“Decisão de Partir”

Depois do deliciosamente maquiavélico e erótico “A Criada”, e da perfeita adaptação para série de televisão do livro de espionagem “A Rapariga do Tambor”, de John Le Carré, Park Chan-wook volta à Coreia do Sul, e ao policial, com “Decisão de Partir”. Hae-joon (Park Hae-il) é um polícia rigoroso e que sofre de insónias, que investiga a morte aparentemente acidental, numa escalada, de um empresário casado com uma mulher mais nova e chinesa, Seo-rae (Tang Wei), a qual começa a vigiar. O casamento de Hae-joon está com problemas, porque a mulher trabalha noutra cidade e só se veem ao fim-de-semana, e o polícia começa a sentir-se atraído pela suspeita que, aparentemente, poderá estar a corresponder esse interesse. Será verdade, ou astúcia dela? Chan-wook filma muito bem e tem um grande sentido das atmosferas, embora “Decisão de Partir” seja uma fita muito convoluta e o realizador acabe por forçar a plausibilidade do enredo, comprometendo a nossa perceção e aceitação desta história de amor obsessivo com roupas de “thriller”. (pode ler a crítica aqui)

“O Trio em Mi Bemol”

O realizador francês Éric Rohmer escreveu uma única peça de teatro, “O Trio em Mi Bemol”, inspirada por uma composição de Mozart, e que filmou para a televisão em 1988. A portuguesa Rita Azevedo Gomes pegou nela e transformou-a num filme dentro de um filme. Assim, esta história dos vários encontros de um casal divorciado, Paul e Adélia (Pierre Léon e Rita Durão), ao longo de um ano, pautados por conversas e discussões e sobre os novos amantes de Adélia e os gostos musicais divergentes de ambos, está agora a ser filmada por um cineasta espanhol, Jorge (Ado Arrieta), que parece nunca estar bem certo daquilo que faz. De tal forma que, chegado ao final da rodagem, decide começar tudo de novo, sem dar qualquer explicação aos dois actores. Rita Azevedo Gomes regista este texto caracteristicamente rohmeriano com precisão pausada e elegância geométrica, introduzindo-lhe uma nota de humor seco e levemente absurdo, graças ao envolvimento cinematográfico da peça. (pode ler a entrevista à realizadora aqui)

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“Ossos e Tudo”

Após o “remake” de “Suspiria”, Luca Guadagnino permanece no território do cinema de terror com “Ossos e Tudo”, adaptado de um livro da escritora Camille DeAngelis e passado no interior dos EUA, nos anos 80. Após um estranho episódio com uma colega do liceu, Maren (Taylor Russell) é abandonada pelo pai, que lhe deixa algum dinheiro, uma cassete áudio para ela ouvir e o seu certificado de nascimento. Maren mete-se então à estrada, à procura da mãe que nunca conheceu, e vai ouvindo a cassete pelo caminho, que a elucida sobre o que está mal com ela.  Acontece que Maren é uma Comedora, uma pessoa com instintos canibais, aos quais é impossível resistir, sobretudo quando o apetite por carne humana se torna muito forte. E vai conhecer outros como ela: o sinistro Sully (Mark Rylance), de quem foge por a assustar, e o jovem Lee (Timothée Chalamet), que a vai acompanhar. (pode ler a crítica aqui)