O bispo da Guarda, D. Manuel Felício, assegurou esta quinta-feira que “sempre comunicou a quem de direito todas as denúncias, mesmo as anónimas, que lhe chegaram”, por alegados abusos sexuais de menores na sua diocese.
“Tomando conhecimento de notícias colocadas a circular por um jornal online, o bispo diocesano deseja esclarecer que sempre comunicou a quem de direito todas as denúncias, mesmo as anónimas, que lhe chegaram”, referiu o Gabinete Episcopal de Comunicação e Relações Públicas da Diocese da Guarda, em comunicado enviado à agência Lusa.
Este esclarecimento surge na sequência de uma notícia do Observador, que avançou que, ao contrário do que está a acontecer noutras dioceses do país, o bispo da Guarda mantém à frente de várias paróquias um padre que está a ser investigado por suspeitas de abusos sexuais de menores.
O comunicado da diocese da Guarda não esclarece, porém, a questão central levantada na notícia do Observador: o facto de o sacerdote continuar em funções enquanto decorre o inquérito, não tendo sido suspenso preventivamente, como aconteceu noutras dioceses do país. O bispo da Guarda recusou sempre responder às perguntas do Observador sobre o caso.
Manuel Felício também não clarifica se está a referir-se às autoridades civis — as únicas com competência para investigar suspeitas de crimes — quando diz que comunicou todas as denúncias que recebeu “a quem de direito”.
O padre em causa está relacionado com um dos quatro inquéritos que se mantêm abertos pelo Ministério Público após a análise dos 17 casos respeitantes a padres ainda no ativo que a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica Portuguesa fez chegar à Procuradoria-Geral da República (PGR).
A diocese da Guarda acrescentou que o bispo Manuel Felício “em caso algum deseja contribuir para transformar qualquer notícia, declaração ou até acusação sem investigação, em condenação direta e sumária na praça pública”.
“É tempo de confiar na justiça”, sublinhou.
A diocese aproveitou, ainda, para manifestar a sua gratidão “pelo serviço que a Comissão de Proteção de Menores tem prestado à Igreja e à sociedade”.
Um padre da diocese da Guarda está a ser investigado por suspeitas de abusos sexuais de menores, mas o bispo Manuel Felício continua a mantê-lo em funções num conjunto de paróquias da diocese, onde tem a seu cargo várias comunidades e serviços que lidam com crianças e jovens.
A opção do bispo de manter o padre em funções após uma denúncia contrasta com o que tem acontecido noutras dioceses portuguesas, como Lisboa, Vila Real ou Évora, em situações semelhantes.
A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa já recebeu 424 testemunhos, revelou, no dia 11, o coordenador da estrutura, Pedro Strecht, assumindo que a maior parte dos crimes reportados já prescreveu.
“Há 424 testemunhos recolhidos pelas diversas formas englobadas no trabalho da Comissão. O número mínimo de vítimas será muitíssimo maior do que as quatro centenas e os abusos compreendem todas as formas descritas na lei portuguesa”, afirmou o pedopsiquiatra Pedro Strecht.
Na segunda-feira, a PGR adiantou que o MP já arquivou seis dos 10 inquéritos instaurados a partir das 17 denúncias remetidas pela Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica.
“Dos inquéritos instaurados, quatro encontram-se em investigação e seis (instaurados na sequência de oito situações denunciadas) conheceram despacho final de arquivamento”, referiu a PGR num esclarecimento enviado à Lusa.