O futuro de Fernando Santos poderá ficar decidido nas próximas horas. Tal como tinha antecipado logo após a derrota com Marrocos nos quartos de final do Mundial do Qatar, o selecionador nacional estará a falar com com Fernando Gomes durante esta terça-feira para realizar um balanço sobre tudo o que aconteceu no Campeonato do Mundo e chegar a uma conclusão sobre a decisão a tomar. Decisão essa que pode ser tomada ainda hoje ou amanhã.

Fernando Santos tem contrato com a Federação Portuguesa de Futebol até 2024. Tendo em conta esse vínculo, que coincide com o ano do próximo Campeonato da Europa e também com o final do mandato de Fernando Gomes, o presidente do organismo pretenderá que o treinador se mantenha em funções até essa altura. Mas o selecionador estará mais inclinado para a opção de deixar a Seleção Nacional de forma imediata — encerrando assim um ciclo de oito anos, desde 2014, quando substituiu Paulo Bento no pós-Mundial do Brasil.

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Desta forma, a conversa desta terça-feira decorre à volta de um círculo: Fernando Gomes a tentar convencer Fernando Santos de que o caminho que ambos construíram, lado a lado e com o Euro 2016 enquanto óbvio clímax, só termina daqui a dois anos e com o Euro 2024. Até porque, à partida, o presidente da Federação também não pretende escolher um novo selecionador nacional — uma decisão que se quer duradoura e enquanto alicerce de um projeto — numa fase derradeira do seu próprio mandato.

No entanto, há mais pontos que estarão em análise nessa reflexão conjunta, alguns dos quais num plano mais interno e a nível de estrutura. Em termos desportivos, sobrou a sensação de que a equipa podia ter ido mais longe. Olhando para o lado, os outros favoritos, talvez ainda mais favoritos, também caíram em fases mais precoces ou nos quartos (Bélgica, Espanha, Brasil ou Inglaterra). Vendo apenas a realidade nacional, cair frente a Marrocos quando podia ter atingido pela terceira vez na história as meias-finais e discutir com a França a presença num inédito jogo decisivo do Mundial soube a pouco.

Em termos de quantidade, qualidade e profundidade de opções esta era a geração com mais soluções. Os problemas físicos encurtaram ligeiramente as opções e objetivos, mas nem por isso essa realidade mudou. E Portugal, é isso que fica, falhou no terceiro objetivo: passou a fase de grupos em primeiro, superou os oitavos com uma exibição de gala com a Suíça, caiu quando tentava entrar no top 4 mundial frente a uma equipa contra a qual era claramente favorita mas que se tornou a sensação da prova.

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Depois, o caso Ronaldo. O primeiro criado na substituição frente à Coreia do Sul. Como se percebeu pela conferência de imprensa antes do jogo com a Suíça, Fernando Santos não só não gostou da atitude do capitão, como não gostou de ter chegado à conferência de imprensa depois da flash interview a dizer ainda que a frase do número 7 cheia de palavrões era para o avançado sul-coreano quando toda a gente já tinha visto que eram dirigidas ao treinador. E que tinha dito o mesmo que Cristiano Ronaldo. Se tivesse sido informado, teria arrumado um assunto com algo simples como um genérico ‘ninguém gosta de ser substituído, depois falamos, essas coisas resolvem-se no balneário’, algo do género. Mas só percebeu que era ele o visado quando viu as imagens. E sentiu que tinha feito má figura. Daí que, quando chegou à véspera do jogo com os suíços, tenha voltado a falar de toda situação para falar do que se passou e deixado um recado forte ao jogador.

A seguir, veio Cristiano Ronaldo e a condição de suplente. Fernando Santos voltou a explicar outra vez o que se passou com Ronaldo quando decidiu que não o colocaria no onze frente à Suíça, e falou da alegada ameaça do capitão em deixar a concentração e o Mundial. Não teve problemas em dizer publicamente que o jogador não tinha gostado de saber numa reunião no dia do jogo, logo a seguir ao almoço, que não iria começar de início. E adiantou mesmo que trocaram argumentos entre os dois sobre a opção, mesmo estando a decisão já tomada.

Depois disso, no entanto, o selecionador defendeu sempre o número 7, o seu profissionalismo e aquilo que representa para o grupo. Mas ficou claro, pelas reações dos familiares do jogador, sobretudo da sua companheira, Georgina Rodriguez, que houve um degradar da relação entre Fernando Santos e Ronaldo e que as coisas dificilmente voltarão a ser as mesmas entre a dupla que sempre teve uma relação muito próxima. Ou seja, a não ser que algo mude entretanto, o papel de Ronaldo será agora bem diferente e o próprio tem continuado a manter públicas as suas posições com posts diários nas redes sociais. Uma plataforma que Fernando Santos não usa, nem pode usar.

Temas que estão todos em cima da mesa. E que contarão para a decisão que pode ser tomada nas próximas horas.