“Broker-Intermediários”

O japonês Hirokazu Kore-eda foi à Coreia do Sul rodar este filme em que continua a labutar sobre os temas da maternidade e da paternidade, da filiação e do que constitui uma família. Dois sujeitos que desviam crianças abandonadas numa igreja, e a mãe de um dos bebés, atravessam a Coreia do Sul, acompanhados por um miúdo órfão, em busca de um casal que compre a criança, e são seguidos por duas agentes da polícia que os querem prender em flagrantes. Apesar daquilo que fazem, Kore-eda descobre humanidade e atenuantes insuspeitadas em personagens à primeira vista desprezíveis e sem redenção, conseguindo abordar um tema tão delicado e tão sério de vários ângulos e não escolhendo lados, comovendo-nos sem ter de lançar mão de facilidades piegas. Como o próprio realizador frisou, “Broker-Intermediários” quer deixar bem claro que cada nascimento e cada nova vida são importantes, e merecem o melhor que lhes possa ser dado.

“Fairytale — Sombras do Velho Mundo”

No novo filme de Alexander Sokurov (“A Arca Russa”, “Fausto”), Estaline, Hitler, Mussolini e Churchill encontram-se numa espécie de Purgatório enevoado e decrépito, e conversam uns com outros, picam-se mutuamente, comentam o que fizeram ou o que deveriam ter feito quando estavam vivos e tinham poder, e desdobram-se noutros “eus” (Jesus Cristo e Napoleão também aparecem, brevemente). Sokurov recorreu a animação digital, imagens de arquivo e tecnologia “deepfake” para construir esta fantasmagoria de características experimentais, e o que é interessante nela é mesmo o aspecto formal, já que o que o realizador tem a dizer sobre os ditadores que põe em cena (e o que diabo está Churchill a fazer no meio deles?) é ou vagamente anedótico, ou inconsequente. Sokurov foi muito mais percetível e concreto em “Moloch” (sobre Hitler), “Taurus” (Lenine e Estaline) e “O Sol” (o imperador Hirohito).

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“Maigret e a Rapariga Morta”

Gérard Depardieu estreia-se a interpretar o imortal Comissário Jules Maigret criado por Georges Simenon, neste filme realizado pelo veterano Patrice Leconte. Desde 1963 que um ator francês não incarnava a personagem no cinema, e Depardieu sucede aqui a Jean Gabin. Em “Maigret e a Rapariga Morta”, Maigret tem duas preocupações: até nova ordem, está proibido pelo médico de fumar o seu inseparável cachimbo, o que o deixa enervado; e deve resolver o caso da rapariga de ar modesto, sem identificação e que ninguém conhece, que apareceu assassinada uma noite numa praça de Paris, usando um vestido de cerimónia de marca, muito caro. O género de rapariga que chega a esta Paris de 1949 cheia de sonhos e ambições, e como Maigret diz a certa altura, “acaba a servir numa casa particular, ou num tipo de casa muito pior”. “Maigret e a Rapariga Morta” foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.