Foi o rei com o reinado mais curto de Inglaterra depois de 1066, foi também o último rei a perder a vida numa batalha e agora ostenta o título de ter sido encontrado como esqueleto por baixo dum parque de estacionamento. Em 2012, ninguém estava à espera de encontrar os restos mortais do rei Ricardo III, sepultado a 26 de agosto de 1485, precisamente 527 anos depois. Desde esse dia que os carros deixaram de poder sair e entrar para preservar o lugar com estatuto de monumento, atualmente um dos mais importantes da história nacional do Reino Unido.

A descoberta deu-se na cidade inglesa de Leicester, na zona da Catedral de Leicester, onde o rei Ricardo III foi sepultado, depois de perder a vida na Batalha de Bosworth Field, a 22 de agosto de 1485, teria então 32 anos. O confronto deu-se contra Henrique Tudor no que haveria de ser a última batalha da Guerra das Rosas. Ricardo III perdeu o combate, graças à união dos seus inimigos e à deserção de uma parte importante do seu contingente, liderada por Lorde Stanley e pelo Conde de Northumberland. A sua morte abriu caminho para a subida ao trono de Henrique VII e início da dinastia de Tudor. Segundo Shakespeare, as suas últimas palavras terão sido: “Um cavalo! O meu reino por um cavalo!”.

De acordo com relatórios contemporâneos, Ricardo III foi sepultado a 26 de agosto de 1485, na Igreja Greyfriars, um convento monástico medieval que se pensa ter sido destruído durante o reinado de Henrique VIII. Depois de muito trabalho de pesquisa e investigação, os arqueólogos britânicos compararam antigos e novos mapas e conseguiram determinar a localização precisa desse tal mosteiro medieval que seria então na zona do parque de estacionamento. Dúvidas restassem, os exames de ADN confirmaram tratar-se de Ricardo III, o último rei de Inglaterra a sucumbir no campo de batalha e um dos principais suspeitos da morte dos próprios sobrinhos.

Lombrigas na barriga

O rei já estaria sem elmo quando os seus inimigos lhe perfuraram o crânio em pleno combate. A equipa forense da Universidade de Leicester descobriu 11 ferimentos, nove deles no crânio causados por espadas, facas e punhais. Quanto ao resto das ossadas, os investigadores provaram que a coluna vertebral de Ricardo III estava curvada. O rei sofria de escoliose desde a infância, o que provavelmente configurava o ombro direito acima do esquerdo, segundo descrições da época.

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O seu estômago também não estaria em perfeitas condições na altura da sua morte, há indícios de que teria lombrigas com mais de 30 centímetros de comprimento. Tinha ainda alguns dentes, sendo que os molares eram anormalmente pequenos.

Dez túmulos foram descobertos nos terrenos do complexo medieval, seis dos quais foram permaneceram intocados. No de Ricardo III, havia caixões de madeira e duas mulheres entre os 40 a 50 anos de idade e um misterioso caixão de chumbo.

Ligados ao rei

Uma das histórias mais incríveis é a de Michael Ibsen, um marceneiro canadiano radicado em Londres que é apontado por estudos genealógicos como sendo descendente de Ana de Iorque, irmã de Ricardo III. Ibsen não imaginaria que uma pequena amostra do seu ADN lhe traria uma série de eventos bizarros, como por exemplo ser o próprio a fazer um novo caixão de madeira para o rei Ricardo III que foi de novo enterrado na atual Catedral de Leicester em 26 de março de 2015.

Também Mike Mistry, o encarregado do parque de estacionamento viu-se de repente atirado para os holofotes, depois de lá trabalhar durante 15 anos. Mal ele sabia que cumpria o expediente em cima da campa de um dos reis mais populares da história do Reino Unido cuja vida ainda remete para acesas discussões por parte dos historiadores.

Mistry lembra-se de ver chegar da sua cabine os arqueólogos com todo o equipamento e a marcar as linhas da escavações. Ele próprio desenhou um R no chão. “Não é todos os dias que assistimos do nosso posto de trabalho a uma das maiores descobertas arqueológicas da era moderna”, disse, na altura, aos media que acorreram para cobrir o insólito fenómeno. Pediram-lhe para não tirar fotografias nem contar a ninguém sobre o que possivelmente estava debaixo do chão, mas a verdade é que a notícia se espalhou depressa e o segurança recorda gente a vir da Alemanha, Austrália e América com o propósito de testemunhar a rara descoberta.

Atualmente, já lá não trabalha, mas continua a visitar o local com uma certa nostalgia e tem prazer em dizer que Ricardo III foi encontrado no “seu” parque de estacionamento.