Siga aqui o liveblog sobre a guerra na Ucrânia

É  um cenário “caótico” aquele que se observa no campo de batalha em que se transformou Vuhledar, em Donetsk, no leste da Ucrânia: tanques russos capotados, a arder, homens a correr em várias direções, alguns dos quais em chamas, corpos de soldados pelo chão. A descrição é feita pela CNN Internacional, com base na análise de imagens captadas por drones nas últimas duas semanas, que estão a ser divulgadas pelas forças militares ucranianas. As críticas quanto à tática militar da Rússia no terreno crescem de tom, mesmo entre bloggers militares pró-russos.

Ao longo das últimas semanas, Vuhledar tem sido um alvo constante nos objetivos militares de Moscovo, mas sem sucesso. Segundo a CNN, que teve acesso a cerca de 20 vídeos e contou com a análise de peritos militares, o cenário que se observa sugere “falhas crónicas” no comando russo, que tem revelado “erros táticos básicos”. Um dos vídeos mostra um tanque a dirigir-se para um campo minado e a explodir. Segue-se um veículo de combate, que acaba por ter o mesmo destino. Noutras imagens, drones lançam explosivos sobre tanques russos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A dificultar a operação russa está a própria orografia do terreno. Nas palavras do historiador militar Tom Cooper, que tem estudado a batalha de Vuhledar, a cidade é uma “fortaleza grande e alta no meio de um deserto vazio e plano”. As forças ucranianas estão a tirar partido disso mesmo, e a manter-se em pontos mais altos, com melhor visibilidade sobre as forças russas. Os campos com minas também agravam as baixas russas.

Mais baratos, mais pequenos, capazes de destruir. Como os drones civis estão a “mudar” a guerra na Ucrânia

O The Telegraph escreve que um ataque com sistemas Himars destruiu o coração de um batalhão separatista perto de Vuhledar, que terá provocado a morte de pelo menos um oficial russo. Segundo o jornal, que cita Oleksiy Dmytrashkivskyi, porta-voz das forças ucranianas para o distrito de Tavriskiy, o batalhão já perdeu 5.000 militares nas várias tentativas para conquistar a cidade. O Politico indica mesmo que a Rússia pode ter perdido toda a brigada no ataque.

Mas o Ministério da Defesa russo mantém que o ataque está a decorrer de acordo com o planeado. A mesma ideia foi transmitida pelo próprio Presidente russo, Vladimir Putin, no domingo. “A infantaria está a funcionar como deveria. Neste momento. A lutar heroicamente”, disse, citado pela CNN.

Já o líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, assume que a área está “quente” e que o inimigo “continua a transferir reservas em largas quantidades”, o que tem “abrandado” a operação da Rússia. A cidade mineira é um ponto estratégico para a Rússia, nomeadamente por estar perto de uma estrada que liga Donetsk à Crimeia.

Segundo o historiador Tom Cooper, a Rússia estabeleceu uma força em torno de Vuhledar, com “cerca de 20.000 soldados”, mas os ataques que lançou no final de janeiro saíram falhados. “A artilharia ucraniana não só causou grandes perdas às unidades que avançam como também atingiu a sua retaguarda, cortando tanto as suas ligações para abastecimento como as suas possíveis rotas de retirada”, diz.

A estratégia russa em Vuhledar — que quer dizer “presente de carvão”— tem sido criticada, mesmo por bloggers militares pró-russos. “Foram abatidos como perus num campo de tiro”, afirmou o ex-ministro da Defesa da República Popular de Donetsk, Igor Strelkov, citado pela CNN. Strelkov, que teve um papel crucial na anexação da Crimeia em 2014, organizando depois os grupos separatistas da República Popular de Donetsk, acrescentou no Telegrama que muitos tanques e os “melhores” páraquedistas e fuzileiros  foram “liquidados”.

“Só os idiotas atacam de frente no mesmo local, fortemente fortificado e extremamente inconveniente para os ataques durante muitos meses seguidos”, indica. Outros comentadores russos têm pedido a demissão do tenente-general Rustam Muradov, que comanda as forças no leste e já foi alvo de críticas por, sob o seu comando, as tropas terem sofrido duras perdas.

Mas as falhas na chefia não contam a história toda, segundo o think tank norte-americano Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla original), que atribui a responsabilidade, mais do que às debilidades no comando, ao facto de os militares mobilizados estarem “mal treinados”.

O mesmo foi referido pelo Ministério da Defesa do Reino Unido: o elevado número de baixas “deve-se provavelmente a vários fatores incluindo falta de pessoal treinado, coordenação e recursos na frente [de batalha]”. A 155.ª Divisão de Infantaria da Rússia que agora se foca na conquista de Vuhledar foi a mesma que esteve em Irpin e em Bucha e já terá precisado de ser reforçada várias vezes desde o início da guerra.