Esta terça-feira, Irão e EUA defrontam-se num jogo decisivo para a continuidade das duas seleções no Campeonato do Mundo do Qatar. Num momento de tensão desportiva, a tensão política entre as duas nações parece estar a entrar também em campo. Durante algumas horas, a Associação Americana de Futebol  exibiu, nas suas redes sociais, a bandeira do Irão sem o símbolo da República Islâmica, que inclui uma representação de Alá. Uma decisão que, segundo a própria USMNT, tinha como objetivo apoiar os manifestantes que têm saído às ruas contra o regime de Teerão – mas que a federação persa exige que tenha consequências.

A bandeira da República Islâmica do Irão, desenhada em 1980, é composta pelas cores verde, branco e vermelho e no centro tem uma composição estilizada que, entro outros detalhes, incluiu uma forma geometricamente simétrica da palavra Alá e a partes sobrepostas da frase “Não há outros Deus exceto Alá”. A forma de tulipa do símbolo representa todos os que morreram pelo Irão e apela ao patriotismo.

À ESPN, um porta-voz da federação norte-americana confirmou que a decisão de remover o símbolo pretendia ser uma demonstração de apoio aos manifestantes antigovernamentais. “Queríamos mostrar o nosso apoio às mulheres iranianas”, explicou o mesmo responsável, já depois da normalidade ter sido restaurada [a publicação foi apagada] e a bandeira iraniana aparecer completa.

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Atualmente, o Irão é palco de um amplo movimento de protesto desencadeado em 16 de setembro com a morte de uma curda iraniana de 22 anos, que morreu depois de ter sido detida pela polícia da moral, responsável por fazer cumprir o rígido código de vestuário imposto às mulheres na República Islâmica. Amini infringiu o código, porque, apesar de envergar o hijab (véu islâmico), este deixava à vista parte do seu cabelo, e foi transportada já em coma para um hospital, onde morreria três dias depois.

Há dois meses que os iranianos saem às ruas numa onda manifestações sem precedentes no país desde a Revolução Islâmica, em 1979, que instaurou o atual regime teocrático. Desde 16 de setembro, pelo menos 426 pessoas foram mortas e mais de 17.400 foram detidas, segundo a organização não-governamental (ONG) Human Rights Activists in Iran, que tem estado a monitorizar a contestação social.

A posição norte-americana levou a federação de futebol do Irão a apresentar uma queixa à FIFA. “Num ato não profissional, a página do Instagram da Associação Americana de Futebol removeu o símbolo de Alá da bandeira iraniana”, denunciou agência de notícias oficial Irna, que revelou o facto da federação iraniana ter enviado um email à FIFA “para exigir que envie um aviso sério” à sua congénere.

Os países não têm relações diplomáticas desde 1980, poucos meses depois do incidente dos reféns na embaixada norte-americana em Teerão, em novembro de 1979: ainda assim, no Mundial de 1998, em França, registaram-se cenas de confraternização entre jogadores dos dois países.