A União Europeia está a preparar a nova norma Euro 7, que vai estabelecer os limites para as emissões de poluentes e partículas até 2035, ano em que se vai tornar proibido comercializar no Velho Continente novos veículos com motor de combustão, mesmo que associados a mecânicas híbridas ou híbridas plug-in. A indústria automóvel tem vindo a pressionar o poder político para anular algumas das medidas anunciadas, sobretudo as que obrigam a grandes investimentos, com o legislador a mostrar-se renitente em abrir mão de alguns princípios, que incrementariam os lucros das marcas, mas em prejuízo do ambiente.

No meio destas negociações meteu-se a guerra na Ucrânia e a crise económica provocada pela invasão dos russos, o que levou Bruxelas a ser mais condescendente, tentando não sufocar uma das indústrias mais importantes da União. Não houve cedências em relação ao que era considerado essencial, ou seja, fazer derrapar para lá de 2035 o fim da comercialização de modelos equipados com motores que queimem combustíveis fósseis emissores de carbono. Mas, segundo o jornal Politico, a Comissão Europeia aceitou “rever algumas das medidas, em virtude da actual situação sociopolítica e económica”, tendo em vista reduzir a pressão sobre os construtores, para mais “num contexto de inflação elevada”.

O jornal – que teve acesso a uma cópia da legislação em preparação – avança que os responsáveis europeus pretendem minimizar os custos com investigação e desenvolvimento de novos motores a combustão. Isto criaria mecânicas menos poluentes, mas o ganho seria mínimo e de curta duração, uma vez que apenas poderão ser vendidos durante mais 10 anos.

A anulação desta necessidade de investir milhões de euros em novos motores a combustão satisfez (aparentemente) os construtores de automóveis, que assim se podem concentrar nos ainda mais elevados investimentos nos veículos eléctricos, investigação e produção de baterias, além da reformulação de fábricas antigas ou construção de novas, específicas para as novas tecnologias. A nova norma Euro 7, cujo anúncio era esperado a 28 de Outubro, será apenas revelada a 9 de Novembro, continuando previsto ser implementada em 2025 ou, no limite, em 2026.

As reacções a este ligeiro bónus aos construtores não se fizeram esperar, com a ONG Transport & Environment a afirmar que “os lucros dos construtores foram priorizados face à saúde de milhões de pessoas”. Resta saber como a Euro 7, a apresentar dentro de aproximadamente duas semanas, vai definir as emissões poluentes e as partículas emitidas pelo motor de combustão, bem como as lançadas para o ar pelos pneus e travões, além de impor limites ao tempo de vida útil das baterias.

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