo ao intervalo e trocou Bruno Costa por Otávio. O jogo não recuperou a intensidade do final da primeira parte, discutindo-se essencialmente na zona do meio-campo e com poucas aproximações perigosas às balizas. Taremi teve uma boa ocasião com um remate na sequência de um canto que passou por cima (49′), Eustáquio forçou Hradecky a uma defesa a dois tempos (59′) e os alemães não mostravam grande capacidade para assustar Diogo Costa — embora tivessem mais bola no último terço adversário.

O treinador do FC Porto voltou a mexer já depois da hora de jogo e trocou os laterais, tirando João Mário e Wendell para lançar Galeno e Zaidu e recuando Pepê para a direita da defesa. Os dragões não permitiam grande coisa ao Bayer Leverkusen, até porque o Bayer Leverkusen não procurava fazer grande coisa, mas também não demonstravam a acutilância necessária para ganhar e reentrar na discussão pelo apuramento para os oitavos de final. Ciente do quase marasmo em que a partida tinha caído, Sérgio Conceição já preparava mais uma substituição para lançar Toni Martínez quando aconteceu aquilo por que todos esperavam.

O FC Porto desenvolveu uma movimentação ofensiva brilhante, Galeno acelerou descaído na direita e abriu em Taremi na ala. O iraniano segurou, esperou e tirou um cruzamento perfeito para o segundo poste, onde Zaidu apareceu a cabecear para inaugurar o marcador (69′). Toni Martínez entrou mesmo para o lugar de Evanilson, com o Bayer Leverkusen a responder com Demirbay e Adli, e o jogo já não sofreu enormes alterações apesar do natural ascendente que os alemães conquistaram no derradeiro quarto de hora. Nos últimos minutos, Galeno ainda fez xeque-mate ao aumentar a vantagem na sequência de mais uma assistência de Taremi (86′).

O FC Porto venceu o Bayer Leverkusen no Dragão, somou os primeiros pontos na Liga dos Campeões e ainda beneficiou da vitória do Club Brugge frente ao Atl. Madrid para reentrar na discussão pelo apuramento para os oitavos de final. Otávio mudou quase tudo quando entrou ao intervalo, Eustáquio teve mais uma exibição impressionante, Taremi voltou a ser decisivo com duas assistências e Diogo Costa defendeu uma grande penalidade. Contudo, o papel indelével de Zaidu na vitória do FC Porto é inegável — o mesmo Zaidu que em 2019 estava a jogar no Mirandela. E continuam a existir dias assim, em que o sonho de Zaidu é o sonho de uma equipa inteira. E são sempre dias bonitos.