O DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) decidiu abrir um inquérito, que se encontra em segredo de justiça, à compra dos aviões da TAP. A confirmação chegou ao Observador do próprio Ministério Público.

O processo de investigação teve origem numa participação feita pelo Governo, anunciada pelo então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, numa audição parlamentar.

Governo entregou ao Ministério Público auditoria feita pela TAP sobre gestão privada da compra de aviões. DCIAP analisa participação

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Na altura o Ministério Público confirmou a entrada dessa queixa e agora confirma ao Observador, através do gabinete de imprensa, que “a participação apresentada pelo, à data, ministro das Infraestruturas e Habitação e pelo ministro das Finanças deu origem a um inquérito no DCIAP”, inquérito que “encontra-se em investigação e sujeito a segredo de justiça”.

Alguns jornais, como a SIC notícias, já tinham avançado que o DCIAP já estaria a investigar os procedimentos de compra de aviões pela TAP durante a gestão privada na transportadora, liderada por David Neeleman. Pedro Nuno Santos, no Parlamento, tinha anunciado em outubro que o Governo tinha enviado para o Ministério Público uma auditoria, feita pela administração TAP, as quais continham suspeitas sobre o negócio de compra de aviões nessa altura. A auditoria foi realizada pela TAP já durante o mandato de Christine Ourmières-Widener.

Quando assumiu a gestão da TAP, Neeleman mudou o perfil dos aviões contratados à Airbus, trocando os modelos que tinham sido escolhidos pela gestão da empresa quando era pública — os A350. Esta operação foi justificada por uma maior adequação dos novos aviões — mais pequenos — à estratégia da TAP e foi ainda feita quando Fernando Pinto era presidente executivo.

Os impactos financeiros desta troca para a TAP já tinham sido questionados em 2016 nas negociações com David Neeleman para o Estado ficar com parte do capital da TAP. Neeleman acabou por sair da TAP em 2020, já quando a empresa estava a sofrer os efeitos da pandemia, tendo recebido 55 milhões de euros pela venda da sua participação ao Estado. Com o plano de reestruturação a que a transportadora ficou sujeita o Estado acabou por ficar com a totalidade do capital.

A auditoria do Tribunal de Contas, divulgada em 2018, que analisou os dois processos de privatização da TAP não identificou qualquer problema com esta operação. O Tribunal de Contas revelou recentemente que irá fazer nova auditoria à TAP, tendo o Público noticiado que essa análise vai avaliar desde 2017, ou seja, recuando à gestão privada, e avançando até ao momento em que for concluída, apanhando, por isso, não apenas a gestão privada, mas também a reversão da privatização, o plano de reestruturação que levou à injeção pública de 3,2 mil milhões de euros.

A TAP está agora a caminho de um processo de privatização, tendo Fernando Medina garantido esta segunda-feira que o arranque dessa operação deverá ir “em breve” a Conselho de Ministros.

Arranque da privatização da TAP vai “em breve” ao Conselho Ministros