20 de novembro. Em Al Khor, começava o Campeonato do Mundo com um jogo entre o anfitrião Qatar e o Equador. Em Leiria, Estrela da Amadora e Benfica disputavam a primeira jornada da fase de grupos da Taça da Liga. À partida, as duas ideias são contraditórias. Em 2022, as duas ideias são apenas a estranha realidade em que agora vivemos.

O intenso calendário da atual temporada, atrapalhado por um inédito Mundial no inverno e a meio da época desportiva, atirou a fase de grupos da Taça da Liga precisamente para o período temporal em que o Campeonato do Mundo está a decorrer no Qatar. Ou seja, as principais equipas vão disputar as rondas iniciais da terceira competição nacional sem os respetivos internacionais que foram convocados para o Mundial — um pormaior que podia enviesar a competitividade mas aumentar as possibilidades de sucesso dos conjuntos teoricamente inferiores.

Ficha de jogo

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Estrela da Amadora-Benfica, 2-3

Fase de grupos da Taça da Liga

Estádio Dr. Magalhães Pessoa, em Leiria

Árbitro: Miguel Nogueira (AF Lisboa)

Estrela da Amadora: Brígido, Jean Felipe (Gustavo Henrique, 56′), Erivaldo (Diogo Salomão, 84′), Omurwa, Shinga (Ronaldo, 56′), João Reis, Guzmán, Aloísio, Ronald (Hevertton, 68′), Miguel Lopes (Lucão, 68′), João Silva

Suplentes não utilizados: Wagner, Régis, Miguel Pinto

Treinador: Sérgio Vieira

Benfica: Vlachodimos, Gilberto, João Victor (Morato, 45′), John Brooks, Grimaldo (Ristic, 90+3′), Florentino, Chiquinho, David Neres, Rafa (Gil Dias, 79′), Diogo Gonçalves (Draxler, 45′), Musa (Rodrigo Pinho, 87′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Ristic, André Almeida, João Neves, Hugo Félix

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Musa (13′), João Silva (22′), Chiquinho (gp, 29′), Draxler (90′), Gustavo Henrique (90+5′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Omurwa (14′), a Shinga (17′), a Diogo Gonçalves (21′), a Chiquinho (39′), a João Victor (45+1′), a Gustavo Henrique (76′)

E Roger Schmidt, por seu lado, aceitava a ideia. Não entendia, não concordava — mas aceitava. “Teria sido melhor uma paragem total, sim. Até para a própria competição porque, desta forma, sem muitos jogadores, parece que estamos a retirar relevância. Isto não acontece com a Liga ou com a Taça de Portugal. Sei que o calendário é apertado e não é fácil encontrar a melhor fórmula mas teria sido uma opção melhor jogar noutra altura. Teria preferido isso mas temos de aceitar a decisão e vamos dar o nosso melhor”, explicou o treinador alemão na antevisão da partida, onde os encarnados surgiam ainda sem ter sofrido qualquer derrota esta temporada.

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Em resumo, e com o Mundial a começar este fim de semana, Schmidt não podia contar com os seis internacionais — Otamendi, Enzo Fernández, Alexander Bah, António Silva, Gonçalo Ramos e João Mário –, também não tinha Henrique Araújo, Paulo Bernardo e Samuel Soares, que estão com os Sub-21, e estava desprovido ainda do lesionado Fredrik Aursnes. Contudo, e mesmo promovendo as naturais alterações ao onze inicial, o técnico encarnado só mudava mesmo o que tinha de mudar: mantinha Vlachodimos, Grimaldo, Florentino, Neres e Rafa e lançava John Brooks, João Victor, Gilberto, Chiquinho e Diogo Gonçalves. Do outro lado, com Sérgio Vieira ao leme, estava um Estrela de Amadora que está em terceiro lugar na Segunda Liga e que vai sonhando com um regresso ao principal escalão que seria histórico.

As duas equipas entravam em campo já a saber que, no outro jogo do Grupo C da Taça da Liga, o Moreirense tinha vencido o Penafiel. Em Leiria, a casa emprestada do Estrela da Amadora, o Benfica assumiu um ascendente natural desde o apito inicial e teve a primeira oportunidade da partida logo nos primeiros instantes, com um remate de Rafa que passou ligeiramente ao lado depois de um cruzamento de Diogo Gonçalves na esquerda (5′). A equipa de Roger Schmidt construía logo a partir da linha do meio-campo, ainda que os tricolores não estivessem totalmente remetidos ao último terço, e chegou à vantagem com alguma naturalidade.

