O alerta veio da diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) num programa televisivo emitido no domingo, nos EUA: o ano novo vai ser “mais difícil” do que 2022, com um terço da economia mundial a entrar em recessão no ano que agora começa. No caso da União Europeia, Kristalina Georgieva vaticina que metade da economia vá estar em recessão.

A recessão é definida, em termos técnicos, como dois trimestres consecutivos de contração económica. Numa entrevista à estação norte-americana CBS, citada pelo The Guardian e o Financial Times, Kristalina Georgieva explica que as três grandes economias mundiais — os EUA, a UE e a China — estão a “abrandar ao mesmo tempo”. Os EUA não deverão entrar em recessão “apesar” dos riscos que enfrentam, mas ainda assim deixou o alerta:

Estimamos que um terço das economias mundiais vai estar em recessão. E sim, como disse, até em países que não estão em recessão, [a situação] será sentida como uma recessão para milhões de pessoas. Mas se essa resiliência do mercado de trabalho nos EUA continuar, os EUA ajudariam o mundo a atravessar um ano muito difícil”, disse, num excerto divulgado pelo programa Face the Nation. Já na UE, “metade” da economia estará em recessão.

As últimas projeções do FMI datam de outubro e, já na altura, não mostravam um 2023 brilhante para a economia global fruto dos efeitos da guerra na Ucrânia, as pressões inflacionistas e o aumento das taxas de juro. As estimativas eram de uma desaceleração para 2,7%. As projeções ainda apontam para um crescimento nos Estados Unidos de 1% e da União Europeia de 0,7%. A zona euro, nessas estimativas do FMI, deve crescer em 2023 cerca de 0,5%.

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O Banco Central Europeu (BCE) também já admitiu, por seu lado, que a economia europeia poderá ter uma recessão na viragem do ano, mas segundo Christine Lagarde será “curta e pouco profunda”. Mas, apesar desse abanar, o ano de 2023 deverá acabar com um crescimento anual positivo: 0,5%.

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Na entrevista à CBS, Kristalina Georgieva acredita que a China deverá crescer ao mesmo nível ou abaixo da economia mundial, o que seria um comportamento inédito em 40 anos, numa altura em que o país ainda se depara com as consequências, a nível de saúde pública mas também económicas, da Covid-19 e da política de “Covid zero”. E isso também terá efeitos nas restantes economias.

“Os próximos meses serão duros para a China, e o impacto no crescimento chinês será negativo, assim como na região e no crescimento mundial”, afirmou a diretora-geral do FMI.

Os EUA poderão escapar a este espirro da economia chinesa, e à recessão que deverá atingir um terço da economia. O país liderado por Joe Biden “está mais resiliente”, com o mercado de trabalho a manter-se “forte”. Ótimas notícias por um lado, mas com riscos por outro — incluindo a nível de um eventual novo agravamento das taxas de juro. “É uma benção mista porque se o mercado de trabalho for muito forte, a Fed [Reserva Federal] pode ter de manter as taxas de juro mais apertadas durante mais tempo para baixar a inflação”, admite.

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Em Portugal, como o Observador escreveu recentemente, não há, para já, expectativas de recessão: o Banco de Portugal não antecipa nenhuma recessão técnica na viragem do ano, apesar do crescimento “muito baixo” que se perspetiva.

Para Portugal o FMI estima um crescimento muito modesto, de apenas 0,7% — a projeção mais pessimista, a par da Comissão Europeia, algo abaixo do que projeta o próprio Governo no OE (1,3%) e o Banco de Portugal, a instituição mais otimista (1,5%).

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