A Comissão Europeia reviu em alta as projeções para a economia portuguesa. Vê agora o país crescer este ano 1%, em vez de 0,7%. Ainda assim menos que o Governo que espera um crescimento de 1,3%. Para a inflação a projeção é de 5,4%.

“Apesar da recente descida nos preços grossistas de energia e da melhoria do sentimento económico, a projeção de crescimento para o primeiro trimestre mantém-se fraco com os consumidores e empresas a enfrentarem incertezas sobre os custos de energia no inverno”, explica a comissão europeia que não vê recessão no horizonte da Zona Euro, tal como evitou a contração no quarto trimestre que nas projeções de outono era admitida. Bruxelas acredita que a economia portuguesa na segunda metade do ano vai melhorar permitindo que em 2024 atinja um crescimento de 1,8%.

Projeções de inverno de Bruxelas para Portugal

Portugal crescerá assim mais que a Zona Euro e a União Europeia, que terão um crescimento de 0,9% e 0,8% respetivamente, uma melhoria face às projeções de outono que apontavam para crescimentos de 0,3% em ambas as regiões. Com um crescimento superior ao português estarão Irlanda (4,9%), Grécia (1,2%), Espanha (1,4%), Croácia (1,2%), Chipre (1,6%), Luxemburgo (1,7%), Malta (3,1%) e Eslováquia (1,5%).

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Para a Alemanha, Bruxelas projeta um crescimento de 0,2%. E, assim, de acordo com Bruxelas as duas regiões (Zona Euro e União Europeia) deverão conseguir à justa evitar a recessão técnica que foi sendo antecipada, registando-se também diminuição das projeções para a inflação quer em 2023 quer em 2024.

Em 2024, Portugal voltará a crescer acima da Zona Euro, já que para esta região Bruxelas projeta um crescimento de 1,5% enquanto para Portugal a projeção aponta para 1,8%.

Fonte: Comissão Europeia

Para Bruxelas, os ventos continuam, no entanto, fortes, com os consumidores e empresas a enfrentarem, ainda, fortes preços de energia e da inflação subjacente (sem energia e produtos agrícolas). “Três meses consecutivos de moderação da inflação subjacente sugere que o pico já estará para trás. Depois de atingir o recorde de todos os tempos nos 10,6% em outubro, a inflação diminuiu com a estimativa rápida de janeiro a apontar para 8,5% da Zona Euro, um declínio que resultou da queda na energia, mas a inflação subjacente ainda não atingiu o seu pico”, salienta Bruxelas, nas projeções de inverno reveladas esta segunda-feira, 13 de fevereiro.

Em Portugal o pico da inflação também deverá ter sido atingido no quarto trimestre de 2022. “A inflação deve descer um pouco mais no período de projeção em linha com a correção nos preços grossistas da energia e com a evolução nos mercados das matérias-primas”. As fortes chuvas na Península Ibérica nos últimos meses também deverão ajudar no caminho de  desinflacionar os preços, quer na energia, quer na alimentação, “revertendo, parcialmente, os efeitos negativos da seca severa que atingiu o país”. O aumento nas reservas de água também parecem contribuir “para uma queda significativa nos preços grossistas de energia no mercado ibérico”. No entanto, acrescenta Bruxelas, “as pressões sobre os salários devem manter os níveis de preços nos serviços e da inflação subjacente elevados”.

“O mecanismo ibérico provou ser um contributo útil. A propósito, algumas situações específicas portuguesas também contribuíram para reduzir a inflação, em particular o aumento das reservas de água”, salientou na conferência de imprensa Paolo Gentiloni, comissário para a Economia, acrescentando que a diferença entre as projeções de Portugal e de Bruxelas têm a ver com o momento da recolha de dados. “A explicação tem a ver com a recolha de dados. A nossa projeção tem em conta dados do quarto trimestre e para a inflação tem mostrado descida gradual”.

António Costa, primeiro-ministro, já comentou no Twitter estas projeções, saudando a melhoria. Mas voltando ao resultado entre as projeções e que acontece no fim. Tal como já tinha dito que o Governo está a dar 7-0 ao FMI, o primeiro-ministro diz agora, em relação à Comissão Europeia, que “o histórico de previsões dá-nos confiança de que os resultados serão melhores do que agora previstos (em média a Comissão Europeia nos últimos seis anos subestimou o crescimento do PIB em 1,1 pontos percentuais).”

À chegada ao Eurogrupo, Fernando Medina, ministro das Finanças, salienta que as projeções “reafirmam sinal de confiança, afastam os riscos de uma recessão na Europa e no nosso país e isso é um sinal de grande importância”. São, por isso, no seu entender “sinais positivos”. Crescimento mais alto, inflação mais baixa e risco de recessão afastado e isso “são sinais de confiança para continuarmos a avançar”. O facto de o Governo ter uma projeção de crescimento acima da de Bruxelas, Fernando Medina desvaloriza: “as diferenças explicam-se pelas fórmulas de cálculo”, disse, num tom diferente do de António Costa. O ministro das Finanças preferiu salientar que as projeções de inverno de Bruxelas são melhores do que as anteriores (as de outono) e que “todas as projeções [das várias instituições] dão um crescimento em terreno positivo. É de grande importância”, até porque em 2022 Portugal teve das taxas de crescimento mais altas em “muitos anos” e o crescimento de 2023 acontecerá em cima de uma “base elevada”.

Paolo Gentiloni, comissário para a Economia, assumiu, na conferência de imprensa sobre as projeções, não esperar mais cisnes negros, já houve muitos eventos excecionais, realçou. “A economia da União Europeia entra numa situação mais saudável do que o esperado”, reforçou.

Recuperação total da perda de poder de compra não acontecerá antes de 2024

No relatório global, sobre toda a UE e não apenas focado em Portugal, Bruxelas mantém a convicção de que a “recuperação total da perda de poder de compra continua a parecer improvável ao longo do horizonte de projeção”, até ao final de 2024, como destaca o Negócios na edição desta terça-feira. Mas, sublinha a Comissão, os salários reais devem começar a recuperar já na segunda metade de 2023.

Depois de, no ano passado, os salários nominais terem crescido abaixo da inflação na UE, ditando perdas no poder de compra, para este ano Bruxelas vê um crescimento salarial até mais forte do que antes da Covid-19. “É esperado que o crescimento dos salários nominais seja mais forte do que nos anos antes da pandemia”, lê-se no relatório.

É que, nota Bruxelas, há “pressões” para a subida dos salários, como o aumento dos salários mínimos em vários Estados-membros e a rigidez dos mercados de trabalho, assim como “os esforços crescentes para compensar a inflação”. Além disso, muitos salários ainda refletem acordos firmados antes da aceleração da inflação em 2022, o que sugere um “atraso” da transmissão da subida dos preços nos ordenados. Ainda assim, os salários devem começar a recuperar das perdas no final de 2023.