Rafa e Musa protagonizaram uma jogada de enorme entendimento mútuo, com vários passes trocados à entrada da grande área, e o avançado croata acabou por atirar forte à entrada da grande área para abrir o marcador (13′). Ainda assim, e apesar de ter ficado em desvantagem logo no quarto de hora inicial, o Estrela da Amadora não abdicava de procurar a sorte e explorava a profundidade e as transições rápidas sempre que conseguia ter bola em zonas mais adiantadas. Menos de 10 minutos depois do golo de Musa, a equipa de Sérgio Vieira conseguiu mesmo chegar ao empate através de uma bola parada.

Livre cobrado na direita, Guzmán desviou de cabeça ao primeiro poste e João Silva, no outro poste, atirou de forma acrobática para bater Vlachodimos e igualar novamente o marcador (22′). O Benfica reagiu à perda da vantagem e ficou muito perto de voltar a marcar nos instantes seguintes, com Brígido a fazer duas defesas consecutivas a remates de Musa e Erivaldo Almeida a evitar o golo de Diogo Gonçalves em cima da linha no mesmo lance (25′). Pouco depois, ainda antes da meia-hora, a equipa de Roger Schmidt conseguiu mesmo recuperar a dianteira do marcador.

Omurwa fez falta sobre Rafa no interior da grande área do Estrela da Amadora e Chiquinho, que este domingo fez de João Mário, converteu a grande penalidade e estreou-se a marcar esta temporada (29′). O Estrela teve alguma dificuldade para demonstrar a mesma reação que teve ao primeiro golo quando sofreu o segundo e o Benfica beneficiou do ascendente permitido neste período para ficar muito perto de dilatar a vantagem, num lance em que Erivaldo voltou a ser decisivo com um corte in extremis, desta feita a um pontapé de Neres (36′).

Mesmo em cima do intervalo, porém, o Estrela da Amadora mostrou que nada estava decidido. Shinga, de livre direto, obrigou Vlachodimos a uma defesa muito apertada, com Jean Felipe a forçar o guarda-redes encarnado a uma nova intervenção complexa na recarga (45+2′). No fim da primeira parte, o Benfica estava a vencer mas apenas pela margem mínima e era clara a ideia de que os tricolores poderiam, de um minuto para o outro, dificultar a vida e o objetivo do conjunto de Roger Schmidt.

Ao intervalo, o treinador alemão fez desde logo duas substituições e tirou João Victor e Diogo Gonçalves, ambos já com cartão amarelo, para lançar Morato e Draxler, ambos regressados de lesão. A superioridade do Benfica agudizou-se na segunda parte, com os encarnados a construírem diversas oportunidades de golo logo nos primeiros minutos — por intermédio de Rafa e Neres –, e o Estrela da Amadora ia cometendo mais erros na saída de bola e estava progressivamente mais enterrado no próprio meio-campo.

Sérgio Vieira reagiu com uma dupla alteração ainda antes da hora de jogo, lançando Ronaldo e Gustavo Henrique, e a verdade é que os tricolores sentiram a frescura dos elementos vindos do banco e sacudiram a pressão adversária, beneficiando também de uma quebra de intensidade por parte do Benfica. Vlachodimos voltou a ser importante com uma defesa apertada junto ao poste após um pontapé quase sem ângulo de Gustavo Henrique (63′) e outra intervenção crucial na sequência de um cabeceamento de Ronaldo (65′) e o treinador do Estrela procurou repetir a receita com as entradas de Lucão e Hevertton.

O destino do jogo, porém, já estava traçado e foi confirmado nos descontos: Draxler fez o terceiro golo dos encarnados com assistência de Rodrigo Pinho (90′), Gustavo Henrique reduziu no último instante (90+5′). O Benfica venceu o Estrela da Amadora em Leiria, manteve a invencibilidade ao longo da temporada e entrou a ganhar na Taça da Liga. Num dia em que até foi capitão de equipa, Rafa voltou a mostrar que Roger Schmidt já recebeu a melhor prenda de Natal antecipada: o avançado português não foi ao Mundial, ficou nos encarnados, fez uma assistência para Musa e sofreu a grande penalidade que deu o golo de Chiquinho e voltou a ser crucial para a equipa do treinador alemão.