A Mercedes já tinha anunciado o objectivo de provar no traçado de Nürburgring a mais-valia do seu primeiro hiperdesportivo, o AMG One, que monta uma mecânica derivada directamente de um F1 num chassi integralmente em fibra de carbono. O 1.6 V6 que já equipou um F1 da marca foi adaptado, de forma a respeitar os limites de emissões para ser homologado para circular na via pública, e reforçado com mais quatro motores eléctricos e uma bateria com 8,4 kWh de capacidade.

Se o motor de F1 viu a sua potência reduzida de cerca de 700 cv que atinge num F1, para 574 cv às 9000 rpm, as quatro unidades eléctricas estão espalhadas um pouco por todo o lado. Duas estão à frente, cada uma com 120 kW (163 cv) e associada à sua roda anterior, sendo estas as responsáveis por o One ser capaz de percorrer 18,1 km em modo 100% eléctrico e ver a potência total aumentada em 326 cv. Há uma terceira unidade com 163 cv, sendo que esta está acoplada ao volante do motor, incrementando a potência final e recarregando a bateria durante as desacelerações e travagens. O 4.º e último motor eléctrico está ao serviço do turbocompressor, para evitar o atraso na resposta ao acelerador (turbo lag) e para garantir que a turbina está sempre na gama de rotações em que é mais eficaz (100.000 rpm). Tanto mais que tem de fornecer 3,5 bar, uma verdadeira brutalidade.

Por se tratar de uma tentativa de recorde a registar, o Mercedes-AMG One deslocou-se à pista de Nürburgring, devidamente acompanhado de um notário e dos técnicos da pista que certificam que o carro está de série, ou seja, tal como é vendido aos 275 clientes que o adquiriram por 2,75 milhões de euros. E, nas mãos do piloto Maro Engel, percorreu a volta mais rápida ao traçado maior do Nordschleife (anel norte), com 20,8 km, em 6 minutos e 35,183 segundos. Este é novo recorde para modelos produzidos em série e homologados para circular na via pública.

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Mercedes ficou sem recorde e atira-se à Porsche

Com este tempo de 6.35,183, o AMG One bateu o recorde anterior, os 6.43,300 alcançados pelo Porsche 911 GT2 RS com um kit da Manthey Racing, um fabricante de kits de transformação para tuning e track days. A Mercedes recupera assim o recorde que já foi seu, quando rodou em 2021 com um AMG GT Black Series em 6.48,047, tempo que relegou para a 2.ª posição do ranking das melhores voltas para este tipo de modelos o Porsche 911 GT2 RS, que se ficou por 6.49,328. Mas este construtor, incapaz de retirar mais da versão que vende aos clientes, recorreu à Manthey Racing para ganhar mais uns “pozinhos”. Facto que mereceu uma reacção da Mercedes, através das redes sociais, onde afirmava que a Porsche “bateu o recorde no Nordschleife, ainda que tenha recorrido a um kit de performance para bater o nosso Mercedes-AMG GT Black Series de série”.

Ainda sobre o tempo obtido no Nürburgring pelo AMG One, a Mercedes faz questão de mencionar que a pista estava húmida em alguns pontos e só foram realizadas quatro voltas cronometradas, o que deixa antever que o hiperdesportivo da marca pode ir ainda mais longe, retirando mais uns segundos ao tempo alcançado. E isto é quase uma obrigação para um modelo que é muito mais potente 1063 cv (782 kW), mais baixo, mais largo e mais leve do que o Porsche, mesmo com o kit da Manthey Racing. E basta recordar que este 911 GT2 RS transformado retirou mais de 6 segundos ao tempo por volta obtido pela versão de série deste modelo da Porsche. Deveremos pois contar com uma cronometragem abaixo dos 6.30, para estar à altura do potencial teórico do AMG One. Tanto mais que o cliente que se segue, na tentativa de bater o recorde, é o Aston Martin Valkyrie.