Quando quem está ausente é a figura mais notada, o que está em primeiro plano passa a ser secundário e as atenções deslocam-se para o mesmo quarteirão da expectativa. Junto da residência dos cenários hipotéticos, os negociadores do Benfica trabalhavam intensamente para resolver a situação de Enzo Fernández. Na moradia dos problemas reais, os restantes jogadores encarnados agarravam o barco de onde o argentino saltou. O 3-0 foi construído pelos marinheiros que embarcaram contra um Arouca que, na 18.ª jornada da Primeira Liga, não fez menos que tentar roubar os remos.

Era um elefante que não estava na sala porque ficou em Lisboa. O que acontecia nas conversas dos responsáveis de Benfica e Chelsea tinha impacto direto Arouca. Chiquinho entrou para o onze inicial na posição que seria do médio campeão do mundo pela Argentina. Foi a solução interna que Roger Schmidt encontrou para render Enzo. Notou-se também que não é preciso melhor jogador jovem do Campeonato do Mundo sair para o Benfica reinventar o seu estilo de jogo. A ausência de Gonçalo Ramos por lesão foi até a que mais obrigou à reconfiguração do ataque do Benfica que voltou a contar com David Neres. Sem o melhor marcador do campeonato, o técnico encarnado utilizou Gonçalo Guedes no centro do ataque. Imperou, ainda assim, a mobilidade com Aursnes, João Mário, Neres e Gonçalo Guedes a permutarem bastante no 4x2x3x1 não dando referências de marcação aos arouquenses.

Ficha de Jogo

Mostrar Esconder

Arouca-Benfica, 0-3

18.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal de Arouca

Árbitro: Rui Costa (AF Porto)

Arouca: Arruabarrena, Milovanov, Basso (Galovic 88′), Opoku, Quaresma, Sylla, Soro (Pedro Moreira 82′), David Simão (Arsénio 59′), Alan Ruiz (Uri 88′), Antony e Michel (Bruno Marques 59′)

Suplentes não utilizados: João Valido, Yaw Moses e Rafael Fernandes

Treinador: Armando Evangelista

Benfica: Odysseas Vlachodimos, Alexander Bah (Gilberto 86′), António Silva (Lucas Veríssimo 86′), Otamendi, Álex Grimaldo (Ristic 86′), Florentino, Chiquinho, João Mário, Neres (João Neves 86′), Frederik Aursnes e Gonçalo Guedes (Musa 66′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Leo Kokubo, Casper Tengstedt e Morato

Treinador: Roger Schmidt

Golos: João Mário (25′ e 54′) e Musa (80′)

Ação disciplinar: cartões amarelos a Opoku (46′), António Silva (49′), Soro (73′) e Alan Ruiz (76′)

Movimentos rápidos e ágeis são propícios à desorientação de quem fixa os olhos neles. De toda esta vertigem do Benfica nasceu o golo de João Mário (25′). Neres, proveniente da direita, veio colar-se a Aursnes na esquerda e, com um meticuloso passe com a parte exterior do pé esquerdo, deu ao norueguês a oportunidade de assistir o médio português. Era um Benfica poupado em oportunidades. Uma chance, um golo. Bastava para a liderança estar assegurada.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O Benfica andou em tournée por Portugal. Em Arouca, os encarnados faziam o terceiro jogo consecutivo fora de portas, tendo vencido os dois anteriores. Como uma boa banda de rock, até então, as águias tinham feito a festa em todo o lado. Os comandados de Armando Evangelista tinham que deixar a equipa da Luz sem capacete para abanar. Para tentar impedir o Benfica de marcar golos como quem canta um refrão — de forma repetitiva — o técnico arouquense colocou o médio defensivo, Soro, entre os centrais, Basso e Opoku, para condensar a zona central e negar a entrada do adversário no último terço mesmo que, com bola, a equipa se desdobrasse em 4x3x3. Das poucas vezes em que não se protegeu devidamente, o Arouca foi bastante penalizado.

Nova oportunidade para o Benfica e, automaticamente, nova concretização. Pouco de novo há a contar. Marcou João Mário (54′) e assistiu Aursnes. O lance que terminou com remate de pé esquerdo do camisola 20 fez o primeiro golo parecer um esboço de um projeto de maior rigor artístico.

Perante a eficácia encarnada, nenhum esquema defensivo resistiria. Ao quarto remate do encontro, o terceiro enquadrado, a equipa marcou o terceiro golo. Musa (80′) aproveitou uma bola perdida por Neres e encostou para o 3-0. Ao 86 minutos, António Silva saiu a sangrar da boca, o que serviu de mote para Schmidt fazer quatro substituições de uma só vez.

O Benfica conseguiu reduzir a zero golos o melhor ataque do campeonato a seguir aos quatro primeiros classificados e manteve a liderança da Primeira Liga. Para os encarnados, segue-se um ciclo de jogos competitivos frente a Casa Pia, Sp. Braga e Club Brugge. O Arouca foi ultrapassado pelo Vitória SC na classificação e sai da jornada na 7.ª posição.