No último concurso, só 915 das 1.020 vagas abertas para a PSP foram preenchidas, cerca de 10% dos lugares ficaram em aberto — e no concurso anterior tinha acontecido mais ou menos o mesmo. A situação é inédita e revela a “perda de atratividade da missão policial” em Portugal, diz Manuel Magina da Silva, diretor nacional da PSP desde fevereiro de 2020.

Paradoxalmente, o país é um dos que, em todo o mundo, “tem mais instalações policiais”, circunstância que já levou o responsável máximo da PSP a entregar ao Governo uma proposta de encerramento de várias esquadras nas zonas metropolitanas de Lisboa e do Porto, para que seja possível libertar agentes para a rua. Em contraposição, Manuel Magina da Silva quer colocar um polícia em cada junta de freguesia que tenha ficado sem esquadra.

As soluções foram reveladas pelo diretor nacional da PSP esta quinta-feira em entrevista ao Público e à Renascença. “As esquadras contribuem para um sistema autofágico, ‘comem’ polícias. São 12 polícias só para manter aquilo aberto. Se olharmos para a grande área metropolitana de Madrid, oito milhões de habitantes, a Polícia Nacional de Espanha tem 36 instalações policiais ou divisões. O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP para a Área Metropolitana de Lisboa, que servirá 1,2 milhões de pessoas, tem, pasme-se, 64 esquadras. Pelo rácio de Espanha, ficaríamos com sete esquadras e meia”, comparou Magina da Silva, para de seguida revelar que a proposta apresentada ao executivo de António Costa não foi assim “tão radical”. O objetivo é que permaneçam em funcionamento apenas as “divisões com mais capacidade”.

Sem revelar números em concreto, o diretor nacional da PSP garantiu ainda que a segurança das populações não será nunca colocada em causa e que a existência de esquadras não só não faz decrescer a criminalidade como provoca até “uma falsa sensação de segurança”: “Como forma de mitigar esta questão, a PSP garante que colocará nas juntas de freguesia que eventualmente deixem de ter instalações policiais um polícia em horário normal de expediente, de forma que possa haver um posto de atendimento para receber queixas, etc. É uma forma de mitigar essa perda psicológica”.

Reconhecendo um grave problema de recrutamento de polícias, fruto de uma cada vez maior falta de atratividade da profissão, Magina da Silva prometeu, na entrevista, alojamento para os agentes em início de carreira — antes de fevereiro do próximo ano, altura em que termina o mandato. “Temos 26 milhões de euros que resultam dos descontos obrigatórios que os polícias fazem para os serviços sociais. Estavam cativados há alguns anos e finalmente vamos poder dispor desses 26 milhões para dar apoio social aos polícias que começam a sua carreira. Têm uma remuneração inferior, muitos deles são despejados em Lisboa, onde os preços são proibitivos, pouco compatíveis com as remunerações dos polícias. É importante que consigamos dar alojamento de primeira colocação a todos os polícias que estão deslocados do seu local de origem.”

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